Um terremoto ainda assusta a região de Nápoles, em Campos Flégreos, área extensa e populosa — há vários municípios — sob a qual existe um supervulcão formado por quarenta vulcões, a cuja atividade subterrânea se relacionam os tremores de terra.
A agitação sísmica vem se intensificando nos últimos anos, o que pode ser prenúncio de uma grande erupção nesta zona que é toda vulcânica. A poucos quilômetros dela, está o Vesúvio, que transformou em cinzas Pompéia e Herculano na Antiguidade, e aos pés do qual estende-se a cidade de Nápoles propriamente dita.
O nome de Campos Flégreos é proveniente do equivalente grego “campos em chamas”, em etimologia que é, ao mesmo tempo, constatação e prenúncio.
Napolitanos e vizinhos estão sentados, portanto, sobre a boca do inferno, e foi o poeta romano Virgílio que, na Eneida, localizou-a ali, na cratera que dormita no fundo do lago de Averno, por onde o herói Eneias entrou para visitar o reino dos mortos e deparar-se com os fantasmas que nos afligem e contra os quais não adiantava ele desembainhar a espada: o Remorso, o Pranto, as Doenças, a Velhice, o Medo, a Fome.
Há cerca de quarenta mil anos, os Campos Flégreos foram o cenário da maior erupção já ocorrida no continente europeu, nos conta a geologia. Em tempos mais recentes, ao longo de seis dias do ano de 1538, uma erupção ergueu uma colina de 133 metros, o Monte Nuovo.
Na nossa ilusão pueril, tendemos a acreditar que o passado abriga acontecimentos irrepetíveis, naturais e humanos, como se Terra e espécie obedecessem, nas suas respectivas evoluções, a progressos lineares que parecem casados nos seus passos — e, assim, continuamos a viver à sombra de vulcões ativos e sobre imensas falhas tectônicas, enquanto assistimos ao National Geographic; e, assim, continuamos a viver ao lado de monstros dos quais não acreditamos na monstruosidade.
Ilusão pueril, eu disse, porque nem a indiferença da natureza pelo nosso destino, nem a ferocidade dos homens estão sepultados, inermes. Eles são vulcão subterrâneo, como o dos Campos Flégreos. A geologia e a arqueologia não nos falam do passado, mas do presente. Nápoles treme de medo do seu supervulcão; eu tremo de medo de nós.