Empresa é suspeita de ocultar defeitos em pneus que causaram acidentes

Os representantes legais de duas entidades da multinacional americana, a distribuidora SAS Goodyear France e a SAS Goodyear Operations, que produziu os pneus incriminados e cuja sede fica em Luxemburgo, serão ouvidos pelo juiz de instrução Marc Monnier nesta terça (13/5) e quarta-feiras (14/5), de acordo com uma fonte próxima ao caso.

O magistrado decidirá se vai indiciar a empresa por “homicídio culposo”, “falsidade ideológica quanto às qualidades substanciais das mercadorias” e “práticas comerciais enganosas”, conforme anunciado em abril passado pelo promotor de Besançon, Etienne Manteaux.

As duas últimas acusações sujeitariam o terceiro maior fabricante de pneus do mundo a “uma multa máxima de até 10% do seu faturamento”, de acordo com o promotor do caso.

Pneus continuam no mercado

A investigação diz respeito a três colisões fatais envolvendo veículos pesados ​​de mercadorias equipados com pneus Goodyear em três departamentos da França, Somme, Doubs e Yvelines, em 2014 e 2016, que resultaram em quatro mortes no total.

Os casos levaram os investigadores a realizarem buscas em maio de 2024 na Goodyear na França, em Luxemburgo e na sede europeia da empresa em Bruxelas.

Segundo a investigação, os acidentes foram causados ​​pelo estouro do pneu dianteiro esquerdo dos caminhões, fazendo com que os motoristas perdessem o controle do veículo. Em cada um desses casos, diferentes especialistas concluíram que o estouro dos pneus Goodyear Marathon LHS II ou Marathon LHS II+ não foi devido a uma causa externa, mas a um defeito de fabricação.

A empresa americana é acusada de ter conhecimento do defeito nos dois modelos, no entanto, não ter avisado seus clientes. Desde 2013, a Goodyear implementa “programas de troca voluntária”, que lhe permitiram recuperar aproximadamente 50% dos equipamentos incriminados.

No entanto, o grupo não realizou um recall “obrigatório” dos pneus afetados, alguns dos quais continuam disponíveis em sites de vendas de pneus usados ​​no leste europeu, conforme o promotor.

“Ocultação”

O Ministério Público francês apontou para uma “prática sistêmica de ocultação” que visa evitar “uma perda de confiança entre os consumidores”. Os acidentes “talvez” pudessem ter sido evitados se a empresa tivesse iniciado um programa de recall, segundo o órgão.

Os autos de outras quatro colisões semelhantes ocorridas entre 2011 e 2014 em outros três departamentos da França, nas quais três pessoas morreram, também foram submetidos à investigação para fins informativos, pois os fatos estavam prescritos.

Mas tragédias não afetaram apenas a França. “Acredito que houve acidentes em toda a Europa”, disse Manteaux, acrescentando que recebeu “várias mensagens de interesse” de diferentes países.

Os elementos coletados como parte da investigação na França devem ser levados ao conhecimento de outros países europeus, segundo o MP.

A luta da viúva de um motorista

A investigação foi aberta em 2016 em Besançon depois que Sophie Rollet, viúva de Jean-Paul Rollet, um motorista de caminhão de 53 anos que morreu em julho de 2014 em um acidente em uma rodovia, apresentou uma queixa.

Rejeitando a hipótese de uma fatalidade e o arquivamento do caso, a ex-babá e mãe de três filhos conduziu sua própria investigação na internet, registrando acidentes com veículos pesados ​​de carga para demonstrar a responsabilidade da multinacional americana.

Depois de ler artigos da imprensa internacional e entrevistar as famílias de várias vítimas, Sophie rapidamente identificou uma ligação preocupante entre vários acidentes: todos os veículos envolvidos estavam equipados com pneus Goodyear.

Dez anos depois do acidente, Sophie Rollet conseguiu que a Justiça francesa realizasse uma investigação sobre o caso, aberta em maio de 2024.

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