Santa Catarina lidera produção e exportação de carne suína no Brasil

Santa Catarina lidera produção e exportação de carne suína no Brasil

Santa Catarina lidera produção e exportação de carne suína no Brasil – Foto: Divulgação

Santa Catarina é o estado que mais produz e exporta carne suína no Brasil. Sozinho, responde por mais da metade da produção nacional, com destaque para a região Oeste, que concentra os maiores plantéis, os principais frigoríficos e uma das cadeias produtivas mais organizadas do país.

Em 2024, foram exportadas cerca de 720 mil toneladas de carne suína, com destino a mercados exigentes como Japão, China, México e Filipinas. A força do setor não está apenas nos números, mas no modelo produtivo.

O sistema cooperativista, o investimento em tecnologia, a profissionalização das famílias rurais e a rastreabilidade da produção são alguns dos pilares que tornaram a suinocultura catarinense uma referência internacional. E é pelos portos do próprio estado que essa proteína chega ao mundo.

O berço da suinocultura em Santa Catarina

Em Santa Catarina, a suinocultura nasceu como atividade de subsistência e se desenvolveu ao longo de décadas até se tornar motor econômico. Um dos marcos dessa transformação está em Concórdia, cidade com pouco mais de 80 mil habitantes e a terceira maior economia do Oeste catarinense.

Berço da suinocultura no estado, o município é responsável pela quinta maior produção de suínos do Brasil. A atividade representa 54% da movimentação financeira do setor agropecuário local. Ali também está a origem de uma das principais agroindústrias da América Latina, fundada nos anos 1940 por Atílio Fontana.

A história do empresário, político e empreendedor é preservada em um memorial instalado no centro da cidade. Para quem acompanhou de perto sua trajetória, ele foi mais do que um industrial visionário.

“Ele foi pioneiro, sem dúvidas nenhuma. Teve uma visão extraordinária de crescimento e investimento”, lembra Nelson Bonissoni, ex-diretor da empresa de Atílio.

O impacto da suinocultura na economia regional é amplo: movimenta o campo, mas também serviços urbanos como borracharias, restaurantes, hotéis e transportadoras. É uma cadeia que integra campo, indústria, comércio e conhecimento técnico.

Tecnologia no campo e pesquisa genética

A criação de suínos hoje envolve segurança sanitária, biosseguridade, bem-estar animal e controle rigoroso em todas as etapas. Em propriedades rurais como a da família Piovesan, no interior de Concórdia, é um robô que alimenta os animais, fornecendo a quantidade necessária ao som de música clássica.

A granja da família ocupa 104 hectares e trabalha com a fase de terminação dos suínos, ou seja, cuida do plantel até que os animais atinjam o peso ideal para o abate. A estrutura inclui silos de ração, sistemas de climatização, reservatórios de água, bioesterqueiras para aproveitamento de dejetos como adubo, energia solar e um rígido protocolo de biossegurança que exige higienização e troca de roupas antes de acessar os galpões.

A trajetória começou com o pai da família, que criava sete ou oito porcas alimentadas com mandioca e lavagem da roça. Hoje, os filhos tocam a atividade com o suporte da Copérdia e uso de tecnologias avançadas.

A evolução é visível no número de animais por propriedade: se em 2010, 300 ou 400 suínos representavam um grande volume, hoje a média da cooperativa ultrapassa os mil por unidade, chegando a produtores com mais de 4 mil suínos.

Além das propriedades e cooperativas, a base técnica da suinocultura catarinense também é referência. Em Concórdia, a Embrapa mantém o Centro Nacional de Pesquisa de Suínos e Aves (ACCS), que completa 50 anos em 2025. Foi ali que surgiu, há quase três décadas, o suíno light – um animal com menor teor de gordura e maior aproveitamento de carcaça, que ajudou a elevar o padrão da carne suína nacional.

As pesquisas da Embrapa envolvem sanidade, nutrição, biossegurança, imunizantes e melhoramento genético. Hoje, empresas privadas também produzem híbridos, mas foi o centro que deu os primeiros passos rumo à profissionalização genética do plantel nacional.

Outra referência é a central de sêmen mantida pela Associação Catarinense de Criadores de Suínos, também em Concórdia. A estrutura abriga 150 reprodutores e produz cerca de 16 mil doses de sêmen por mês, destinadas a cooperativas, mini integradores e produtores independentes.

“Hoje, aqui na central da ACCS, nós produzimos 16 mil doses de sêmen mensais, que são entregues a mini integradores, cooperativas, produtores independentes e agroindústrias”, explica o médico veterinário Wellington Flamia.

O uso da inseminação artificial ampliou a produtividade e permitiu que até pequenos criadores tivessem acesso a genética de ponta, competindo de forma mais equilibrada com grandes empresas do setor.

Famílias, formação e sucessão no campo

A suinocultura também tem papel central na valorização da mão de obra rural e na permanência das famílias no campo. A rentabilidade da atividade tem permitido investimentos em educação, aquisição de terras, melhoria de infraestrutura e profissionalização.

Na propriedade de Miriam e Cláudio Rovani, quatro galpões abrigam 230 matrizes e uma produção de cerca de 7.300 leitões por ano. Eles trabalham com a fase de reprodução e vendem leitões a cada 21 dias.

A vacinação dos animais e os diagnósticos de prenhez são realizados em parceria com técnicos e empresas especializadas. Adriana Pigosso, extensionista da Copérdia, que acompanha o casal, explica que a assistência é constante e mútua.

Ela destaca que cada melhoria na produtividade – um leitão desmamado a mais, um suíno a mais na creche ou no frigorífico – é fruto de um esforço conjunto entre produtor e assistência técnica.

Miriam resume com orgulho o que a atividade representa: “Tudo o que a gente tem, o pouco que a gente tem, tudo que a gente conquistou foi através dos suínos.”

Mesmo com 85 anos, o patriarca da família Piovesan continua atento ao destino da propriedade, preocupando-se com o futuro. A sucessão está no horizonte de muitas famílias, que desejam que os filhos deem continuidade ao que foi construído.

Mercado, consumo e valorização da carne suína

Santa Catarina é o estado que mais produz e exporta carne suína no Brasil – Foto: Divulgação

Com a profissionalização da cadeia, a carne suína catarinense chega aos mercados e às mesas com controle rigoroso de qualidade. Do frigorífico ao açougue, o serviço de inspeção acompanha todo o trajeto: desde o abate e a manipulação até a exposição do produto nas prateleiras.

A temperatura deve ser mantida em até 7 °C, controle feito várias vezes ao dia nos estabelecimentos. Esse cuidado permite rastrear qualquer problema até a origem, garantindo segurança alimentar e confiança ao consumidor.

Além da fiscalização, a valorização da carne suína passa pelo avanço na genética e nos processos de produção, que resultaram em uma proteína mais leve, magra e com menos gordura.

O nutricionista Jean Paulo da Silva explica que a carne suína tem alto valor biológico: “É uma importante fonte de proteínas, de alto valor biológico. Ou seja, o organismo humano aproveita melhor essas proteínas” – ele também destaca a presença de minerais e vitaminas do complexo B, essenciais para a saúde.

Nos lares, nas feiras e nos restaurantes, a carne suína aparece em diferentes formas: costelinha, medalhão, molho com batatas, espetinhos e até pizza com torresmo. Uma proteína versátil, acessível, cada vez mais valorizada – e, principalmente, segura, que faz do estado um líder em produção e exportação.

Para saber mais sobre a suinocultura catarinense, aproveite e assista na íntegra ao episódio do programa Agro, Saúde e Cooperação. O projeto, desenvolvido pelo Grupo ND, tem parceria com a Ocesc, Aurora, SindArroz Santa Catarina, Sicoob e ADS Drones.

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