Embalagem brasileira inteligente muda de cor para avisar que o peixe estragou

Identificar um peixe estragado pode ser muito simples, o sinal mais óbvio é pelo cheiro. Contudo, deixar que chegue a esse ponto vai empestear a sua geladeira… Mas estamos em 2025 e as inovações continuam chegando. Desta vez, uma tecnologia que pode ser adicionada a embalagens foi desenvolvida por cientistas brasileiros: uma superfície que muda de cor conforme o alimento se deteriora, dando alertas visuais já nos primeiros sinais.

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O sistema usa pigmentos naturais extraídos do repolho roxo e foi criado por pesquisadores da Embrapa Instrumentação (SP), em parceria com a Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) e também com a Universidade de Illinois, em Chicago, nos Estados Unidos (UIC).

Manta de nanofibra inteligente

Funciona mais ou menos assim: a inovação trata-se de empregar uma técnica chamada de “fiação por sopro em solução” para produzir mantas de nanofibras inteligentes usando pigmentos vegetais naturais. São essas mantas que, quando utilizadas nas embalagens, são capazes de monitorar a qualidade dos alimentos em tempo real pela alteração da cor. 


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Essa mudança de pigmentação é desencadeada pela interação química entre os compostos liberados durante a deterioração do peixe e o material na superfície da embalagem. Em testes feitos em laboratórios, a manta mudou de roxo para tons de azul durante o monitoramento do frescor de um  filé de merluza, muito comum na dieta do brasileiro.

Como foi realizado o teste

O teste foi realizado em alguns passos “simples”: 1) a cor roxa indica que o alimento estava apropriado ao consumo; 2) depois de 24 horas, a cor tornou-se menos intensa; 3) 48 horas depois, surgiram tons azul-acinzentados; 4) passadas 72 horas, a coloração azul sinalizou a deterioração do peixe armazenado na embalagem, sem a necessidade de ter que abri-la.

 

A aplicação, contudo, ainda é limitada. Está provado, com o teste, o potencial das mantas no monitoramento do frescor de peixes e frutos do mar, mas os cientistas pontuam que há necessidade de ampliar os estudos para validar a sua aplicação em outros tipos de carne.

Do desenvolvimento à publicação

A técnica de fiação por sopro em solução (ou SBS, do inglês Solution Blow Spinning), foi desenvolvida em 2009 e oferece rapidez no desenvolvimento das nanofibras, que leva apenas duas horas – escalável, versátil e de fácil manejo, além de ser de baixo custo. Na época, a técnica foi descrita pelos autores em artigo no Journal of Applied Polymer Science.

“Os estudos anteriores sobre nanofibras inteligentes contendo antocianinas extraídas de alimentos haviam sido conduzidos exclusivamente usando a técnica de eletrofiação”, conta Josemar Gonçalves de Oliveira Filho, que aparece no vídeo acima e desenvolveu o processo em seu pós-doutorado. Mas a eletrofiação apresenta limitações, baixa escalabilidade, altos custos, baixo rendimento e necessidade de 24 horas para produção.

No estudo mais recente, foram usadas antocianinas e o polímero biocompatível e biodegradável (policaprolactona). As antocianinas são encontradas em plantas, frutas, flores e vegetais, com variadas cores. Elas mudam de cor conforme o pH (grau de acidez ou alcalinidade). Como o repolho roxo é rico da substância, foi escolhido como indicador. 

“Quando combinadas com antocianinas, as nanofibras apresentam uma capacidade notável de monitorar mudanças de pH, detectar a produção de amônia e aminas voláteis, além de identificar o crescimento de bactérias. Esses indicadores são essenciais para sinalizar a deterioração em produtos como peixe e frutos do mar”, detalha o pesquisador da Embrapa Luiz Henrique Capparelli Mattoso, supervisor do estudo e especialista em nanotecnologia.

Os dados da pesquisa foram publicados no artigo “Fast and sustainable production of smart nanofiber mats by solution blow spinning for food quality monitoring: Potential of polycaprolactone and agri-food residue-derived anthocyanins”, na revista Food Chemistry.

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