Passados mais de 6 meses da primeira fase da operação Overclean, o governo Lula (PT) mantém no cargo Rafael Guimarães de Carvalho (foto em destaque), coordenador estadual do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) na Bahia, investigado pela Polícia Federal (PF) por supostos desvios em obras da autarquia.
Guimarães foi alvo de busca e apreensão na primeira fase da investigação em dezembro de 2024. O órgão que está sob seu comando é responsável boa parte dos contratos sob suspeita no esquema que investiga uma organização criminosa envolvida em desvios milionários em estatais, municípios e estados.
Questionado pela coluna, o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) diz que aguarda a conclusão das investigações por parte da Polícia Federal para se manifestar.
Enquanto mantém Rafael Guimarães, alvo da PF, no cargo, o governo Lula demitiu o superintendente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (Codevasf) em Juazeiro (BA).
A demissão de Miled Cussa Filho, noticiada pelo Uol, ocorreu após ele cooperar com a investigação na operação Overclean, a mesma que tem o presidente do Dnocs como um dos alvos.
Informações coletadas pela PF mostram uma movimentação do grupo sob suspeita, entre créditos e débitos, de R$ 1,4 bilhão entre 2018 e 2024.
Rafael Guimarães Carvalho aparece em uma gravação captada pela PF durante as apurações que mostra o receio dos investigados com uma decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), que bloqueou temporariamente o pagamento de emendas.
A conversa é entre Guimarães e o empresário Alex Parente, outro alvo da Overclean que foi preso na primeira fase da operação. Ao lado do irmão, Fabio Parente, e do empresário José Marcos de Moura, conhecido como Rei do Lixo na Bahia, Alex é apontado como líder da organização criminosa investigada.
“Tamo aqui, velho, preocupado, porque recebi uma notícia aí que diz que foi proferida uma decisão do STF, dizendo que nenhum empenho e nenhum pagamento, velho, em emendas [inaudível] até outubro”, disse Rafael na conversa com o empresário sobre a decisão de Dino.
Ele também indica como as emendas são importantes para o DNOCS. Como mostrou a coluna, a filial da autarquia na Bahia se valeu basicamente de emendas para custear as obras de pavimentação investigadas na Overclean.
Somente dos valores pagos até o momento, são ao menos R$ 194 milhões entre 2020 e 2024.
Os irmãos Parente, por exemplo, são donos da Allpha Pavimentações, empresa com mais de R$ 150 milhões em contratos com o DNOCS e que era sempre paga com dinheiro de emendas do relator, o chamado orçamento secreto.
O empresário tenta acalmar o chefe do DNOCS durante a conversa e argumenta que as obras em curso não serão impactadas, uma vez que os valores empenhados serão pagos normalmente.
O áudio reforça a tese dos agentes de que os valores desviados teriam origem nas emendas parlamentares, em especial as transferências que ficaram conhecida como “orçamento secreto” e que estão na mira de Dino, que cobra mais transparência nos gastos.
As gravações também foram um dos elementos utilizados pela PF para pedir busca e apreensão contra o coordenador do DNOCS na Bahia.