Você provavelmente conhece bem o termo sexual wellness, ou bem-estar sexual. Para isso, basta dar uma olhada em lojas de produtos de beleza ou marcas de vibradores favoritas para ver seções inteiras dedicadas ao conceito de autocuidado e autoconhecimento sexual.
Em uma época em que estamos mais preocupados com a saúde do que nunca, estamos expandindo nossa reflexão sobre como cuidar melhor de nós mesmos e realmente nos sentirmos “bem”.
Mas, o que é o sexual wellness? O bem-estar sexual parece abranger desde exames regulares de DSTs e a compra de vibradores até meditações sensuais em áudio e círculos de lua cheia.

Segundo o ginecologista e sexólogo Vitor Maga, o termo termo sexual wellness tem sido cada vez mais utilizado para descrever uma vivência saudável da sexualidade — entendida como a expressão plena da nossa sexualidade com prazer, segurança e autonomia, em qualquer fase da vida.
“As pessoas desejam uma vida sexual que seja livre mas, ao mesmo tempo, consciente, segura e significativa. E o sexual wellness vem justamente para preencher essa necessidade: integrar a sexualidade de forma saudável à vida cotidiana, respeitando a individualidade de cada pessoa”, explica.
Além disso, o médico acrescenta que uma vida sexual saudável é um marcador relevante de saúde global.
“Pessoas que vivem sua sexualidade de forma satisfatória tendem a apresentar mais equilíbrio em outras áreas da vida, como a saúde física, a saúde mental e os relacionamentos. Ou seja, existe uma conexão direta entre o bem-estar sexual e o bem-estar geral.”
Então, basicamente, sentir-se saudável em relação ao sexo, física e mentalmente – mente, corpo e alma – é o que importa. E todos nós abordamos esse tipo de bem-estar de maneiras muito pessoais e particulares.
Como ter uma rotina de sexual wellness?
Para construir uma rotina de bem-estar sexual, o primeiro passo é o autoconhecimento. É preciso diferenciar o que são demandas externas — da sociedade, da cultura, das redes sociais — do que são os reais desejos e necessidades.
“Costumo brincar que a atividade sexual é como um salto de paraquedas: só é divertido porque você sabe que o paraquedas vai abrir no final. Enquanto não se sente seguro, a experiência pode ser tomada por medo e ansiedade. O mesmo vale para o sexo: é preciso se sentir seguro para que o prazer seja possível”, aponta o médico.

Vitor ainda salienta que o desejo sexual e a libido devem ser cuidados sem tabu. “O nosso corpo é a ferramenta por meio da qual vivenciamos o prazer, mas tudo começa na mente: nas nossas fantasias, valores, desejos, fetiches. A sexualidade está diretamente ligada à forma como cuidamos de nós mesmos: nossa saúde mental, nosso sono, alimentação, prática de atividade física, gestão do estresse. Qualidade de vida envolve tudo isso — inclusive o prazer.”
A indústria de sexual wellness
Não é raro que, no capitalismo, o que se torna um movimento ganhe destaque na indústria. Há aplicativos, brinquedos, suplementos para aumentar a libido, meditações, diários, lubrificantes e óleos corporais para ajudar você a atingir seu eu sexual perfeito.
Para André Mendes, head de intimate wellness da Reckitt Health, o crescimento do mercado de sexual wellness é um reflexo direto das transformações culturais que vêm ressignificando a forma como lidamos com o sexo, o corpo e o autocuidado.
Durante a pandemia, esse movimento ganhou força com o confinamento e o aumento da busca por experiências de prazer individuais. “Essa expansão não é apenas quantitativa, mas qualitativa. Com mais mulheres empreendendo e participando ativamente do desenvolvimento de produtos, houve uma virada de chave no mercado: o foco saiu da penetração e da performance para o prazer real e cotidiano, com soluções que respeitam o corpo, o desejo e a intimidade”, comenta.
Além disso, André destaca que investir em sexual wellness é, antes de tudo, reconhecer que o prazer é um direito e uma dimensão essencial da saúde. “A falta de diálogo, educação e acesso a produtos de qualidade cria um ciclo de repressão e desconexão com o próprio corpo. Um exemplo claro é o chamado ‘pleasure gap‘ — ou lacuna do prazer — que escancara a diferença entre os índices de orgasmo entre homens e mulheres.”