Os brasileiros do Chega (por Vinicius Nunes)

Mulher, negra e imigrante. A brasileira que fez questão de ir às comemorações do Chega, partido de extrema-direita que elegeu 58 deputados para a Assembleia da República, é o retrato claro de parcela dos imigrantes que estão em Portugal e defendem, equivocadamente, políticas restritivas para quem vem de fora com o intuito de construir uma nova vida no país.

Em um tom acima do normal, olhando para as câmaras das tevês, ela ressalta que é trabalhadora, que paga seus impostos, como se os demais imigrantes fossem vagabundos e só estivessem em território luso para se aproveitarem de benesses governamentais, como prega o líder do partido radical, André Ventura.

Como a brasileira — negra e imigrante —, muitos conterrâneos dela espalhados por Portugal depositaram nas urnas votos no Chega. Insuflados por mentiras e propagandas de incentivo ao ódio e à xenofobia, esses brasileiros acreditam que são imigrantes de primeira classe, que têm todos os direitos de estar em Portugal, enquanto os demais, sobretudo indianos, nepaleses, bengalis e paquistaneses, devem ser barrados e expulsos do território luso.

Em entrevista ao PÚBLICO Brasil, uma produtora cultural disse que fazia questão de votar nas eleições deste domingo (18/05) por acreditar que Portugal estava livre do fascismo que ela viu crescer no Brasil nos últimos anos e que a apavorou. Contudo, muitos brasileiros que vivem em terras portuguesas têm batido no peito e falado, em alto e bom som, que as propostas fascistas e anti-imigração do Chega — endossadas por 23% dos eleitores — são “muito bem-vindas”.

Não são apenas brasileiros que vivem em Portugal que apoiam o partido de André Ventura. Nas eleições de 2024, o Chega teve a maioria dos votos dos portugueses que moram no Brasil, a ponto de eleger um deputado no círculo fora da Europa. E, muito provavelmente, não será diferente neste ano — os resultados serão conhecidos nos próximos dias. Isso só confirma o quanto a indústria das fake news administrada pela extrema-direita é eficiente e está disseminada.

Portugal, onde se imaginava haver um cordão sanitário para barrar o extremismo de direita, está flertando com o perigo. E, ressalte-se, parte dos brasileiros, que formam a maior comunidade de imigrantes do país, tem contribuído para esse movimento perigoso, ao propagandearem mentiras.

Recentemente, um português açougueiro me disse que as principais fontes de informação dele eram grupos de WhatsApp administrados por cidadãos do Brasil, em que o discurso majoritário era sobre como “a esquerda estava destruindo Portugal ao defender a imigração”.

Impor regras para a imigração é do jogo, assim como integrar os imigrantes à sociedade em que vivem. Mas transformá-los em bandidos como arma eleitoral é inaceitável. E, pior, dá votos.

 

 

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