Madri – Na contramão da paranoia anti-imigrante que domina boa parte da Europa, o governo socialista de Pedro Sánchez quer legalizar até 500 mil imigrantes sem documentos que chegaram à Espanha até 31 de dezembro de 2024.
A medida é a maior em 20 anos e bate de frente com o endurecimento de políticas migratórias em países como Portugal, Itália e Reino Unido.
A proposta, que tramita no Parlamento, cria uma autorização extraordinária para regularizar quem vive há anos na clandestinidade, mas impõe filtros: ficam de fora os que têm antecedentes criminais ou abandonaram pedidos de asilo.
Mesmo assim, é uma guinada histórica e ousada num continente cada vez mais entregue à extrema-direita e ao discurso de exclusão.
Governo age após pressão popular
A regularização não saiu do nada: nasceu de uma Iniciativa Legislativa Popular, com 700 mil assinaturas e apoio de quase 900 organizações sociais e religiosas.
Aprovada em abril de 2024 por todos os partidos — com exceção do ultranacionalista Vox —, a proposta passou um ano engavetada até ser retomada diante da pressão crescente da sociedade civil.
Agora, a urgência é política. Com a ascensão de discursos xenófobos alimentados por vizinhos europeus, Pedro Sánchez tenta aprovar o texto antes que a maré conservadora avance ainda mais pelo continente. Enquanto isso, partidos como o PP ensaiam traições e recuos, de olho no eleitorado mais reacionário.
Economia forte graças à imigração
Não é coincidência que a Espanha esteja colhendo os frutos de uma política de braços abertos. Em 2024, o país liderou o crescimento econômico entre 37 nações analisadas pela revista The Economist, com PIB em alta de quase 3%. E o motor disso? Imigração.
Segundo a publicação, a entrada de trabalhadores estrangeiros impulsionou mecanicamente a produtividade e sustentou um mercado de trabalho dinâmico, algo que países com políticas restritivas parecem não entender — ou não querem entender.
Um modelo de resistência na Europa
A proposta de Pedro Sánchez não é apenas uma política de governo. É uma afirmação civilizatória diante da escalada autoritária na Europa. “A Espanha precisa escolher entre ser um país aberto e próspero ou um país fechado e pobre”, disse o premiê em discurso no Parlamento em outubro de 2024. E completou, com simplicidade brutal: “É simples assim.”
A iniciativa espanhola é um contraponto direto ao retrocesso em curso em países como Reino Unido, onde a política de deportações em massa se tornou rotina, ou Itália, onde o governo de extrema-direita trata refugiados como ameaça. Enquanto eles constroem muros, a Espanha constrói pontes.