Brasília – Flávio Dino, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), escancarou nesta quinta-feira (22 de maio) o nível alarmante de violência política ao ler, em plenário, uma mensagem ofensiva recebida pela ouvidoria do tribunal.
O ataque, recheado de xingamentos e ameaças, incluiu a pérola “rocambole do inferno” e serviu de alerta sobre o crescimento do discurso de ódio nas instituições.
Dino ironiza insulto e denuncia o avanço do ódio político
Durante o julgamento sobre cargos nos tribunais de contas de São Paulo e Goiás, Flávio Dino interrompeu seu voto para compartilhar uma mensagem anônima enviada pela ouvidoria do STF. A mensagem, sem qualquer identificação, misturava agressões pessoais, desinformação histórica e ameaças físicas.
O autor do comentário acusava Dino de crimes sem fundamento, citava nomes como Dilma Rousseff, Gilberto Gil e Caetano Veloso em tom conspiratório, e encerrava o texto desejando que o ministro “apanhasse até perder os dentes”. Em resposta, Dino leu o texto na íntegra, classificando o teor como parte de um “tempo de ódios e desvarios”.
“Você é meu rocambole, não do inferno”, diz Dino, citando a esposa
Com ironia, o ministro brincou com a criatividade do insulto. “Achei até poético. Vou perguntar para minha esposa o que ela acha e ela vai dizer: ‘Você é meu rocambole, não do inferno’”, disse Dino, arrancando risos discretos no plenário.
Mas o tom mudou rapidamente. O ministro usou o momento para refletir sobre como o discurso de ódio nas redes sociais tem ganhado forma concreta na sociedade e no sistema político. “As caixas de comentários se tornam materialidade quando atravessam mentes e viram ação. Isso precisa ser levado em conta ao julgar”, afirmou.
Discurso de ódio não é liberdade de expressão
A fala de Flávio Dino reforça um alerta cada vez mais urgente: o uso das plataformas digitais como armas de ataque, intimidação e deslegitimação institucional. Não se trata de liberdade de expressão, mas de um projeto de violência simbólica e física, alimentado diariamente por bolhas extremistas que agem à margem da democracia.
O episódio também expõe o quanto o STF se tornou alvo sistemático desses ataques, especialmente após decisões contrárias ao bolsonarismo e à tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023. Como ex-ministro da Justiça e atual relator de casos sensíveis, Dino está no epicentro dessas tensões.
No mesmo dia, ameaça de bomba assusta Esplanada
Enquanto Dino lia a mensagem de ódio no plenário, outra situação absurda se desenrolava a poucos metros dali. Uma ameaça de bomba mobilizou a Polícia Militar do Distrito Federal nas imediações do Ministério do Desenvolvimento Social (MDS). Um homem, segundo relatos, teria detonado um artefato e chegou a segurar uma criança durante a negociação com os PMs.
A ocorrência se deu nas proximidades do Bloco A da Esplanada dos Ministérios, região que abriga também os ministérios dos Esportes, dos Direitos Humanos e da Cidadania. O caso ainda está sob investigação, mas evidencia a escalada de tensões no centro do poder.
O Carioca esclarece
Por que isso importa?
O episódio revela como o discurso de ódio ultrapassou o ambiente virtual e ameaça a integridade de ministros e instituições democráticas.
Quem são os envolvidos?
O ministro Flávio Dino, o STF e a ouvidoria da Corte, além de um agressor anônimo ainda não identificado.
Qual o impacto no Brasil e no mundo?
A violência verbal e simbólica contra autoridades mina a credibilidade institucional e normaliza práticas autoritárias.
Como isso afeta a democracia?
O ódio como estratégia política coloca em risco a liberdade de atuação do Judiciário e a convivência democrática no país.