HÁ 20 ANOS – Guerra nas estrelas e os porretes de Deus (Armando Mendes

A manchete de hoje do New York Times (NYT) informa que o presidente republicano George W. Bush pode assinar nas próximas semanas uma diretriz que autoriza a Força Aérea dos EUA a desenvolver armas baseadas em satélites e naves espaciais.

O documento abre as portas para a militarização do espaço. Mas antes mesmo de ter a diretriz, o Pentágono já gasta bilhões na pesquisa de armas que permitiriam aos Estados Unidos atacarem alvos na terra e no mar a partir de naves militares em órbita.

O NYT lista alguns projetos. Um avião espacial, por exemplo, carregaria mísseis armados com meia tonelada de explosivos. Poderia atingir qualquer alvo na superfície do planeta apenas 45 minutos depois de receber a ordem.

São pesquisados também raios laser refletidos por espelhos em órbita, apontados para alvos em terra, e mini-satélites capazes de interferir eletronicamente nos satélites de comunicações inimigos.

Outra apavorante arma espacial em projeto: uma plataforma orbital capaz de disparar para o solo barras de metal ultraduro, como o titânio. As barras não carregam explosivos. Nem precisam: um projétil de cem quilos atingiria um alvo no chão a mais de 11 mil quilômetros por hora. A velocidade lhe emprestaria a energia e o poder de destruição de uma pequena bomba nuclear.

O NYT diz que o Pentágono apelidou esta arma de “porretes de Deus”. Faz todo o sentido. Os Estados Unidos já são, de longe, a nação mais poderosa da história. Querem agora o poder dos deuses do Olimpo e de todas as mitologias: o de lançar raios do céu sobre os mortais pecadores (na opinião deles, é claro).

Amigos e desafetos dos Estados Unidos não aceitarão quietos a ocupação militar da órbita terrestre. O espaço é considerado internacionalmente um bem comum da humanidade, a ser preservado da corrida armamentista (uma expressão da Guerra Fria que Bush está tornando atual outra vez, espanando a poeira).

China, Rússia, União Europeia e meio mundo vão espernear até não poder mais. Mas os falcões de Bush desprezam abertamente o resto do mundo. Tudo o que importa para eles é multiplicar o poderio americano. Vem aí a U.S. Space Force. Não é brincadeira.

Cavoucando na Internet, a gente encontra generais e falcões civis americanos propondo uma nova corporação militar — os marines do espaço.

 

(Publicado aqui em 24 de maio de 2005)

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