
Marina e Márcia, duas gerações de mulheres do campo, empreendedoras que transformam o presente e semeiam o futuro. Foto: Marcio Dantas.
Do campo para o mundo: O empreendedorismo feminino é raiz que fortalece, cresce e dá frutos
Por Hugo Sidney Brandão
Fotos: Márcio Dantas
Coragem. Resiliência. Sensibilidade. Fé. Quatro valores que definem bem a história de superação de uma mulher empreendedora do interior sergipano que, com seu talento e abnegação, mudou a própria história, a da sua família e a de outras mulheres à sua volta. Falamos da agricultora Márcia Néris Santos Santana, de Moita Bonita, a 64 km da capital que, começando com uma pequena roça num povoado da localidade, hoje capitaneia uma iniciativa que produz cerca de duas mil toneladas de batata doce/ano, movimentando algo em torno de R$ 500 mil, gerando 12 postos de trabalho diretos, em sua maioria, familiares residentes no mesmo povoado.
Esse arranjo produtivo no povoado Moita de Cima, envolve praticamente todos os moradores, seja na produção de insumos como adubo orgânico, com diversas variedades produzidas lá mesmo, até a logística de escoamento da produção das espécies roxa e branca da batata doce, exportadas para os estados vizinhos como Bahia, Alagoas e Pernambuco, e estados do Sudeste, como São Paulo e Rio de Janeiro. Esse potencial fez de Moita Bonita a “Capital da Batata Doce”, a partir do projeto de lei complementar 05/2018, aprovado na Assembleia Legislativa.
“Nós já tivemos até encomendas que foram enviadas em caminhões refrigerados para a Argentina. Hoje focamos no aumento da produtividade. Buscamos modernizar e ampliar cada vez mais a produção, utilizando os recursos que temos em nossa terra”, revela Márcia Néris, cujo modelo de gestão inspirador já está sendo exposto nas redes sociais, onde conta com vídeos monetizados em sua conta no Youtube (Márcia Neris_Meu Recanto Feliz), e parcerias com outros empreendimentos comerciais da região, que também lhe rendem dividendos através da sua conta no Instagram ( https://www.instagram.com/marcia_neris_/ ). Ela dá dicas de plantação em pequenos espaços, receitas gastronômicas com a batata doce e fala do seu cotidiano aos milhares de seguidores.
Empoderamento e Criatividade
Até chegar ao patamar atual, Márcia enfrentou diversas dificuldades e sempre buscou o conhecimento como o diferencial. “Tudo mudou quando eu participei de um curso do Sebrae chamado “Aprender a Empreender”. Fiquei surpresa ao conhecer os mecanismos que poderiam fazer com que eu gerisse uma roça de batata doce como uma empresa. A consultora me explicou sobre a necessidade de organização, como conseguir crédito e fazer o negócio crescer através de parcerias. Minha vida se transformou ali”, conta a agricultora.
Desde então, frequentemente, ela participa dos cursos, capacitações e iniciativas promovidas pela instituição, de onde sempre busca algo inovador para aplicar na prática do seu negócio.
As dificuldades até então vivenciadas com o cultivo de mandioca realizado por seu marido, cujo rendimento é substancialmente menor, e o desconhecimento de técnicas e recursos tecnológicos fundamentais ficaram para trás. Ela foi em busca de apoio técnico especializado, obteve linhas de crédito subsidiadas que permitiram a incorporação da irrigação, determinante para avançar na produtividade e qualidade do produto cultivado, bem como a utilização de recursos avançados como a energia solar, que proporcionaram um aumento de performance histórico. “Hoje, nosso povoado vive outro contexto. Todos melhoraram de vida, moram melhor, adquiriram bens e o trabalho árduo é recompensado com a qualidade de vida que conseguimos oferecer às nossas famílias”, descreve, realizada.
Modelo Inspirador
O avanço na produção, a melhoria na qualidade de vida e a transformação de uma mulher tímida da roça numa “persona” nas redes sociais, exerceu um efeito multiplicador que começou na própria família de Márcia, com sua irmã, que também participa, ao lado do seu marido, desse arranjo produtivo e, mais recentemente, da filha caçula de Márcia, Marina, de 20 anos, que já cursava universidade em outra área distinta, e retornou para o trabalho na sua própria localidade. “Com esse trabalho, ela já conseguiu edificar uma casa, tem uma moto nova e já avalia outro curso que consiga conciliar com o que realizamos aqui”, explica a mãe orgulhosa. Dos três filhos, dois atuam diretamente com a mãe no empreendimento. O filho mais velho, de 26 anos e a caçula, de 20 anos. A filha do meio cursa universidade na capital
“Eu vi como minha mãe mudou e conseguiu que toda a minha família mudasse através do trabalho. Ver minha mãe palestrando sobre o que passou na vida é de um orgulho inimaginável. É uma história linda que me mostrou o quanto podemos mudar nossas próprias vidas e a das pessoas em nossa volta”, descreve a jovem Marina Santos Santana, a representante de uma futura geração de mulheres empreendedoras.
Como diz a própria Márcia: “Onde há uma mulher empreendedora, há inovação, progresso e uma nova história sendo escrita”. Como é constatado por quem conhece o trabalho dessa cidadã de Moita Bonita, as mulheres do campo vêm mostrando a sua força, coragem e determinação, cultivando negócios e sonhos que alimentam o futuro.
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