Doze das 27 unidades da federação brasileira têm número maior de beneficiários do Bolsa Família do que de trabalhadores com carteira assinada. A comparação usa dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados em 28 de maio, que excluem o setor público.
Todos os estados com mais beneficiários estão no Nordeste e no Norte do país. São eles: Acre, Amazonas, Pará, Amapá, Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
O cenário, porém, mostra reversão. O número de carteiras assinadas cresce em relação aos beneficiários desde janeiro de 2023, quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu o mandato.
Explosão na pandemia
Antes da pandemia de covid-19, oito estados tinham mais beneficiários que empregos formais. A expansão emergencial dos programas sociais elevou esse número para 13 estados em 2022. Agora, há recuo para 12.
O Maranhão lidera essa dependência: 669 mil empregos formais contra 1,2 milhão de famílias beneficiárias. Ou seja, há quase duas famílias recebendo o Bolsa Família no estado para cada empregado formal.
O estado onde essa proporção é menor é Santa Catarina. Lá, há 11 trabalhadores no mercado formal para cada beneficiário do Bolsa Família.
Redução da dependência
Em janeiro de 2023, os beneficiários representavam 49,6% do emprego formal. Ou seja, quase metade das carteiras assinadas no Brasil. Em agosto de 2024, a proporção caiu para 42,6%.
A mudança resulta de dois movimentos simultâneos: expansão do mercado formal e redução de beneficiários.
Desde janeiro de 2023, 4 milhões de vagas formais foram criadas e 1,1 milhão de beneficiários foram cortados do programa.
O corte concentrou-se na revisão de cadastros de famílias unipessoais, incluídas durante 2022 com suspeitas de irregularidades.
Expansão eleitoral
Em janeiro de 2020, o Brasil registrava 39,6 milhões de trabalhadores formais e 13,2 milhões de beneficiários do Bolsa Família.
No final de 2021, o então presidente Jair Bolsonaro mudou o nome do programa para Auxílio Brasil.
No ano seguinte, seu governo ampliou em 49% o número de beneficiários, com a alta concentrada nos 3 meses anteriores à eleição.
Houve, também em 2022, um aumento provisório no valor do benefício, que chegou a R$ 600. Com a disputa eleitoral, o valor virou permanente.
Em 2023, quando o programa voltou a se chamar Bolsa Família, uma nova ampliação fez o valor médio do benefício atingir R$ 681.
Esse rápido aumento do programa de assistência coincidiu com uma fragilização do trabalho em carteira assinada, com muitos trabalhadores migrando para o mercado informal. Com isso, em janeiro de 2023, para cada dois empregos com carteira assinada, havia um beneficiário do Bolsa Família.
Desde o início do governo Lula, no entanto, há tendência de crescimento do emprego formal e de redução (via pentes-finos) nos benefícios.
Fonte: UOL