Há mais de duas décadas, a Marvel decidiu aceitar que a morte faz parte do fim de um ciclo vital de seus personagens. Tem sido uma maneira honesta de lidar com o público sobre esse assunto e de manter seu heróis em constante movimento. É assim que ela tem renovado constantemente suas propriedades para cada nova geração de leitores e para os veteranos. A morte de um imortal reforça esse conceito, com Thor se despedindo se um capítulo de sua vida ao encerrar sua trajetória em Immortal Thor.
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Atenção para spoilers de Immortal Thor #24!
A morte de Thor vem sendo sugerida desde a primeira edição da atual fase, que começou há dois anos e se encerra no mês que vem, Al Ewing comentou que, se sua passagem por Immortal Hulk foi um revisão da mitologia marvete como o “Velho Testamento do Universo Marvel”, Immortal Thor seria o “Novo Testamento do Universo Marvel”.
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Só começamos a compreender isso quando as tramas trouxeram de volta os primeiros deus, os anciões Utgard, com Utgard-Thor, ou Toranos, o antigo Deus do Trovão, retornando com seus pares após Odinson se rebelar contra seu status de Rei de Asgard para se aventurar novamente por aí — o cara não se aguenta, gosta de confusão, e viver no palácio gerenciando os Nove Mundos é como um guerreiro tentar se acostumar com em um trabalho de firma em uma repartição pública.
Paralelamente, Loki, que aos poucos saiu do status de vilão, passando por anti-herói e até herói, voltou também a ser o Deus da Trapaça. A caracterização de Tom Hiddleston se tornou tão querida e carismática, que sua versão de papel se alinhou a isso. E Ewing sabiamente usou essa trajetória de conversão para conectar a morte de Thor com o conceito que a Marvel vem usando sobre a morte e ressurreição de seus personagens.

Loki, ao voltar à vilania, explica para o meio-irmão que eles nasceram para lidar com suas próprias narrativas, sendo ele o principal manipulador disso. Laufer avisou Odinson que seu destino seria matá-lo, e que isso faz parte de seus destinos.
Na atual fase, os enredos também explicaram isso melhor, com Thor compreendendo que, não importa se é imortal ou muito poderoso quando ele não consegue entender como a narrativa afeta sua divindade. Esse é o maior enigma para sua atual jornada.
Como Thor, mesmo sendo imortal, morre?
Em Thor #24, Thor derrota as hordas dos deuses anciões Utgard e completa o que parece ser seu teste final confrontando um deus chamado Mejed, que também tem seu martelo e é inspirado no em Medjed, da mitologia egípcia. O Deus do Trovão arregaça mais uma vez e divide o oponente ao meio sem tirar a meia.
No entanto, a invencibilidade de Thor termina repentinamente quando Loki o apunhala pela costas com uma flecha feita de Eternidade. Como prometido pelo lema de Immortal Thor, “até um imortal pode morrer”.
A versão antiga de Laufer, Utgard-Loki, sempre esteve manipulando os bastidores. E isso envolve uma trajetória em que Thor, mesmo mais sábio e poderoso que seus inimigos, jamais escapará de seu papel como protagonista de sua história — e devem eventualmente chegar ao fim.

Da mesma forma, Loki sempre será o contraponto de Thor, e se há alguém que poderia reivindicar a vitória definitiva sobre o Deus do Trovão, seria o Deus da Trapaça e das Histórias. Como narrador de toda a história, Loki tem feito alusões à morte iminente de seu meio-irmão o tempo todo, explicando como ele está confinado aos limites de uma narrativa.
No próximo ciclo, em Thor #1, Odinson renascerá como “um homem com um martelo” em um mundo onde Asgard não passa de uma história fictícia.
O que isso significa para mortes e ressurreições na Marvel?
As mortes nos quadrinhos foram exploradas à exaustão como um recurso de narrativa conectada a “reviravoltas chocantes” e continuidade retroativa vazia. Isso causou a “fadiga dos heróis” na década de 1990, quando a fórmula se esgotou.
Depois que o Superman morreu na editora rival, e depois venceu a morte, ninguém mais morreu para sempre nos quadrinhos. E a Marvel começou a rever seu conceito sobre o ciclo da vida de seus personagens como uma forma de alinhá-los com o mundo e cada geração de leitores, sem deixar para trás o núcleo desses ícones.
A melhor maneira de entender o que alguém significa em um cenário e para as pessoas, assim como seu papel no mundo, é deixar essa pessoa ausente por um tempo. Então, as mortes dos heróis passaram a significar um capítulo da vida, parecido com “aniversários”, em que realmente vemos consequências capazes de amadurecer personagens que estão por aí há mais de 60, 80, 100 anos.
Então, as mortes na Marvel têm funcionado como um soft reboot e um marco na trajetória de cada herói. A partir disso, eles mudam de acordo com novas motivações que fazem parte do momento em que os leitores e o mundo vivem. Isso nos dá a sensação que essas figuras de papel realmente vivem com derrotas e vitórias em uma vida em que o tempo ensina.

Brian Michael Bendis, nos anos 2000, já tinha avisado aos leitores que reclamaram das mortes que ele promoveu na Marvel, que eventualmente todos voltariam. Ali ele já adiantou que isso é parte do processo de renovação e revisão dos conceitos das propriedades.
Vários personagens morreram desde os anos 1980, e somente nas duas últimas décadas é que a Marvel passou a executar esse processo de maneira mais interessante. Capitão América, Charles Xavier, Homem de Ferro, Jean Grey, Elektra, Doutor Estranho, Miss Marvel, Johnny Storm, Wolverine e Hulk bateram as botas
Até o Pantera Negra morreu recentemente, e, agora, Thor. Muitos dos personagens que morreram nas duas últimas décadas ainda tiveram esse processo mal executado; contudo, a maioria teve um desenvolvimento emocional e psicológico que realmente amadureceram suas motivações e os reposicionaram em temas e questões mais atuais.
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