Alexandre Ramagem nega fraude e culpa “anotações privadas”

Brasília, Brasil – 9 de junho de 2025 – O deputado federal bolsonarista Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), negou ter provas de fraude nas eleições brasileiras e afirmou que suas declarações anteriores contra as urnas eletrônicas foram apenas “anotações privadas” e “retóricas”.

O depoimento ocorreu nesta segunda-feira (9), no Supremo Tribunal Federal (STF), dentro do processo que investiga a tentativa de golpe liderada por Jair Bolsonaro após as eleições de 2022.

Ramagem é réu em uma das ações penais abertas no âmbito do inquérito do “núcleo golpista”, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes. Durante a audiência, ele negou ter montado uma estrutura paralela de espionagem dentro da Abin e tentou descolar sua imagem das investidas contra o sistema eleitoral brasileiro – ainda que documentos assinados por ele afirmem o contrário.


Ramagem nega crime, mas admite autoria de texto golpista

Interrogado por Moraes, Ramagem iniciou sua fala alegando inocência. “Não há veracidade na imputação de crimes”, disse o deputado, negando ter usado a Abin para fins ilegais. Ele também se esquivou das acusações de ter participado da fabricação de falsas narrativas sobre o funcionamento das urnas.

Contudo, diante da leitura de um documento em que ele próprio afirma “ter certeza” de que houve fraude nas eleições de 2018 — vencidas por Jair Bolsonaro —, Ramagem reconheceu a autoria, mas classificou o texto como uma “anotação privada”. Afirmou ainda que não havia intenção de agir contra o processo eleitoral, apesar de defender, no mesmo documento, a necessidade de “trazer novamente” provas de vulnerabilidade das urnas.

A contradição foi exposta no momento em que Moraes perguntou diretamente se Ramagem possuía algum indício concreto de fraude nas eleições de 2022. A resposta foi curta: “Não. O que eu quero colocar é que eu estava construindo uma mensagem”.


Defesa tenta isolar espionagem da Abin do plano golpista

Um dos principais pontos da acusação é a suspeita de que Ramagem tenha coordenado, de dentro da Abin, uma operação de monitoramento ilegal contra ministros do Supremo, adversários políticos e jornalistas. O objetivo seria municiar o então presidente com informações para sustentar juridicamente uma ruptura institucional.

Ramagem negou que isso tenha ocorrido. Segundo ele, a agência sob sua gestão “não atuava para buscar fraude” e “seguia os protocolos legais”. No entanto, delações e mensagens apreendidas em investigações anteriores apontam que a chamada “Abin paralela” operava à margem da estrutura oficial, com a participação de militares, policiais federais e assessores diretos do Palácio do Planalto.

A defesa tenta agora desassociar essas ações do plano de golpe revelado com mais detalhes pela delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que também prestou depoimento nesta segunda.


Delator confirma que Bolsonaro conhecia minuta do golpe

O depoimento de Mauro Cid foi crucial para o andamento da fase atual do inquérito. Ele confirmou que Jair Bolsonaro teve acesso à minuta do golpe — um documento que previa a decretação de Estado de Sítio e a anulação do resultado das eleições — e discutiu com militares a melhor forma de colocá-la em prática. Cid também mencionou o envolvimento de generais como Braga Netto e Augusto Heleno nas reuniões preparatórias para o golpe.

A estratégia jurídica dos réus, incluindo Ramagem, tenta sustentar que as falas e documentos eram “simulações” ou “ensaios teóricos”, e não planos concretos. A expressão “construção de mensagem”, usada por Ramagem para justificar os textos conspiratórios, tornou-se sintomática dessa linha de defesa.


Agenda do STF mira núcleo duro da tentativa de golpe

O depoimento de Alexandre Ramagem é o segundo de uma série que se estende até o dia 13 de junho e que interroga os principais nomes da conspiração. Além dele, estão na lista os ex-ministros Anderson Torres, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto, além do próprio Bolsonaro. Todos fazem parte do chamado núcleo decisório da tentativa de impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em janeiro de 2023.

A expectativa do STF é que as contradições entre os depoimentos, somadas às delações já homologadas, consolidem o conjunto probatório que levará os acusados a julgamento ainda neste segundo semestre.


O Carioca Esclarece

Ramagem pode ser cassado ou preso?
Sim. Se for condenado por participar de uma organização criminosa ou por abuso de autoridade à frente da Abin, Ramagem pode perder o mandato e pegar pena de prisão. Como o caso tramita no STF, a sentença será definitiva.

O que são essas “anotações privadas” que ele menciona?
São documentos atribuídos ao próprio Ramagem, nos quais ele afirma, por escrito, que houve fraude nas eleições de 2018. Mesmo dizendo que eram textos pessoais, ele os compartilhou em canais ligados ao bolsonarismo, o que desmente a alegada “privacidade”.

O que é a “Abin paralela”?
É o nome dado à estrutura clandestina de espionagem montada dentro da Abin com fins políticos. Segundo as investigações, ela teria sido usada para vigiar ilegalmente autoridades do Judiciário e opositores do governo Bolsonaro, numa operação de Estado contra o Estado.


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