No último dia 6 de junho, a mineira Laysa Peixoto surpreendeu a todos ao anunciar que seria a primeira mulher brasileira a ir ao espaço, membro integrante do voo inaugural da Titans Space – que, segundo o site, pretende fornecer voos privados de turismo espacial.
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Contudo, uma apuração do G1 (www.g1.globo.com) levantou uma série de questionamentos sobre o currículo da jovem – uma pesquisa natural a se fazer, quando se trata do perfil de uma pessoa notável.
O Canaltech buscou respostas e trouxe, além das questões levantadas pelo G1, uma nota de posicionamento de Laysa sobre alguns dos questionamentos que aparecem na matéria.
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Vale observar que, após ser alvo das interrogações, Laysa Peixoto desativou o seu perfil do Linkedin e os comentários no seu Instagram (@astrolaysa) com mais de 150 mil seguidores.
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Quem é Laysa Peixoto?
Sua primeira aparição na imprensa se deu por uma contribuição científica precoce: aos 18 anos, descobriu um asteroide no projeto da NASA. Na época, Laysa Peixoto participava do programa de ciência cidadã do International Astronomical Search Collaboration (IASC).
A jovem identificou o corpo celeste que recebeu a designação provisória LPS 003 (as iniciais do nome de Laysa) e posteriormente foi chamado de 2021 PS59. Ela fez a descoberta no computador de casa, ao participar de uma campanha de ‘caça asteroides’.
Estudante de Física na UFMG (até então) e apaixonada por astronomia desde a infância, ela já acumulava medalhas em olimpíadas científicas nacionais e internacionais, chamando atenção pela dedicação e talento em uma área ainda pouco acessível a jovens brasileiras.
Questionamentos sobre o currículo
Nas redes sociais, Laysa Peixoto afirmou ter diferentes e notáveis formações. No LinkedIn, agora desativado, a jovem apresentava um curso de engenharia que teria sido ministrado pelo Instituto Massachusetts de Tecnologia (MIT), nos Estados Unidos, bem como iniciado o Mestrado de Aplicações Computacionais e Física Quântica, este pela Columbia University.
A Universidade de Columbia afirmou também ao Canaltech não ter registros com o nome de Laysa Peixoto nos arquivos da instituição. Outras questões, porém, nos foram explicadas.
Ainda no perfil, a jovem afirma ter cursado Física na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e que participava ativamente das atividades do Observatório Astronômico da instituição mineira. Em resposta ao Canaltech, o Departamento de Registro e Controle Acadêmico da instituição confirmou que Laysa permaneceu no curso entre 2021 e 2022, mas não fez rematrícula para o segundo período de 2023, sendo desligada no mesmo ano.
Ao detalhar o que parecem lacunas na sua formação acadêmica, Peixoto relatou que ingressou no curso de Física da UFMG e que a matrícula foi feita após o Enem 2020. Os estudos, no entanto, foram iniciados apenas em 2021 devido a pandemia do COVID-19.
Via assessoria, ela detalhou sua saída da instituição:
“Laysa permaneceu na UFMG de 2021 a 2023, quando se transferiu para a Manhattan College (Manhattan University), em Nova Iorque, Estados Unidos”, explicou em nota.
Questionada, Laysa não confirmou se teria cursado a Columbia University (que negou ter registros em seu nome), mas afirmou que os cursos de formação no MIT (Machine Learning, Modeling, and Simulation Principles, em duas partes) foram ministrados online.
NASA nega vínculo com brasileira
Em publicação no Instagram, um post compartilhado por Laysa Peixoto citava aprovação para um curso da NASA em 2022, que seria uma espécie de “treinamento para astronauta”.
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De fato, a jovem fez um curso privado no museu espacial no estado do Alabama. Contudo, o curso não dá aos seus egressos a chancela para atuar como astronautas profissionais.
O comunicado de Laysa confirma.
“Em 2022, Laysa concluiu o curso Advance Space Academy, no Alabama, um treinamento que acontece no Marshall Space Flight Center e U.S. Space and Rocket Center, que contou com a presença do astronauta americano Larry DeLucas na formatura da Expedição 36”.
O Advanced Space Academy, contudo, é um programa intensivo de imersão em carreira aeroespacial. É voltado para adolescentes de 15 a 18 anos e combina aspectos acadêmicos e práticos por cerca de uma semana. Um sonho para jovens da idade dela.
Ao Canaltech, a NASA também negou que Laysa tenha recebido treinamento para ser astronauta pela agência espacial norte-americana e afirmou que ela não está entre o grupo em processo de formação. “Não é funcionária, pesquisadora ou candidata a astronauta”, disse a agência.
Para ser astronauta da NASA, por exemplo, é necessário que os candidatos sejam cidadãos norte-americanos. Eles também devem ter mestrado em alguma área de STEM (sigla em inglês de engenharia, ciências biológicas, físicas, da computação ou matemática) de instituições credenciadas ou cursos de pilotagem de aeronaves reconhecidos nos EUA.
Ainda de acordo com o comunicado, durante sua formação, ela participou do programa NASA L’Space, aberto a jovens estudantes e profissionais da área, com objetivo de aprendizado de propostas tecnológicas para a NASA. Durante o curso, os alunos desenvolvem propostas de projetos de estudo, e o de Laysa Peixoto foi um dos aceitos.
Em um outro post, em 2023 no Instagram, Laysa postou uma foto mostrando o nome do programa. Mas, segundo a nota, “nunca afirmou que trabalhava para à Nasa, mas que liderava equipes no programa L’SPACE”. A participação da jovem no programa L’Space rendeu a ela dois certificados: o de Nasa NPWEE e de Nasa Mission Concept Academy.
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Checagem na Forbes e TEDxSpeaker removido
Em 2023, Laysa foi selecionada para integrar a lista “Forbes Under 30” — da revista Forbes — que destaca jovens com menos de 30 anos que se sobressaem em diversas áreas.
A brasileira foi nomeada na categoria “Ciência & Educação”, aos 20 anos.
Seu perfil na nobre publicação ressalta que sua inspiração é o cientista e astronauta Cody Coleman. O texto menciona ainda que Laysa se tornaria a primeira brasileira a realizar um experimento em gravidade zero, em um voo da NASA (na época) previsto para 2024.
Ao Canaltech, a Forbes Brasil informou que está fazendo uma “rechecagem das informações fornecidas por Laysa Peixoto” e que levaram à inclusão na Forbes Under 30.
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Já em abril de 2024, Laysa participou do projeto TEDx Talks — da organização TED — na edição “TEDxCarioba”, realizada na cidade de Americana (SP). O título da palestra da mineira foi “Como Enviar Astronautas a Marte Salvará a Humanidade?”, e o evento esteve disponível no canal do YouTube do TEDx até esta quarta-feira (11), quando foi removido.
Em pouco mais de oito minutos, a “TEDxSpeaker” destacou a importância da exploração espacial para o futuro da humanidade, mas não mencionou suas qualificações profissionais.
O texto de apresentação do evento no YouTube classificava Laysa como “uma jovem inventora, cientista e piloto brasileira”, além de destacar que, na época, ela passava por um “rigoroso treinamento” para se tornar a primeira mulher brasileira a viajar para o espaço.

Sobre a Titans Space
A Titans Space, empresa que deve levar Laysa Peixoto ao espaço, faz parte do grupo Titans Universe. A companhia tem um site bastante confuso, mas usa a plataforma para divulgar um plano ousado e ambicioso de criar um sistema de transporte espacial capaz de ligar a Terra, a Lua e Marte. Para isso, teria projetos contemplando as seguintes estruturas:
- Spaceplanes: naves espaciais que decolam e pousam como aviões comuns, direto de aeroportos;
- Spaceships: naves maiores que fazem viagens entre a órbita da Terra e destinos mais distantes, como a Lua;
- Estações espaciais modulares: que funcionam como pontos de parada e conexão no espaço, tanto ao redor da Terra quanto da Lua.
Achou pouco? A ideia é construir uma infraestrutura completa e reutilizável, capaz de tornar as viagens espaciais mais rápidas, frequentes e acessíveis — como se fosse uma espécie de “voo comercial” de ponte aérea que leva passageiros para a mesma rota todos os dias.
Ao G1, a Titans Space confirmou que Laysa foi selecionada para uma viagem espacial. Não definiu, porém, se ela participará como astronauta membro da equipe técnica ou turista. Vale notar que, no site, é possível se inscrever para ser um “astronauta inaugural” em 2029.
Ao finalizar o seu comunicado, Laysa Peixoto explica que ela “foi selecionada pela Titan Space para se tornar uma astronauta de carreira, atuando em voos espaciais tripulados para estações espaciais privadas e para futuras missões tripuladas à lua e para Marte”.
Laysa nega qualquer vínculo com a NASA:
“O único vínculo indireto do vôo em relação à NASA, é que será comandado pelo astronauta veterano Bill McArthur”, completa. MacArthur, atualmente, tem 74 anos.

Sobre a ausência do nome de Laysa na lista de astronautas do voo inaugural, justifica:
“No dia 11/06/2025 [data desta publicação], o site da Titan Space se encontra desatualizado, informação confirmada através do representante da Titans Space Neal Lachman, que também confirmou a entrada de Laysa na formação da empresa”, disse.
A Titans Space pretende oferecer viagens por “valores astronômicos” que partem de US$1 milhão. A Administração Federal da Aviação (FAA, na sigla em inglês), órgão norte-americano que regula a indústria de transporte aéreo e espacial no país, disse que a Titans Space ainda não tem autorização para voos espaciais. Ainda dá tempo, é só em 2029.
Este texto contou com a colaboração e apuraçao de Danielle Cassita, Lillian Sibila Dala Costa e João Melo
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