Brasília, 14 de junho de 2025 — A farsa pode estar chegando ao fim. Documentos oficiais, relatos de familiares e lideranças indígenas colocam em xeque a suposta origem indígena da deputada federal Silvia Waiãpi (PL-AP), figura emblemática da bancada bolsonarista no Congresso. O escândalo foi revelado em reportagem do UOL, que escancarou as contradições na trajetória da parlamentar.
A deputada se apresenta nacionalmente como integrante do povo Waiãpi, mas sua própria certidão de nascimento conta uma história bem diferente. O documento oficial, registrado em Macapá, aponta que Silvia nasceu em 1971, fora de qualquer território indígena. Mais curioso ainda: sua carteira de identidade militar, expedida em 1998, apresenta outra data — 1975.
Essa não é a única contradição. A própria mãe da deputada, Edenes Nobre Lopes, apareceu em dois vídeos publicados nas redes sociais afirmando ser sua mãe biológica e negando qualquer origem indígena. “Ela não é Waiãpi. Nunca foi. Eu sou a mãe dela”, declara Edenes, desmontando a narrativa sustentada pela parlamentar.
Enquanto Silvia alega ter sido adotada após um suposto acidente na aldeia, lideranças Waiãpi desmentem com veemência essa versão. “Ela está se aproveitando da nossa história. Conheci a mãe dela e ela não é Waiãpi”, afirma o cacique Patena Waiãpi, uma das vozes mais respeitadas da etnia.
O constrangimento não para por aí. A própria irmã da deputada publicou um texto nas redes sociais acusando Silvia de mentir sobre sua identidade. “Ela enganou o povo amapaense. Nunca foi indígena”, escreveu. Moradores de Macapá, amigos de infância da parlamentar, também relatam nunca terem ouvido qualquer menção sobre adoção ou ligação com aldeias.
Diário Carioca apurou que, apesar de ostentar o sobrenome Waiãpi e se autodeclarar indígena, a deputada construiu sua carreira política ancorada em pautas que atacam os direitos dos povos originários. Durante o governo de Jair Bolsonaro, ela chefiou a Secretaria de Saúde Indígena, além de ocupar cargos no Ministério dos Direitos Humanos. Contradição maior é difícil de encontrar: Silvia é uma das defensoras mais ferrenhas do marco temporal, proposta rejeitada por praticamente todas as lideranças indígenas do país.
O escândalo ganha contornos ainda mais graves quando se observa que Silvia não é novata em polêmicas. Em 2024, teve o mandato cassado pelo TRE do Amapá, acusada de desviar recursos de campanha para financiar um procedimento estético. Apesar da cassação, permanece no cargo graças a um recurso que tramita no TSE.
A vida acadêmica da parlamentar também não escapa das incoerências. Silvia costuma ostentar no currículo uma especialização na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No entanto, a própria instituição confirmou que ela, de fato, se matriculou, mas não concluiu o curso.
O caso escancara mais uma faceta do bolsonarismo: o uso político de identidades, símbolos e causas que, na prática, são ignoradas ou atacadas. Líderes indígenas e movimentos sociais já se articulam para cobrar providências e denunciar o que consideram “fraude identitária”.
Enquanto isso, a deputada mantém silêncio sobre as novas denúncias, mas nas redes sociais seus apoiadores seguem tentando minimizar o caso, classificando-o como perseguição. Uma estratégia já bem conhecida no repertório da extrema direita brasileira.
O Carioca Esclarece: Esta não é a primeira vez que figuras da extrema direita brasileira tentam se apropriar de identidades marginalizadas para ganhar legitimidade política. O fenômeno não é exclusivo do Brasil e já foi registrado em outros países.
Entenda o Caso
Silvia Waiãpi é realmente indígena?
Segundo documentos oficiais, relatos de familiares e lideranças do povo Waiãpi, não. Sua origem indígena é contestada e classificada como falsa.
Ela pode perder o mandato por isso?
Fraude identitária, por si só, não é motivo automático para cassação, mas pode gerar investigações, processos civis e criminais, além de pedidos de perda de mandato.
O que diz o povo Waiãpi?
Lideranças afirmam que Silvia Waiãpi não pertence à etnia, nunca fez parte da comunidade e está utilizando indevidamente a identidade indígena.