“Isso é arte ou retrocesso?” — Capa do novo álbum de Sabrina Carpenter levanta debate sobre misoginia e cultura pop

LOS ANGELES, 14 de junho de 2025 — A cantora norte-americana Sabrina Carpenter, de 26 anos, incendiou a internet ao divulgar a capa do seu novo álbum, “Man’s Best Friend”, no Instagram. A imagem, que mostra a artista de quatro, usando um vestido curto e sendo puxada pelos cabelos por uma figura masculina sem rosto, abriu um racha entre fãs, feministas e críticos culturais — e, claro, reacendeu o eterno debate: até onde vai a liberdade artística quando o tema é a objetificação da mulher?

Sem surpresa, as reações foram explosivas. Parte dos fãs acusa a estrela pop de perpetuar estereótipos machistas e reproduzir símbolos de violência simbólica contra as mulheres. “Isso é perturbador. Por que estamos nos comparando a cães?”, escreveu uma seguidora indignada no post.

Outros foram além, associando a estética da capa à cultura da submissão feminina — justamente em um contexto político global em que os direitos das mulheres estão sob ataque. “A maioria dos fãs dela são mulheres. Isso não é empoderador. É desconfortável, especialmente para quem já sofreu violência doméstica”, criticou outra internauta.

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A organização escocesa Glasgow Women’s Aid, referência no combate à violência de gênero, foi direta: classificou a imagem como “um retrocesso perigoso”. “Retratar-se de quatro, com um homem puxando seu cabelo e se intitular ‘O Melhor Amigo do Homem’ não é subversivo. É perpetuar um imaginário que reduz mulheres a objetos e reforça o controle masculino”, escreveu a entidade no Facebook.

De acordo com a Euronews, as respostas carregam não só indignação estética, mas também o reflexo de uma era em que a chamada “manosfera” — os espaços digitais que promovem a misoginia — ganha força, enquanto governos ultraconservadores pelo mundo tentam corroer direitos das mulheres.

“Isso grita ‘esposa tradicional’ num momento em que estamos lutando pela autonomia dos nossos corpos. É de uma dissonância tão grotesca que só pode ser ou uma provocação intencional ou uma completa falta de noção”, afirmou uma fã em tom revoltado.

Mas nem todo mundo concorda. Uma parte da audiência argumenta que a leitura dominante ignora o contexto artístico e a trajetória da própria Sabrina. “A capa é uma sátira. É sobre como a sociedade vê Sabrina — como uma mulher que existe apenas para agradar o olhar masculino. Isso é uma crítica, não uma apologia”, defendeu uma usuária no X (antigo Twitter).

A jornalista Adrian Horton, do The Guardian, foi além e lançou a pergunta que muitos evitam: “A capa do álbum de Sabrina Carpenter é mesmo tão ofensiva assim?”. Segundo ela, a controvérsia revela mais sobre as limitações do debate atual do que sobre a obra em si. “Apesar de aceitarmos a sexualidade feminina na música pop, ainda não sabemos lidar quando uma mulher controla essa narrativa — especialmente se ela se posiciona de forma ‘submissa’ aos olhos da sociedade”, analisa.

No texto publicado no The Guardian, Horton afirma que Carpenter joga justamente contra a cartilha do empoderamento sexual moderno, que costuma enaltecer mulheres ‘no controle’, ‘no comando’. “O que parece se perder nesse debate é justamente o senso de humor e ironia, algo que Sabrina sempre demonstrou ter em abundância”, completa.

Seja sátira inteligente, provocação estética ou pura insensibilidade, o fato é que Sabrina conseguiu o que poucos artistas conseguem hoje: colocar a internet inteira para discutir não apenas sua música, mas os limites da cultura pop, da misoginia e da liberdade criativa.

E, como diria o eterno Diácono Remédios, talvez… não havia necessidade.


O Carioca Esclarece:
O debate sobre a capa do álbum “Man’s Best Friend” reflete um embate maior entre liberdade artística e responsabilidade social na era das redes.


FAQ

Por que a capa do álbum de Sabrina Carpenter gerou tanta polêmica?
Porque exibe a cantora de quatro, com um homem puxando seu cabelo, o que foi interpretado como uma representação de submissão feminina e violência simbólica, em um contexto de retrocessos nos direitos das mulheres.

A imagem é realmente misógina ou uma crítica?
O debate está dividido. Parte do público vê como uma crítica irônica à objetificação feminina, enquanto outra parte entende como perpetuação de estereótipos machistas.

O que dizem especialistas e entidades sobre o caso?
Organizações como a Glasgow Women’s Aid e veículos como a Euronews associaram a imagem a retrocessos sociais e ao fortalecimento da manosfera, mas há também análises, como no The Guardian, que defendem a interpretação artística e satírica da obra.

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