Bunker, selfie e carnificina: o que políticos brasileiros fazem em Israel em plena guerra

Tel Aviv, 14 de junho de 2025 — Enquanto a Faixa de Gaza segue soterrada sob bombas e o Oriente Médio arde com a escalada da guerra entre Israel e Irã, uma comitiva de 41 autoridades brasileiras — incluindo prefeitos, governadores e secretários — ficou retida em Israel. O motivo? Uma viagem bancada pelo governo israelense, disfarçada de “intercâmbio” para promover tecnologia, segurança e inovação.

O evento se chama Muni Israel e acontece desde 9 de junho, com previsão de encerrar no dia 20. Organizado pela agência israelense de cooperação internacional, Mashav, em parceria com o Consórcio Brasil Central, o encontro é, na prática, parte de uma estratégia de propaganda sionista voltada para países de língua portuguesa — justamente enquanto o mundo denuncia os massacres em Gaza.

O roteiro vendido aos brasileiros incluía jantares, passeios a kibutzim, visitas técnicas e, claro, a famigerada Expo Muni Israel 2025, uma feira que promete soluções para “cidades inteligentes”, mas serve essencialmente como vitrine geopolítica de Tel Aviv.

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Uma publicação compartilhada por Johnny Maycon Cordeiro Ribeiro (@johnnymayconoficial)

Entre os temas debatidos estavam “segurança cidadã”, “resiliência em situações de emergência” e “gestão de cidades em zonas de conflito”. Ironicamente, um dos passeios previstos era à fronteira da Faixa de Gaza — do lado israelense, obviamente — para ouvir sobre “traumas e resiliência”… dos colonos. Nenhuma menção aos milhares de mortos palestinos.

A lista de brasileiros no tour da vergonha inclui o governador de Rondônia, Marcos Rocha, os prefeitos de João Pessoa, Belo Horizonte, Uberlândia, Nova Friburgo, Santarém, a vice-prefeita de Goiânia, além de secretários do governo de Goiás, representantes do Distrito Federal e até a primeira-dama do DF, Mayara Rocha, que, segundo relatos, se antecipou e fugiu às pressas de volta ao Brasil quando um míssil quase caiu no hotel onde estava hospedada.

“Acordamos às 3h da manhã com a sirene. Toca o alarme no celular: Israel atacou o Irã, e a qualquer momento podia haver retaliação”, relatou, em vídeo, o prefeito de Belo Horizonte, Álvaro Damião (União), direto do bunker onde a comitiva segue isolada. “Foi nessas cadeiras que passamos a madrugada.”

O prefeito de Macaé, Welberth Rezende (Cidadania), não escondeu a frustração nas redes sociais: “O Itamaraty simplesmente sumiu. Estamos sem resposta. Estamos decidindo por conta própria se tentamos sair via Jordânia, Egito ou até Chipre, se der”.

Também estão na missão o prefeito de Nova Friburgo, Johnny Maycon, o vereador carioca da comunidade judaica, Flávio Valle (PSD), e o secretário de Ordem Pública de Niterói, Gilson Chagas, além de militares e assessores.

Apesar dos discursos sobre segurança e inovação, na prática, a missão serviu como blindagem diplomática para Israel, que tenta suavizar sua imagem em meio às crescentes denúncias de crimes de guerra. Enquanto isso, os políticos brasileiros postavam selfies sorridentes em eventos e jantares, ignorando o som dos mísseis sobre Gaza e Tel Aviv.

Com o espaço aéreo fechado após os bombardeios entre Israel e Irã, o grupo segue em um hotel adaptado com bunker. O Ministério das Relações Exteriores afirma estar monitorando a situação e negocia rotas de evacuação por terra, já que voos comerciais permanecem suspensos.

Em nota, o Itamaraty recomendou que a comitiva “permaneça no local até que haja segurança para deslocamento”. Na prática, os políticos estão ilhados no epicentro de uma guerra que ajudaram, simbolicamente, a chancelar.

O Diário Carioca apurou que, entre as alternativas discutidas, está uma fuga por via terrestre até Amã, na Jordânia, ou até Cairo, no Egito, além da hipótese de embarcar em navios civis rumo ao Chipre. Nenhuma delas, até agora, se confirmou.

Enquanto isso, mais bombas continuam caindo sobre Gaza, e as sirenes seguem ecoando em Tel Aviv, lembrando que, no Oriente Médio, nem jabá turístico vem sem riscos.

O Carioca Esclarece: Esta viagem foi financiada com recursos do próprio governo israelense. A Mashav, organizadora do evento, tem como missão explícita fortalecer laços diplomáticos e econômicos com países aliados, especialmente em momentos de crise internacional.


O que você precisa saber

1. Por que os políticos brasileiros estão em Israel durante uma guerra?
Eles participavam de um evento chamado Muni Israel, promovido pelo governo israelense, que mistura intercâmbio de gestão pública com propaganda institucional.

2. Quem financiou a viagem?
O próprio governo de Israel, por meio da agência Mashav, que custeou hospedagem, alimentação, traslados e participação no evento.

3. Como eles vão sair de Israel?
O espaço aéreo está fechado por conta da guerra. As opções estudadas são fugir via Jordânia, Egito ou Chipre, por terra ou mar, com apoio do Itamaraty, que até o momento não deu uma solução definitiva.


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