I Wanna Be Tour: sentados (e cansados), amigos discutem como o emo envelheceu

Havia mais coisas no ar do Allianz Parque para além das mãos que levantaram o dedo médio a pedido de Bert McCracken, vocalista do The Used, no festival emo I Wanna Be Tour, carregado de nostalgia. Depois de um sol forte que atingiu o estádio do Palmeiras, a Billboard Brasil procurou amigos espalhados pelo chão que, além do cansaço, carregavam impressões de um dia de música que evocou passados recentes.

“Eu vou ser sincero”, inicia Vitor Lisboa, de 35 anos, amassando um sanduíche para depois lançar uma frase braba. “O emo nem existe mais!”. O amigo Uener Silva, de 30 anos, complementa a ideia. “É bem isso mesmo. Um lugar nostálgico, mantendo esse sentimento gostoso”, diz. A amizade de oito anos foi construída na ponte aérea Espírito Santo – São Paulo e atravessada pela música de Blink 182, Fall Out Boy. “Graças a Deus, o tempo passa! (risos) Eu me emocionei muito com The Used, mas eu gosto de saber que eu não sou mais o mesmo”, diz Vitor que começou no gótico e, hoje, vai de Taylor Swift até Bring Me The Horizon.

“O emo nem existe mais!”, diz Vitor (à esquerda) ao lado do amigo Uener enquanto amassavam um sanduíche no descanso (Yuri de Castro/Billboard Brasil)

Ariane e Carlos, amigos há um ano depois de se conhecerem no Discord, também veem o emo como um gênero que envelheceu deixando as coisas em seu lugar. “Tem muitas bandas que continuam ótimas, algumas mudaram suas rotas. Meu dia aqui foi muito bom”, diz Ariane, estagiária de análise de dados, fã de The Used, comemorando a chance de vê-los pela primeira vez, já que, em 2007, não pôde conferir a banda norte-americana por causa do pai. “Eu meio que fiz uma transição pro kpop porque eu gosto muito de ser fã. Meu hobbie é ser fã. Então, se naquela época, eu era fã do My Chemical Romance, agora eu piro nas coisas que o kpop produz para você ser fã”, completa. “Eu tento entender os gostos dela”, diz o programador Carlos, um pouco mais distante dos fenômenos sul-coreano.

Amigos desde os tempos de hardcore de Capivari, Jeferson e Danilo recostavam em uma pilastra como que aliviados pelo descanso. “Acho que envelheceu bem. Há 20 anos atrás, era uma coisa mal vista. E, agora, virou uma coisa ‘cool’. Mas também virou uma coisa de ‘tiozão’, minhas costas estão doendo pra caralho!”, conta Danilo, do alto de seus 36 anos. Com 40 anos, Jeferson era viciado em Dance of Days. “Marcou muito minha vida, nossa senhora. A gente é do interior, não vinha muito pra cá”, explica. Ambos tiveram bandas nos tempos da adolescência. “A primeira vez que eu vi esse cara eu fiquei meio com medo, ele tinha um jeito meio ‘grunjão’”, brinca Danilo citando o grunge, outro gênero que marcou uma década da música e deixou um rastro de fãs órfãos de um sentimento que, ao que parece, pode ser vivido algumas vezes mais.

 

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