Em rodas pequenas de conversa com auxiliares e amigos de estrita confiança, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, jura por todos os santos que não será candidato a presidente da República em 2026. Quer se reeleger governador.
Mas, e se Lula chegar em 2026 pelo pau do canto, sempre lhe perguntam? E se o cavalo passar encilhado à sua frente? Tarcísio se recusará a montá-lo? Cavalo encilhado não passa duas vezes, ensinam os gaúchos. Bem, nesse caso… Tarcísio nada diz.
O Senhor Jesus, contudo, disse: “Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã; porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6:34). Tarcísio não vive de Bíblia na mão, mas de vez em quando dá uma espiada nela.
Os filhos zero de Bolsonaro só portam um exemplar da Bíblia para fazer figuração. Não precisam dela para desconfiar que Tarcísio, o espertalhão, prepara-se para ser o candidato da direita, de todas as direitas, à sucessão de Lula, e, por ora, eles são contra.
Carlos, o vereador, e Eduardo, o deputado federal, dão sinais de estar profundamente incomodados com o comportamento de Tarcísio, relata, hoje, na Folha de S. Paulo, a coluna de Mônica Bergamo. Tarcísio cultiva amizade com ministros do Supremo Tribunal Federal.
Tarcísio está cada vez mais próximo de investidores da Faria Lima. Tarcísio está de namoro com formadores de opinião do tipo Luciano Huck, da TV Globo. Com uma mão, Tarcísio de fato afaga Bolsonaro; com a outra, será capaz de feri-lo mortalmente.
Mas Bolsonaro não está impedido de concorrer a cargos públicos pelos próximos oito anos? Foi o que decidiu o Tribunal Superior Eleitoral. Ocorre que Bolsonaro não perdeu ainda a esperança de recuperar a elegibilidade, e enquanto isso ninguém deve se mexer.
Ao mexer-se, Tarcísio passa a impressão de que Bolsonaro é carta fora do baralho. Carlos já avisou no seu perfil do X, ex-Twitter:
“Qualquer movimento que exclua a possibilidade de @jairbolsonaro de concorrer à futura disputa eleitoral usando sua imagem do presidente e não for desmentido por nenhum suposto beneficiário, desconfie. Pois fica claro que o único interesse deste é alavancamento pessoal e não de um movimento realista, mas oportunista. Repito, qualquer um. O movimento somente tem a intenção de visivelmente enfraquecer o capitão”.
Eduardo advertiu no Instagram:
“Dois anos antes da eleição e o descondenado [Lula] estava preso e inelegível. Enquanto houver a possibilidade de reverter a inelegibilidade de @jairmessiasbolsonaro, ele é o meu pré-candidato. Não parar, não precipitar, não retroceder”.
Ter Carlos como inimigo não fará bem a quem pretenda candidatar-se a qualquer coisa com o apoio do pai dele. Carlos derrubou pelo menos dois ministros de Bolsonaro logo no início do governo: Gustavo Bebianno e o general Carlos Alberto dos Santos Cruz. Intrigou-os com o pai.
O vice-presidente da República, à época, o general Hamilton Mourão, atual senador pelo Rio Grande do Sul, caiu em desgraça junto a Bolsonaro por obra e graça de Carlos. O Zero Três pôs na cabeça do pai que Mourão conspirava para derrubá-lo.
Carlos e seus irmãos sabem que Tarcísio, a duas semanas do segundo turno, seguro de que se elegeria governador de São Paulo, deu um freio na sua campanha para não atrair mais votos para Bolsonaro. Não queria virar refém dele, caso Bolsonaro derrotasse Lula.
Bolsonaro perdeu por um sopro. Tarcísio venceu com folga. A culpa foi jogada nas costas da deputada federal Carlos Zambelli que, na véspera da eleição, correu de arma na mão pelo bairro dos Jardins, em São Paulo, para prender um negro. Parecia uma doida.