Eleição no México poderá trazer mais impacto aos EUA do que ao Brasil

A eleição de Claudia Sheinbaum para a presidência do México poderá impactar ainda mais a relação do país com os Estados Unidos (EUA). As tratativas com o Brasil, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles, deverão continuar semelhantes aos moldes atuais, estabelecidos pelo atual mandatário mexicano, Andrés Manuel López Obrador, e pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O posicionamento de Sheinbaum é mais de centro-esquerda, enquanto os Estados Unidos poderão dar uma guinada à direita nas eleições presidenciais do fim do ano. “Um ponto sensível para os Estados Unidos é a imigração. Imagino que, a partir de agora, com a definição das eleições mexicanas, as norte-americanas devem engatar mais em discussões sobre isso, considerando a perspectiva da agora nova presidente do México”, apontou Rodrigo Gallo, cientista político e coordenador de Relações Internacionais no Instituto Mauá de Tecnologia.

“Creio que [Joe] Biden poderá engrossar o discurso sobre o tema, inclusive, como forma de minimizar as críticas feitas pela oposição”, explicou Gallo.

Ana Carolina Marson, doutora e professora de relações internacionais na Universidade São Judas Tadeu, citou a possibilidade de vitória do ex-presidente Donald Trump nas urnas norte-americanas. “Ele tem grandes chances de ganhar, porque a população está muito insatisfeita com o Biden e ele vem perdendo eleitores jovens e muçulmanos”, disse.

Para ela, a volta de Trump complicaria ainda mais a relação do país com o México, tanto pelo discurso do ex-presidente sobre a construção de um muro entre os países quanto pelo seu “histórico machista” ao lidar com uma presidente mulher.

Já com o Brasil, Sheinbaum deverá escolher por manter o cenário como está. “A relação com López Obrador era boa para o Brasil, um governo de esquerda ou centro-esquerda. Se ela for se manter mais progressista ou perto das ideias dele, a gente pode esperar poucas mudanças, vamos ter uma certa continuidade e um bom relacionamento entre os dois países”, afirmou Leonardo Paz Neves, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV).


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Mulheres eleitas

A eleição de Sheinbaum , segundo Marson, “é importante, porque na América Latina tivemos países com presidentes mulheres, mas não é algo recorrente. É um movimento importante, ainda mais com o retorno da onda conservadora no mundo todo”.

“Um país culturalmente machista como o México conseguir eleger uma mulher presidente — na verdade, as duas candidatas principais eram mulheres — isso faz com que barreiras sejam quebradas em outros países e sociedades. Começam a ver que mulheres estão chegando ao topo do poder e as coisas estão funcionando como poderiam funcionar e tem chance de ser mais um marco que dá força à luta de igualdade de gênero”, apontou Paz Neves.

Já Gallo propôs que a presidente eleita consiga “um ministério mais plural e diverso. Seria uma importante sinalização, principalmente se considerarmos os índices de feminicídio no México e na América Latina como um todo”.

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