Basta folhear as HQs americanas e os mangás para notar diferenças básicas, como o ritmo das narrativas, as ilustrações destacando emoções de forma exagerada, e, claro, o fato de a orientação de leitura ser invertida em relação aos quadrinhos ocidentais. Já para perceber melhor como os estadunidenses e os asiáticos definem seus super-heróis, é preciso observar com mais profundidade. E Dragon Ball é um híbrido que pode explicar isso muito bem.
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A primeira coisa que é aparente é a maneira como os japoneses definem melhor a escala de poderes de cada personagem. Os inimigos de Goku sempre exigem um passo a mais dele rumo à supremacia em lutas e técnicas, e ele serve como uma referência para estabelecer uma hierarquia mais clara em relação aos heróis da Marvel Comics e a DC Comics.
Outro aspecto fácil de observar é a clássica narrativa japonesa aumentando os detalhes das ações e diminuindo a velocidade da narrativa. Isso ajuda a mostrar melhor todos os aspectos de uma luta, por exemplo, ou as minúcias de expressões faciais e corporais.
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Embora os quadrinhos de super-heróis americanos também sejam violentos e muitas vezes lascivos — algo que vimos com mais frequência no auge da sexualização dos heróis, nos anos 1990 —, os mangá costumam ser mais exagerados e gráficos em relação a sexo em violência. Tanto a sociedade estadunidense quanto a japonesa são bastante conservadoras com relação a esses temas, contudo, os orientais costumam usar mais as produções culturais para explorar desejos reprimidos.

Para completar os diferentes conceitos básicos que estão bem aparentes nas páginas de Dragon Ball e Superman é a linha do tempo finita dos quadrinhos japoneses, com uma passagem de tempo quase sincronizada à vida real. Pode-se notar que nos mangás, vemos todos envelhecendo e mostrando mais maturidade ao longo de suas trajetórias.
Dito isso, podemos usar as explicações do professor Timothy Takemoto, que estuda psicologia cultural e participou recentemente de um evento sobre o tema no site Dragon Ball Official. Para isso, ele usa o alter-ego do primeiro filho de Goku, Gohan, como o Grande Saiyaman, que estreou no capítulo 229 de Dragon Ball Z, em 1993.
O híbrido dos super-heróis americanos e japoneses
Na discussão sobre a identidade do Grande Saiyaman de Gohan, o professor Takemoto diz: “Simplificando, ele representa o Japão moderno”. A começar pelo traje e como ele combina elementos de super-heróis japoneses e americanos. O capacete lembra muito os chapéus de Super Sentai e Ultraman, mas ele também tem uma capa, que é um item básico de heróis americanos como Superman, Batman e Thor, entre outros.
Esse design reflete não apenas as histórias heróicas populares predominantes no Japão da época, mas também incorpora elementos de heróis de quadrinhos ocidentais mais antigos. A mistura resulta em uma fusão que funciona como um recorte de época da “invasão cultural” norte-americana no Japão moderno.

Takemoto também fala sobre como os super-heróis americanos e japoneses apresentam um “eu ideal”, tornando a identidade do super-herói uma “projeção do desejo de escapar da mundanidade do seu eu cotidiano e se transformar em uma versão idealizada de si mesmo”. As limitações de um herói e o desejo de ser mais são pontos comuns entre as produções culturais ocidentais e orientais. Gohan personifica isso tentando manter sua própria identidade, mantendo sua vida pessoal, o perfil heróico e a sua faceta como Super Sayajin.
Há muitas diferenças também nos estilos de transformação e percepções da bússola moral. Os heróis americanos, como o Superman, escondem sua troca de alter-egos e fazem o possível para manter suas identidades secretas, evitando a atenção do público ao se tornarem heróis.
Ao contrário, heróis japoneses como Sailor Moon se transformam publicamente e chamam a atenção para si nas histórias. Embora não sirva para ocultar bem a identidade, isso destaca uma grande diferença cultural na narrativa de super-heróis e na autopercepção. O Grande Saiyaman esconde-se, empregando uma tradição de super-herói americano para manter seu perfil “low profile”.
Heróis japoneses e americanos
Takemoto chama atenção para o fato de o Japão ter uma bússola moral “mais flexível” em comparação com os Estados Unidos. Os super-heróis ocidentais frequentemente empregam uma dicotomia entre o bem e o mal que define e limita a maioria das histórias de heróis. Há algumas exceções, porém, como no caso de anti-heróis ou vilões que trocam de lado, a exemplo de Arlequina.
Ao contrário, os heróis japoneses frequentemente enfrentam inimigos que oscilam entre o bem e o mal, tendo a opção de se tornarem aliados. Isso é notável no caso de Vegeta de Dragon Ball Z, que começou sua história como um vilão antes de eventualmente se tornar o principal rival de Goku e um grande aliado.

O uso do Grande Saiyaman por Gohan faz parte de uma narrativa cômica e crítica. Suas poses grandiosas remetem ao estilo espalhafatoso dos super-heróis japoneses, pois chamam mais atenção para ele em ambientes públicos — o que acontece de certa forma com alguns vilões cafonas do grupo Secret Six da DC e com os inimigos do Homem-Aranha na Marvel.
Para Takemoto, o “eu japonês” de Gohan e seu alter-herói de estilo ocidental são uma combinação de culturas; um reflexo da maneira como o Japão está sendo cada vez mais influenciado pelos super-heróis americanos. E, em última análise, o Grande Saiyaman de Dragon Ball Z, de certa forma, “está satirizando o povo japonês moderno que assumiu muitas características ocidentais e, portanto, está perdendo sua autoimagem original”.
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Polêmicas à parte, certo é tanto os artistas americanos (o que nos inclui também) quanto os autores orientais vêm se influenciando desde o final dos anos 1990, quando a internet passou a conectar os profissionais e a ampliar o alcance de suas obras — mas calma Takemoto, ainda tem muita gente preservando o “DNA” clássico e tradicional de cada cultura.
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