Fake news contra magistrado: neto de ex-vice-governador é investigado

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) deflagrou mais uma ação para desarticular um suposto grupo criminoso investigado por supostamente forjar uma acusação falsa, uma fake news, contra um desembargador para anular um acórdão. Na quarta-feira, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), lançou a 3ª fase da Operação ÊXODO 23:7. Foram mandados judiciais de busca e apreensão. A coluna na Mira apurou que Alisson Gonçalves Domingos, neto o ex-vice-governador do DF Benedito Domingos, é um dos alvos.

A investigação apura as supostas práticas de crimes de extorsão e falsidade ideológica envolvendo Liliane de Sousa Dantas, ex-funcionária comissionada da liderança do antigo Partido Republicano da Ordem Social (Pros). Em 8 de março de 2022, a 8ª Turma Cível do Tribunal de Justiça do DF e Territórios (TJDFT) julgou recurso de um processo sobre a disputa da presidência da legenda. Os desembargadores declararam como presidente da sigla Marcus Vinicius Chaves de Holanda, no lugar de Eurípedes Gomes de Macedo Júnior.

No entanto, em 12 de julho de 2022, surgiu uma denúncia sobre um suposto pagamento de propina de R$ 5 milhões ao desembargador Diaulas Costa Ribeiro para votar a favor do grupo que assumiu o comando do Pros. Além disso, surgiu a informação de que em 15 de dezembro de 2021, houve uma suposta negociação de Liliane e seu ex-marido Marcus Vinícius Chaves de Holanda, com Raquel Costa Ribeiro, irmã do magistrado.

Supostos prints de conversas de WhatsApp, atribuídas a Liliane e Marcus Holanda, indicando o possível acordo vieram a público. Uma outra suposta conversa, entre Marcus Holanda e Raquel, tratou-se sobre possível fechamento de contrato. Não havia qualquer mensagem atribuída ao desembargador Diaulas Ribeiro. Na sequência, surgiu a informação que o suposto acordo teria sido firmado.

Diante das acusações, o próprio desembargado apresentou representação para o Gaeco, solicitando a investigação. Inicialmente, Raquel Costa Ribeiro foi o alvo da apuração, pela suposta prática do crime de exploração de prestígio. Mas a partir de depoimentos e documentos, houve uma reviravolta no caso. Na realidade, Liliane era quem teria praticado os crimes.

Fake news

A ex-funcionária teria montado uma história para incriminar falsamente, o desembargador Diaulas e sua irmã Raquel a fim de esconder os crimes cometidos por ela. Após o julgamento do caso pelo TJDFT, Liliane teria exigido dinheiro de Raquel, Marcus Vinicius e da advogada Cristiane Damasceno Leite, que havia ingressado no processo dias antes do julgamento.

Liliane imaginava ter direito a receber valores por ter intermediado na contratação do escritório de advocacia de Cristiane. A ex-funcionária teria exigido, pelo menos, R$ 80 mil. Caso contrário, teria prometido vingaria. Liliane não recebeu dinheiro. Em 1º de junho de 2022, teria elaborado uma escritura pública cujo teor sugeriria que o desembargador e sua irmã haviam recebido dinheiro em troca do voto favorável ao grupo do PROS liderado por Marcus Vinicius.

No documento, Liliane fez outra insinuação maldosa, mencionando que a advogada Cristiane havia sido habilitada no processo dias antes do julgamento do caso pelo Tribunal, levantando também uma suspeita sobre sua atuação.
A coluna Na Mira apurou que, de acordo com as investigações, o conteúdo da escritura não era verdadeiro, não passando de uma história articulada voltada a retirar a credibilidade do julgamento da 8ª Turma Cível do TJDFT ao apontar que o desembargador Diaulas havia recebido propina.

Siga o dinheiro

Ou seja, a intenção do grupo seria manchar a imagem e a reputação ilibada dos desembargadores da 8ª Turma Cível e do TJDFT como um todo. Durante as chantagens, Liliane possuía uma dívida condominial de aproximadamente R$ 50 mil e outra de financiamento imobiliário que girava em torno de R$ 200 mil. Tudo foi quitado.

Após a 1ª fase da investigação, verificou-se que o empresário Reinaldo Ribeiro de Andrade efetuou transferência de R$ 205 mil para a conta de Liliane um dia antes da quitação do financiamento. Mas especificamente em 28 de julho de 2022. A movimentação despertou a suspeita nos investigadores. Não havia qualquer vínculo entre eles para justificar a transferência.

O investigado figura como microempresário, sendo formalmente sócio de duas empresas, cujos capitais sociais, somados, é de apenas R$ 70 mil. Isso apontou a incompatibilidade da vultosa transação efetuada, indicando que seria um mero intermediário da remessa da quantia. Após a Justiça acolher pedido do Ministério Público, foram cumpridas medidas cautelares contra Reinaldo, o que tornou possível constatar que as duas empresas não funcionavam na prática desde 2020, demonstrando sua incapacidade financeira para transferir mais de R$ 200 mil à Liliane.

Neto de ex-vice-governador

Na sequência, identificou-se que, no mesmo dia da transferência de Reinaldo para Liliane, Alisson Gonçalves Domingos efetuou um depósito para o empresário justamente de R$ 205 mil. Trata-se do mesmo valor que Reinaldo transferiu para Liliane. Ainda, em diálogos mantidos entre Reinaldo e Alisson, ficou demonstrada que havia uma promessa de ajuda à Liliane por parte de pessoas ligadas a Alisson.

A coluna Na Mira apurou que a investigação apontou ainda que os três envolvidos participaram da elaboração de um contrato “de gaveta”, consistente numa suposta compra e venda de um lote de Liliane (vendedora) para Reinaldo (comprador), a fim de falsamente justificar esse vultoso montante transferido para Liliane. Tudo indica que os envolvidos forjaram declarações para justificar o montante recebido por Liliane.

Nesse cenário apuram-se crimes de extorsão, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e associação/organização criminosa, dados os indícios de que ela teria atuado em conjunto com terceiras pessoas, interessadas na anulação do acórdão proferido pelo desembargador Diaulas e seus pares. Especificamente nessa 3ª fase, apura-se o envolvimento da Alisson e de terceiros no suposto esquema criminoso.

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