Este tubarão vive 400 anos e o segredo está no DNA

O tubarão-da-groenlândia (Somniosus microcephalus) habita as profundezas dos oceanos Atlântico Norte e Ártico. Medindo cerca de 6,5 m, a espécie rara é conhecida por ser o vertebrado de vida mais longa do mundo, já que vive por 400 anos. Agora, cientistas começam a descobrir o segredo de tanta longevidade, a partir da análise do DNA.

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A principal hipótese para justificar a vida tão longa do tubarão-da-groenlândia está em estratégias próprias e aparentemente exclusivas de reparação do DNA. Considerada a expectativa de vida média do brasileiro (76 anos), calculada pelo IBGE, esses animais podem viver 5,2 vezes mais que um humano.

Fora dos mares, a tartaruga-gigante-das-Seychelles (Aldabrachelys gigantea hololissa) costuma ser reconhecida pela extrema longevidade. Afinal, há um indivíduo que já completou 191 anos de vida. Novamente, o feito é menos que a metade do tempo de vida desses tubarões de águas profundas.


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DNA dos tubarões centenários

Liderado por pesquisadores da Universidade de Bochum (Alemanha), um grupo internacional de cientistas sequenciou, pela primeira vez, o genoma do tubarão que vive por 400 anos. O resultado foi publicado em uma preprint (estudo que ainda não foi revisado por pares) na plataforma bioRxiv.

 

“A [primeira] análise dos dados sugere que as melhorias no processo de reparação do DNA podem desempenhar um papel importante na sua extrema longevidade”, afirma Arne Sahm, professor da universidade alemã e autor do estudo, em nota.

Tamanho do genoma do tubarão-da-groenlândia

Além do tamanho descomunal, os tubarões que vivem por 400 anos têm genomas extremamente grandes. Os pesquisadores identificaram  6,5 bilhões de pares de bases. Isso é duas vezes maior que o genoma humano e perde em dimensão total para poucos animais conhecidos.

DNA do tubarão-da-groenlândia, que vive por cerca de 400 anos, explica os segredos da longevidade rara na natureza (Imagem: Sangharsh Lohakare/Unsplash)

A explicação para a existência de um genoma tão grande está na quantidade de elementos repetidos e auto-replicantes, os genes saltadores ou elementos transponíveis (correspondem a 70%). São pedaços de DNA que podem migrar de uma área para outra e que conseguem fazer cópias de si mesmos, com efeitos quase sempre nocivos para o organismo.

“Isto [a quantidade de DNA repetido] é surpreendente, uma vez que uma elevada proporção de elementos transponíveis é geralmente considerada prejudicial”, explica o pesquisador Sahm.

No entanto, os tubarões centenários desenvolveram formas próprias de subverter essa tendência ao longo da evolução. Na verdade, é possível que essa maquinaria ajude na reparação do DNA danificado, aumentando a longevidade.  

Alterações no DNA dos tubarões de 400 anos

Entre as características únicas encontradas no tubarão-da-groenlândia, os autores destacam as mutações na proteína TP53 (ou P53). Informalmente, é conhecida como a “guardiã do genoma”, já que mantém a integridade do código genético e é uma das principais supressoras de tumores. Em pacientes com câncer, ela sofre mutações negativas, o que contribui com a piora do quadro.

Pesquisa contra o envelhecimento

“Decifrar o genoma do tubarão-da-gronelândia é um passo crucial para a compreensão dos mecanismos moleculares envolvidos no envelhecimento extremamente lento desta espécie extraordinária”, comenta Steve Hoffmann, pesquisador do Instituto Leibniz sobre Envelhecimento (Alemanha) e outro autor do estudo.

Quando as análises avançarem e outros testes forem realizados, é possível que as descobertas sobre a espécie centenária de tubarões ajudem na descoberta de novos tratamentos e terapias contra o câncer e o envelhecimento em humanos.

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