A disputa entre a dona de ótica Mara Hoffmann e a Loteria São Bento sobre a aposta de R$ 201,9 milhões da Mega-Sena que não teria sido registrada, revelada pela coluna, ganhou contornos judiciais. Enquanto a optometrista reclama o prêmio, a lotérica levanta três pontos pelos quais a mulher não teria direito ao montante.
1. Marcação de aposta: a forma da grafia e o espelho do bilhete da Mega-Sena seria diferente dos outros dois apresentados – a empresária também jogou na Quina e na Lotofácil;
2. Grampo: o local onde o bilhete teria sido grampeado também seria distinto dos demais. “Ao se observar a forma como foi grafada e marcada as apostas no espelho da aposta, vemos que justamente a da Mega-Sena é diferente das outras, deixando claro que foi feito posteriormente. Outro fato interessante é quando vemos o local onde foi grampeada a aposta, nas apostas realizadas vemos que foram grampeadas na lateral de cima do lado esquerdo, e justamente na da Mega-Sena, se destacou o espelho original, se colocou um feito posteriormente e se grampeou no centro do bilhete”, sustenta a defesa da loteria no processo.
3. Pagamento: segundo o estabelecimento, o valor da aposta deveria ser de R$ 31,50 e não os R$ 11 pagos. “Por fim de forma a arrematar o aqui aduzido, se materializa no valor da aposta, pois segundo o espelho da Mega-Sena anexado, vemos que foram marcados 07 números, assim sendo, só esta aposta seria R$ 31,50. Diferente dos R$ 11,00 cobrados, referente a todas as apostas realizadas”, complementa.
Confira as imagens dos bilhetes:
Mara rebate todos os argumentos. Disse à coluna, por exemplo, que entregou uma nota de R$ 10 e deveria ter recebido troco de R$ 1. Em vez disso, cobraram mais R$ 1.
No concurso 2524, de 28 de setembro de 2022, jogou as seguintes dezenas: 03, 20, 22, 23, 37, 41 e 43. Nenhuma aposta registrada acertou todos os números – Mara, portanto, seria a única vencedora da Mega-Sena. Além dela, também jogou na Quina (04, 23, 38, 53 e 58) e na Lotofácil (04, 06, 08, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 21, 22 e 25).
Veja o resultado:

Entenda o caso
Mara acionou a Justiça após dizer que acertou os números da Mega-Sena, mas a lotérica não registrou o bilhete vencedor no sistema. Explicou que, após o pagamento, a funcionária da loteria lhe entregou três bilhetes, mais três comprovantes, só que um deles seria repetido, deixando de fora a aposta da Mega-Sena – o que ela só teria notado logo antes do sorteio. Tarde demais.
A optometrista, então, teria retornado à lotérica no dia seguinte, conversado com a gerente e visto as imagens das câmeras de segurança, que, segundo a apostadora, atestaram o erro da funcionária ao não grampear o comprovante do bilhete supostamente ganhador da Mega-Sena. Uma cópia dessa filmagem, porém, não teria lhe sido concedida.
“No dia 29 de setembro de 2022, a requerente [Mara Hoffmann] procurou a segunda promovida para exigir o comprovante de sua aposta da Mega Sena. Tendo explicado à gerente que os números de sua aposta foram os sorteados no dia anterior. Assim, a gerente da lotérica informou que iria conferir as imagens das câmeras de seguranças internas. Depois de alguns instantes, a demandante fora chamada a uma sala interna, tendo sido confirmado, através das mencionadas imagens das câmeras de segurança, o erro da funcionária a qual não grampeou ao bilhete de aposta o comprovante premiado”, diz o processo.
Por isso, Mara pediu à Justiça que obrigasse a lotérica a disponibilizar as imagens e dados das apostas, o que, na visão da defesa, seriam uma produção antecipada de provas para comprovar os fatos. Também registrou boletim de ocorrência. A Justiça acatou a solicitação em 1ª instância em fevereiro passado.
A loteria, porém, contesta os fatos. Segundo a defesa, as imagens das câmeras de segurança não estão mais disponíveis porque são apagadas a cada 6 meses. Por isso, afirma que seria uma produção impossível de provas.
Procurado pela coluna, o advogado da Loteria São Bento não respondeu.
Conheça a apostadora
Muito evangélica e uma pessoa que gosta de trabalhar: é assim que a dona de ótica Mara Hoffmann se define. A empresária também atua como optometrista, profissional de saúde que faz avaliação, diagnóstico e correção de problemas de visão, no próprio estabelecimento. Mara vive em São Bento, município paraíbano a 294,1 km da capital João Pessoa.
Sobre o sorteio da Mega-Sena
À época, o prêmio de R$ 201,9 milhões era considerado um dos maiores da Mega-Sena, próximo ao da Mega da Virada de 31 de dezembro de 2020. Como ninguém acertou as seis dezenas, o montante acumulou pela 14ª vez consecutiva.
Segundo a Caixa, houve 404 apostas ganhadoras da quina (cinco acertos), no valor de R$ 43.914,62. Outros 30.194 jogos fizeram a quadra (quatro acertos) e receberam R$ 839,40.