Sustentabilidade e a relação com a transição energética justa

Um jeans usado, que seria descartado, se transforma pelas mãos da Luana Guerra. Há alguns anos ela descobriu que a moda poderia ser bem mais do que fabricar peças novas, mergulhou no conceito upcycling que visa reaproveitar, com criatividade, para respeitar o meio ambiente.

Transição energética: mudas de palmeira Jussara no Horto da Diamante Energia

Transição energética: mudas de palmeira Jussara no Horto da Diamante Energia – Foto: Jacson Botelho/Divulgação

“É uma forma de evitar o desperdício não levando ao aterro sanitário peças que levariam muitos anos para se decompor, então, é uma maneira de ajudar a ter um futuro mais sustentável, pois quando a gente faz uma peça no upcycling a gente acaba evitando de fazer uma peça nova desperdiçando energia, matéria prima e água”, explica estilista e empresária.

A produção de qualquer item exige o uso de recursos naturais, entre eles a água. Na fabricação de uma única calça jeans, por exemplo, são usados mais de 5.100 litros d’água. Isso considerando desde o plantio do algodão até a peça pronta. Uma quantia suficiente para uma pessoa suprir todas as suas necessidades básicas como beber, cozinhar, fazer higiene pessoal e sanitária ao longo de 70 dias. E o Brasil é destaque na produção e consumo de peças jeans, sendo o terceiro maior produtor mundial e quarto maior consumidor. Uma calça jeans com fibra de algodão pode gerar até 24,8 kg de CO2.

O mesmo acontece na fabricação de outros produtos. Pensar no equilíbrio entre as necessidades sociais, econômicas e ambientais para promover o desenvolvimento e garantir a qualidade de vida está diretamente ligado a transição energética. Uma mudança que vai além da descarbonização, que não está conectada somente com a questão da energia elétrica.

A coordenadora estadual de Mobilização do Movimento ODS SC avalia com preocupação os eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos.

“A gente tem vivido a crise da poluição e isso tem a ver com consumo e como esse consumo é feito. Então, é um prejuízo que é preciso rever, seja do ponto de vista empresarial, seja do ponto de vista social e também o ente público para ajudar a resolver todas essas questões envolvidas”, avalia Gisele Batista.

Nas cozinhas dos restaurantes da usina termelétrica Jorge Lacerda, em Capivari de baixo, todos os resíduos são separados. São centenas de pessoas que diariamente almoçam no local e por isso a produção de comida é grande, assim com a quantidade de rejeito. Após, as refeições sempre sobram restos no prato que vão para a lixeira, mas não para o descarte. Os resíduos orgânicos vão direto para uma estrutura de compostagem. Por mês são 12 toneladas de material orgânico depositados no local que vão sendo misturados com serragem formando para o processo natural de transformação em adubo, que dura de seis a oito meses.

Bem no coração da cidade de Capivari de Baixo, no sul de Santa Catarina, uma área verde de três hectares protege o berçário de milhares de espécies de plantas. O espaço abriga um viveiro de mudas e sementes de espécies nativas da mata atlântica. O Horto existe desde 1989, de lá para cá, mais de 2 milhões de mudas foram doadas.

Horto florestal, em Capivari de Baixo – Foto: Jacson Botelho/Divulgação

Fabio Costa, gerente Sustentabilidade e Meio Ambiente da Diamante Energia, que administra o local, explica que o espaço faz parte do projeto de educação ambiental da empresa, mas vai além, é uma mudança de comportamento e de transição energética.

“Nosso objetivo dentro dessa estrutura de sustentabilidade da empresa é que as pessoas, tanto os empregados quanto a comunidade, saibam o seu papel dentro da transição energética. O que eles podem fazer como cidadãos para contribui com esse processo de transição. Saber os princípios de reuso, reciclagem, eficiência, fazer mais com mesmo ou até com menos, pensar na qualidade do ar com plantio de mudas para ter um ambiente agradável, preservar a conservação de água, então, toda essa parte de conscientização é muito importante e depende de nós como indivíduos para que isso somado ao esforço de cada um dê um resultado importante”, detalha Fábio.

O Horto Florestal de Capivari de Baixo é o único do Sul de Santa Catarina. Os moradores de todos os municípios da região podem retirar, gratuitamente, mudas de diversos tipos de plantas e árvores nativas. São, em média, 8 mil mudas doadas todos os meses.

No ano passado, as mudas do Horto Florestal foram enviadas para Torres, no Rio Grande do Sul. As espécies de palmeira juçara foram plantadas na aldeia indígena Nhu-porã, onde vivem mais de 200 indígenas, adultos e crianças.

A iniciativa fez parte do projeto Frutos da Nossa Terra desenvolvido pela prefeitura de Torres com objetivo do deixar a terra indígena mais verde. Mas, cada espécie cultivada no espaço tem um propósito. As quase sete mil mudas catarinenses de palmeira juçara serão uma alternativa de sustentabilidade para o povo guarani.

“Através da exploração dos frutos da palmeira juçara se quer produzir açaí e quem sabe até um dia o palmito pois, o que nós queremos é chegar numa agroindústria de processamento de açaí na aldeia, mas para isso precisamos ter as mudas de palmeira juçara todas plantas. Nós temos uma previsão de plantar 86 mil mudas na área”, explica Gerson Nardi, engenheiro agrônomo prefeitura de Torres.

Por isso, o trabalho está sendo feito com muitas mãos e acompanhado de perto. Analises frequentes garantem que as espécies estejam crescendo e se desenvolvendo no ritmo esperado.

“Ao longo dos próximos meses e anos a gente vai plantando gradativamente conforme a produção vem vindo. Então, a gente tem uma área onde está sendo plantada outras espécies de arvores frutíferas e nativas onde intercalamos a palmeira juçara, aproveitando a sombra das árvores para que a muda venha forte e com muito vigor e possa frutificar em breve”, explica Gislael Floriano, diretor executivo do Geoparque

Cacique Mário mostrando as mudas plantadas na aldeia – Foto: Jacson Botelho/Divulgação

O cacique guarani, Mário Lopes, explica que desde que o plantio teve início muita coisa mudou na aldeia. A área não tinha espécies frutíferas ou nativas, somente pinus e eucalipto. Foi a partir da doação das mudas que a terra foi se modificando, hoje, algumas espécies já estão dando frutos.

“A gente planta não é para vender. A gente planta como nossa vida e quando vem a fruta a gente tira semente e semeia de novo e vai produzindo cada vez mais. Eu fico feliz que várias pessoas que me conheceram trazem doações pra gente plantar e é muito importante porque traz um valor pra gente, pois cada espécie é usada para alguma coisa ou para comer ou para artesanato ou então como remédio”, conta o cacique.

Daqui uns cinco anos quando as mudas de palmeira juçara estiverem adultas e começarem a produzir sementes, novas mudas devem nascer em terras indígenas. O açaí poderá ser colhido para consumo, o palmito poderá ser comercializado e até a madeira poderá ser reaproveitada. É um ciclo de cuidado com o meio ambiente onde sustentabilidade e preservação andam juntos olhando no futuro das próximas gerações.

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