A exploração espacial causa danos ambientais na Terra?

A quantidade de lançamentos de foguetes, bem como de satélites sendo queimados na atmosfera da Terra cresce tanto que preocupa especialistas. O motivo? Eles temem que os compostos liberados durante os lançamentos e reentradas destes objetos interajam com a atmosfera, e que os possíveis impactos ambientais sejam suficientes para causar uma nova emergência climática em nosso planeta. 

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O portal Statista estima que a quantidade de foguetes lançados nos últimos 15 anos triplicou, enquanto a quantidade de satélites na órbita da Terra aumentou em 10 vezes. Enquanto isso, a quantidade de lixo espacial (como satélites aposentados e estágios de foguetes já usados) mergulhando pela atmosfera terrestre dobraram na última década. 

Lançamento de foguete Falcon 9, da SpaceX (Imagem de:Reprodução/SpaceX)

A SpaceX, OneWeb e outras empresas vêm usando esses lançamentos para expandir suas constelações de satélites na órbita baixa da Terra. Tanto estas empresas quanto governos já levaram milhares deles para a órbita, e este é só o começo; na verdade, a quantidade de de satélites ao redor da Terra pode muito bem chegar à marca de um milhão, exigindo ainda mais lançamentos e, consequentemente, emissões. 


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Muitos dos foguetes usados atualmente são alimentados por combustíveis fósseis e liberam fuligem, que absorve calor e pode aquecer as camadas superiores da atmosfera. Foguetes como o Falcon 9, da SpaceX, levam apenas 90 segundos para atravessar a troposfera e chegar à camada atmosférica média. Até o foguete chegar à etapa curva da sua trajetória para entrar em órbita, ele libera mais da metade da sua exaustão nas camadas atmosféricas médias e superiores. 

As camadas atmosféricas podem ser afetadas pelos compostos liberados por foguetes (Imagem de: Reprodução/NASA)

Os cientistas acreditam que estes compostos descem como chuva e acabam acumulados na estratosfera, a camada mais baixa da atmosfera média — é ali que está  a camada de ozônio, que nos protege contra a radiação ultravioleta. Em paralelo, a queima dos satélites durante a reentrada produz óxidos de alumínio, que também podem afetar o equilíbrio térmico do nosso planeta. Note que ambas as emissões são capazes de destruir a camada de ozônio. 

Impactos ambientais da exploração espacial

Enquanto as empresas aeroespaciais celebram seus recordes de lançamentos de foguetes e satélites, pesquisadores analisam os efeitos em nosso planeta — um estudo publicado em 2022, por exemplo, mostrou que a fuligem liberada pelos foguetes aquecia a atmosfera com quase 500 vezes a eficiência da fuligem dos aviões, que voam mais perto da superfície. 

Por outro lado, ainda não está clara a quantidade exata de fuligem liberada pelos diferentes motores de foguetes. A maioria dos lançadores usados hoje opera com querosene, libera dióxido de carbono, vapor d’água e fuligem diretamente na atmosfera. Já o Starship, o maior foguete já construído, é alimentado por propelentes de metano e oxigênio líquidos.

Foguete Starship, da SpaceX, durante teste de voo (Imagem de: Reprodução/SpaceX)

O problema é que qualquer combustível de hidrocarboneto libera algum tipo de fuligem. E mesmo os ditos “propelentes verdes”, que têm hidrogênio líquido, acabam liberando vapor d’água, que se torna um agente do efeito estufa a altas altitudes. “Você não pode pegar o que é ‘verde’ na troposfera e necessariamente achar que vai ser também na atmosfera superior”, resslatou Aaron Boley, astrônomo da Universidade da Columbia Britânica. “Não existe propelente totalmente neutro. Todos eles têm diferentes tipos de impactos [ambientais]”.

Sebastian Eastham, pesquisador de sustentabilidade aeroespacial no Imperial College de Londres, alertou que estes efeitos são como um território desconhecido. “Nossa compreensão das consequências das emissões cai conforme você se afasta da superfície”, observou. E, embora os cientistas estejam chamando a atenção para estes efeitos, eles não se opõem às atividades da indústria espacial. 

Karen Rosenlof, cientista do clima na Laboratório de Ciências Químicas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), destaca a importância dos satélites para nossas vidas, mas observa também a necessidade de regulamentação deles que considere os impactos ambientais. E Boley concorda. “Há muitas possibilidades que podem nos ajudar a proteger o meio ambiente e, ao mesmo tempo, dar acesso ao espaço”, disse ele. “Só precisamos olhar para o todo.”

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