Monotrilho tem origem, mas destino até Cidade Tiradentes é incerto

São Paulo — O monotrilho da zona leste de São Paulo foi idealizado ainda na primeira década deste século e projetado para sair da Vila Prudente e a chegar à Cidade Tiradentes ainda em 2012. A agilidade na construção era uma das justificativas, à época, para a escolha desse modo de transporte. Passados 13 anos, a Linha 15-Prata, como é chamado oficialmente, empacou na região de São Mateus e a data para atingir o destino, quase oito quilômetros à frente da Estação Jardim Colonial, ainda é incerta.

A pesquisa Origem e Destino, divulgada nesta semana pelo Metrô, mostra que o transporte individual superou o coletivo na Grande São Paulo (51,2% a 48,8%), invertendo o que foi registrado no levantamento anterior, de 2017, pré-pandemia.

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Obras do monotrilho na Linha 15-Prata, na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo

Obras do monotrilho na Linha 15-Prata, na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo
A promotora de vendas Jenifer dos Santos, 33 anos
Obras do monotrilho na Linha 15-Prata, na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo
Obras do monotrilho na Linha 15-Prata, na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo
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Obras do monotrilho na Linha 15-Prata, na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

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Obras do monotrilho na Linha 15-Prata, na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo

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Obras do monotrilho na Linha 15-Prata, na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo

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A promotora de vendas Jenifer dos Santos, 33 anos

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Passageiros aguardam ônibus em ponto na Avenida Ragueb Chohfi, na zona leste de São Paulo

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Passageiros no Terminal Cidade Tiradentes, na zona leste de São Paulo

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A lentidão na expansão de modais como monotrilho, além do metrô, é apontada como um dos motivos para que mais gente recorra a soluções individuais, como a motocicleta —viagens por moto cresceram 16%. Mais um dado embasa a possibilidade do “cada um por si” na mobilidade urbana: a posse de motos pelas famílias cresceu 50% entre 2017 e 2023, de 624 mil para 936 mil.

Do ponto de vista da mobilidade urbana, o cenário é desanimador quando a maior parte das viagens passa a ser realizada por transporte individual. Quem anda pela Avenida Ragueb Chohfi e encontra o amontoado de carros no congestionamento, sob as pilastras do monotrilho inacabado, vê esse problema desenhado. O volume de veículos entre Cidade Tiradentes e São Mateus impressiona mesmo no início da tarde, fora do pico.

O governo estadual, sob Tarcísio de Freitas (Republicanos), diz que a expansão da Linha 15-Prata até a Cidade Tiradentes depende de tratativas com a prefeitura, de Ricardo Nunes (MDB). Enquanto isso, o gari Amauri Nunes Dias, 32 anos, sonha com o dia em que não precisará acordar ainda no meio da madrugada para chegar ao trabalho na Vila Prudente.

“Saio de casa às 4h para chegar às 6h no serviço. Se o monotrilho estivesse aqui, iria dormir mais, ficar mais com a minha família. Não precisaria acordar tão cedo para trabalhar”, afirma.

Amauri mora na Cidade Tiradentes e conversou com o Metrópoles na última quinta-feira (13/2), no terminal da Avenida dos Metalúrgicos, quando voltava do trabalho. “Daria uns 30, 40 minutos daqui para lá, e voltando também iria me ajudar muito, porque é um caminho mais rápido. De ônibus, uma hora, até duas horas”, diz.

O gari diz que o monotrilho deveria ter começado da periferia para a Vila Prudente, porque é no seu bairro que vivem pessoas mais carentes. Isso ajudaria a sua jornada ser mais confortável. “Pego o ônibus lotado, cheio, não dá nem para ir sentado. No monotrilho, dá para ir sentado, é muito rápido, passa um atrás do outro. Ônibus, não. Aos domingos, é até pior, porque [ônibus] demora até duas horas para passar um para São Mateus”, diz.

Motos

Se a moto representa uma solução individual para um problema coletivo, chama a atenção o crescimento na partição de mulheres pilotando. Elas estavam no guidão de 7% do total de viagens por esse meio em 2017 e, em 2023, foram 10%.

A promotora de vendas Jenifer dos Santos, 33 anos, abandonou o transporte público e comprou moto há quatro anos. “É uma questão de conforto e praticidade. Consigo chegar mais rapidamente ao meu destino. Tenho mais segurança do que ficar em um ponto de ônibus, de pegar um trem cheio e passar por algum tipo de constrangimento”, diz.

Para Jenifer, o medo de acidentes está associado ao comportamento dos outros motoristas. “Não é todo mundo que respeita.”

O que dizem governo estadual e prefeitura

O governo estadual diz que a expansão da Linha 15-Prata até Cidade Tiradentes faz parte de projeto e que “está em tratativas com a prefeitura para a ampliação das vias necessárias”. A prefeitura foi questionada, mas não se manifestou sobre isso.

Mesmo sem nem concluir o monotrilho da zona leste, o governo estadual diz que, para a Cidade Tiradentes, publicou neste ano a autorização para a elaboração dos estudos, que já estariam em andamento, para “construção, manutenção e operação da futura Linha 16-Violeta de metrô”, que irá conectar Cidade Tiradentes, na zona leste da capital, à Oscar Freire, na zona oeste.

“Devendo beneficiar mais de 600 mil pessoas todos os dias, o novo ramal terá 32 km de extensão e contará com 25 estações”, afirma o governo estadual, sem citar qualquer data de funcionamento ou mesmo de início de construção da linha.

Entre outros projetos, o governo afirma, por meio da Secretaria de Parcerias em Investimentos, que, em 2024, lançou o programa SP nos Trilhos para incentivar a expansão do transporte de passageiros por ferrovias em todo o território paulista. “São mais de 40 projetos entre Trens Intercidades (TICs), veículos leves sobre trilhos (VLTs), trens urbanos e metrô. Ao todo, as iniciativas estão estimadas em R$ 194 bilhões em mais de 1 mil km de extensão de trilhos na Grande São Paulo, interior e litoral”, diz.

Entre eles, a Linha 5-Lilás também será ampliada e ganhará mais 4,3 km de ramal, chegando a 24,3 km no total, segundo o governo. “O início da operação também está previsto para 2028 e a linha ganhará mais duas estações: Comendador Sant’anna e Jardim Ângela, e mais de 150 mil passageiros serão beneficiados diariamente”, diz, em nota.

Já a administração municipal diz que o número de passageiros transportados por ônibus em São Paulo se mantém estável desde o fim da pandemia, com média de 7,3 milhões de passageiros/dia útil entre 2022 e 2024. “Vale ressaltar que o item da pesquisa que trata de transporte por ônibus considera toda a movimentação da região metropolitana, englobando o transporte intermunicipal e o municipal das cidades do entorno, sistemas não administrados pela SPTrans”, afirma.

A prefeitura diz que implantou 54 km de faixas exclusivas na cidade desde 2021, “superando a meta de 50 km estabelecida no Programa de Metas para até o fim de 2024”.

“Atualmente, a cidade conta com 135,3 km de corredores e 590 km de faixas exclusivas para ônibus. Em renovação da frota, entre 2021 e 2024, foram incorporados 3,4 mil ônibus novos, com maior capacidade e, dos mais de 12 mil ônibus em operação diariamente na cidade, 92,6% possuem ar-condicionado. O Aquático-SP reduziu o tempo de travessia entre o Cantinho do Céu e o Mar Paulista, na Zona Sul, de 1h20 para 17 minutos e o Domingão Tarifa Zero já beneficiou mais de 189 milhões de passageiros. Além disso, São Paulo tem a maior frota de ônibus elétricos do país, com 631 veículos em operação”, afirma.

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