Operário que gasta 6h no transporte tem no ônibus seu pior pesadelo

São Paulo — O operador de máquinas Cícero da Silva, 53 anos, gasta seis horas por dia no transporte público de São Paulo, sendo três horas para ir, mais três para voltar, entre a casa no Jardim Ângela, na zona sul, e o trabalho em São Miguel Paulista, na zona leste. Tudo isso para seguir na empresa onde está há 20 anos. Para ele, o pior trecho da jornada é o ônibus lotado, por vias congestionadas, serpenteando os bairros pobres da sua vizinhança.

Cícero espera que saia do papel e entre em operação a expansão da Linha 5-Lilás até o Jardim Ângela, como prometido. Não eliminaria, mas encurtaria a viagem de ônibus. “Iria melhorar muito para mim. Economizaria uma hora e meia, duas horas, por aí. Aqui, no Capão Redondo, o difícil é o ônibus”, afirma.

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Operador de máquinas Cícero da Silva, 53 anos, em ponto de ônibus no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo

Pessoas em ponto de ônibus no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo
Passageiros da Linha 5-Lilás de metrô, em São Paulo
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Pessoas em ponto de ônibus no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

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Operador de máquinas Cícero da Silva, 53 anos, em ponto de ônibus no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo

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Pessoas em ponto de ônibus no Capão Redondo, na zona sul de São Paulo

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Passageiros da Linha 5-Lilás de metrô, em São Paulo

William Cardoso/Metrópoles

Os ônibus representavam, em 2023, 22,5% do total de viagens motorizadas na Grande São Paulo, uma redução de 31,9% na comparação com 2017 (29,4%), segundo a pesquisa Origem e Destino do Metrô.

A peregrinação cotidiana de Cícero traz aquilo que números, gráficos e justificativas governamentais só conseguem, quando muito, vislumbrar: sente na pele de quem se espreme no transporte público para garantir o salário. Ele pega o primeiro ônibus por volta das 4h, já lotado, mesmo com a redução no número de viagens diárias totais na região metropolitana, mostrada pela pesquisa.

Dois pontos de ônibus nas proximidades da Estação Capão Redondo, onde a reportagem conversou com Cícero, dão conta de quantas pessoas seriam beneficiadas com a expansão da Linha 5-Lilás. Eles ficam na Avenida Prof. Dr. Telêmaco Hippolyto de Macedo Van Langendonck, nome tão longo quanto as filas que se formam à espera dos coletivos no início da noite. Por outro lado, se parte delas decidir pelo transporte individual, as ruas do bairro vão ficar ainda mais congestionadas, atrasando o retorno de quem segue no coletivo.

A diarista Edilaine Maria do Nascimento Barros, 42 anos, chega cansada do trabalho ao ponto final do metrô, ainda distante de casa, no Jardim Ângela.

Já passa das 20h e ela fica ao lado de outras dezenas de pessoas no ponto de ônibus, que está lotado e é pouco iluminado. “Só aqui, eu fico 40 minutos esperando para poder ir sentada. Hoje mesmo, fiquei na quarta fila”, diz. A quarta fila significa que só conseguiria embarcar para se acomodar em um assento no quarto ônibus — permitiu que outros passassem à frente para viajarem em pé.

A diarista também aguarda ansiosa a expansão da Linha 5 para diminuir o sofrimento no ônibus. “Tem dias que chegou 21h, 21h30. Se chegasse ao Ângela, seria mão na roda”, afirma.

O que dizem governo estadual e prefeitura

O governo estadual diz que a Linha 5-Lilás também será ampliada e ganhará mais 4,3 km de ramal, chegando a 24,3 km no total. “O início da operação também está previsto para 2028 e a linha ganhará mais duas estações: Comendador Sant’anna e Jardim Ângela, e mais de 150 mil passageiros serão beneficiados diariamente”, diz, em nota.

Entre outros projetos, o governo afirma, por meio da Secretaria de Parcerias em Investimentos, que, em 2024, lançou o programa SP nos Trilhos para incentivar a expansão do transporte de passageiros por ferrovias em todo o território paulista. “São mais de 40 projetos entre Trens Intercidades (TICs), veículos leves sobre trilhos (VLTs), trens urbanos e metrô. Ao todo, as iniciativas estão estimadas em R$ 194 bilhões em mais de 1 mil km de extensão de trilhos na Grande São Paulo, interior e litoral”, diz.

Já a administração municipal diz que o número de passageiros transportados por ônibus em São Paulo se mantém estável desde o fim da pandemia, com média de 7,3 milhões de passageiros/dia útil, entre 2022 e 2024. “Vale ressaltar que o item da pesquisa que trata de transporte por ônibus considera toda a movimentação da região metropolitana, englobando o transporte intermunicipal e o municipal das cidades do entorno, sistemas não administrados pela SPTrans”, afirma.

A prefeitura diz que implantou 54 km de faixas exclusivas na cidade desde 2021, “superando a meta de 50 km estabelecida no Programa de Metas para até o fim de 2024”.

“Atualmente, a cidade conta com 135,3 km de corredores e 590 km de faixas exclusivas para ônibus. Em renovação da frota, entre 2021 e 2024, foram incorporados 3,4 mil ônibus novos, com maior capacidade e, dos mais de 12 mil ônibus em operação diariamente na cidade, 92,6% possuem ar-condicionado. O Aquático-SP reduziu o tempo de travessia entre o Cantinho do Céu e o Mar Paulista, na Zona Sul, de 1h20 para 17 minutos e o Domingão Tarifa Zero já beneficiou mais de 189 milhões de passageiros. Além disso, São Paulo tem a maior frota de ônibus elétricos do país, com 631 veículos em operação”, afirma.

 

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