PCC mata 4 após roubo milionário de cocaína: “Mandar pro inferno”

São Paulo — No intervalo de três dias, o núcleo do Primeiro Comando da Capital (PCC) chefiado por Willian Barile Agati, o Senna, foi desfalcado com um prejuízo de aproximadamente R$ 22 milhões, resultante do extravio de 770 kg de cocaína que seriam enviados à Espanha em duas viagens marítimas.

Senna e seus sócios cobraram com juros o prejuízo, executando quatro pessoas, incluindo um Guarda Civil Municipal que mantinha relações comerciais corruptas com a maior facção criminosa do país.

Willian Agati é apontado em investigação da Polícia Federal (PF) como um “concierge” do crime organizado, coordenando de São Paulo o envio de cargas milionários de cocaína, via Porto de Paranaguá, no Paraná, até o Porto de Valência, na Espanha.

Ele está preso desde janeiro e, em março, foi transferido para cumprir pena em Brasília, na mesma penitenciária de segurança máxima onde Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, está desde 2023.

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Contêiner vazio e roubo

Em 20 de fevereiro de 2020, o grupo coordenado por Senna carregava um contêiner com 270 kg de cocaína, furtado na madrugada do mesmo dia. Três dias depois, o mesmo bando transportava 500 kg da droga para o Porto de Paranaguá, que seriam enviados à Espanha. No caminho, a carga também foi roubada por homens disfarçados de policiais federais.

Os dois desfalques milionários foram informados aos parceiros de Senna na Europa, para quem o líder da célula do PCC prometeu matar todos os envolvidos.

As quatro execuções que se seguiram foram autorizadas após a realização de um “tribunal do crime”. O “tabuleiro“, como esse tipo de justiça ilegal também é conhecida, foi realizado na casa do Guarda Civil Municipal (GCM) Jeferson Barcellos de Oliveira.

Punições fatais

O primeiro membro da organização criminosa a ser assassinado foi Marcos Antônio Carvalho, o Marcos P2. O crime ocorreu em 13 de abril de 2020, quando ele foi alvo de tiros em um posto de combustíveis em São José dos Pinhais, região metropolitana de Curitiba. A morte dele foi compartilhada em um grupo de mensagens do PCC juntamente com uma reportagem sobre o crime.

Menos de um mês depois, em 6 de maio, o GCM Jeferson Barcellos de Oliveira foi executado com tiros quando manobrava um carro em frente a uma oficina mecânica da qual ele era dono, em Paranaguá.

O guarda, de acordo com a PF, compunha um grupo criminoso “terceirizado” pela célula de Senna, responsável pela logística de envio das duas cargas extraviadas, que deveriam ter chegado ao Porto de Valência. Reportagens sobre o assassinato de Jeferson também foram compartilhadas no grupo de mensagens.

“Mataram o guarda, mandaram pro inferno”, afirmou Senna, antes de enviar o link com a notícia do homicídio. O criminoso também compartilhou uma foto do GCM morto dentro o carro e afirmou: “Um a menos”.

A terceira vítima não foi identificada pela PF. No entanto, com base na troca de mensagens dos criminosos, estima-se que a execução aconteceu entre 6 e 22 de maio de 2020.

A série de assassinatos em retaliação ao prejuízo milionário foi finalizada com o homicídio de Cristian Roberto da Silva Bernardo, o Batata, morto com tiros na cabeça em 4 de julho do mesmo ano.

A função dele, segundo a PF, era ajudar na coordenação do recebimento, depósito e transporte de cargas de cocaína. Ele também era o “braço armado” do GCM Jeferson.

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Willian Barile Agati, conhecido como o “concierge do crime”, tem ligações com o pastor Valdemiro

À esq. Marcola, apontado como líder do PCC, e à dir. Willian Barile Agati, conhecido como o “concierge do crime do PCC”
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Rip-on/rip-off

O método usado pela facção criminosa paulista para embarcar a cocaína em contêineres é conhecido como rip-on/rip-off, o qual consiste em transportar drogas em meio a cargas lícitas, sem o conhecimento dos outros proprietários.

A estratégia foi descoberta em 4 de dezembro de 2020, quando 322 kg de cocaína foram apreendidos no meio de uma carga de cerâmica. O flagrante foi noticiado e, na manhã do mesmo dia, Senna informou sobre o prejuízo ao seu parceiro Leonardo Ordozes Toro, o Panda.

Panda conta com nacionalidade colombiana e espanhola. Segundo a PF, ele se valia da dupla cidadania para negociar as cargas de cocaína desde a origem, na região do Valle del Cauca, na Colômbia, até o destino, em Valência.

Para receptar e distribuir a cocaína na Espanha, Panda contava com o apoio de um criminoso identificado somente como Barby, responsável pela transportadora dos contêineres que levava as cargas até a Europa.

Ambos tiveram outro grande prejuízo, cinco dias depois, com a apreensão de mais 230 kg de cocaína, embarcada em um contêiner com madeira.

O volume das duas apreensões, feitas em um curto espaço de tempo, como destacado pela PF, mostra o uso constante do porto paranaense pelo PCC para escoar cocaína para a Espanha.

O Porto de Paranaguá é o maior exportador de produtos agrícolas do Brasil, o maior graneleiro da América Latina e o terceiro maior porto de contêineres do país, disputado por traficantes internacionais, como destacado pela investigação.

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