Ataques às escolas: trabalho ‘árduo e silencioso’ do CyberGAECO previne tragédias em SC

Em 5 de abril de 2023, um homem invadiu a creche Cantinho Bom Pastor, em Blumenau, e matou quatro crianças, ferindo outras cinco com uma machadinha. Enquanto Santa Catarina ainda se recupera da tragédia, que completa dois anos no sábado (5), agentes do CyberGAECO trabalham para que ataques às escolas nunca mais voltem a acontecer.

Quatro crianças foram mortas no ataque a uma creche em Blumenau, em 2023

Ataque a creche de Blumenau, que completa dois anos, motivou novas políticas de segurança nas escolas de Santa Catarina – Foto: Moisés Stuker/NDTV

A escalada da violência nas escolas

No Brasil, a violência extrema contra instituições de ensino era um fenômeno raro e isolado até 2017, quando os casos passaram a aumentar vertiginosamente. Segundo o ObservaDH (Observatório Nacional dos Direitos Humanos), lançado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o país registrou um total de 43 ataques às escolas entre 2001 e 2024. Ao todo, os atentados deixaram 47 mortos e 115 feridos. O ano mais crítico foi 2023, que teve pelo menos 15 registros de ataques às escolas brasileiras.

Gráfico mostra evolução dos ataques às escolas no Brasil

Brasil atingiu recorde de ataques a escolas em 2023, com 15 ocorrências, segundo painel do Ministério dos Direitos Humanos – Foto: Divulgação/ObservaDH/ND

Os ataques às escolas costumam ser estimulados por comunidades extremistas na internet, que cooptam jovens através de discursos de ódio, misoginia, racismo, supremacismo branco, apologia ao nazismo e glorificação da violência.

Catarina Costa Marques, médica pediatra e psicóloga especialista em adolescência, explica que os grupos fazem os jovens se sentirem vistos. “As comunidades extremistas acabam atraindo principalmente adolescentes que já têm uma autoestima frágil. Como eles não conseguem socializar, não conseguem manter relações interpessoais positivas no mundo presencial, encontram na internet uma forma de se sentirem pertencentes”, observa.

‘Da rua ao virtual’: o nascimento do CyberGAECO

A criação do CyberGAECO em Santa Catarina foi motivada pelo massacre em Saudades, no Oeste do estado, em 4 de maio de 2021. Na ocasião, um jovem de 18 anos, armado com uma adaga, invadiu a creche Pró-Infância Aquarela e matou três bebês, uma professora e uma funcionária.

Atentando à creche de Saudades motivou criação do CyberGAECO em SC

Sala onde a maioria das crianças foi assassinada na creche Pró-Infância Aquarela, em Saudades, em 2021 – Foto: André Rohde/RecordTV/ND

O caso evidenciou a urgência de um grupo especializado em combater ataques às escolas e outros crimes cibernéticos, medida que o então procurador-geral de Justiça de Santa Catarina, Fernando da Silva Comin, já estudava. O CyberGAECO catarinense então foi fundado, inspirado no modelo do Ministério Público de São Paulo, criado três anos antes. Rio Grande do Sul e Goiás também adotaram a mesma estrutura.

A força-tarefa é composta por 13 integrantes: um promotor de Justiça, um delegado da Polícia Civil, um oficial da Polícia Militar, quatro policiais civis, cinco policiais militares e uma assessora jurídica do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC). Desde abril de 2023, o grupo é coordenado pelo promotor Diego Roberto Barbiero.

Coordenador do CyberGAECO, Diego Roberto Barbiero, em entrevista ao ND Mais

Promotor de Justiça do MPSC, Diego Roberto Barbiero assumiu a coordenação do CyberGAECO cinco dias após o atentado em Blumenau, em 2023 – Foto: Beatriz Rohde/ND

Barbiero conta que o objetivo do grupo é mitigar a prática de crimes suscitadas no ambiente virtual. “Estamos em um cenário de migração da criminalidade de rua para a criminalidade virtual. É possível identificar situações com potencial danoso que começam na internet e intervir a tempo, antes que uma tragédia aconteça”, aponta.

‘Dez dias sem dormir’: os desafios do CyberGAECO

O ataque de 2023 em Blumenau ocorreu enquanto o CyberGAECO ainda estava em fase de estruturação. Barbiero assumiu a coordenação cinco dias depois do crime. “O cenário era bem desafiador. As aulas foram suspensas, o caos se instalou”, lembra, em entrevista ao ND Mais.

Na época, havia o temor de novos ataques às escolas acontecerem no dia 20 de abril, data que remete ao massacre de Columbine (EUA) e ao aniversário de Adolf Hitler. “Foram dez dias sem dormir. Horas de intenso trabalho, de colaboração com outros órgãos, instituições e iniciativa privada na identificação de quem estava realizando postagens e fazendo ameaças”, conta Barbiero.

Para evitar uma tragédia, a Operação Escola Segura foi deflagrada em 19 de abril em cinco estados brasileiros. A ação inédita começou com a investigação do CyberGAECO catarinense, que identificou um grupo de adolescentes que incitavam ataques às escolas por meio de plataformas digitais.

Operação Escola Segura começou com investigação do CyberGAECO

Operação Escola Segura, em 19 de abril de 2023, mirou em adolescentes que estimulavam ataques às escolas em cinco estados – Foto: Ricardo Wolffenbüttel/SECOM/ND

A ação cumpriu dez ordens de internação de adolescentes, 13 mandados de busca e apreensão e 11 afastamentos de sigilo de dados em face dos investigados. O trabalho contou com a colaboração do MPSC, do MJSP (Ministério da Justiça e Segurança Pública) e das Polícias Civis de Santa Catarina, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco e Paraná.

“Com a deflagração da Operação Escola Segura, conseguimos levar um pouco de tranquilidade ao ambiente escolar e mostrar que o estado brasileiro tem condições de identificar esse tipo de ameaça e atuar de forma preventiva”, avalia o coordenador.

O atentado à creche de Blumenau também motivou o governo estadual a criar, em 2023, o programa Escola Mais Segura. A iniciativa, aprovada pela Alesc (Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina), reforça a presença de policiais armados nas escolas estaduais.

O programa ainda promove a capacitação da comunidade escolar pelo protocolo FEL (“Fugir, Esconder e Lutar”), estratégia de resposta a situações de emergência.

Nos últimos dois anos, o CyberGAECO de Santa Catarina realizou 40 operações – Foto: Divulgação/MPSC/ND

Entre abril de 2023 e março de 2025, o CyberGAECO deflagrou 40 operações contra os mais diversos crimes cibernéticos em Santa Catarina e cumpriu 72 mandados de prisão, 14 mandados de internação de adolescentes e 211 mandados de busca e apreensão.

Dez pontos em comum entre os agressores

O relatório “Ataques às escolas no Brasil: análise do fenômeno e recomendações para ação governamental”, criado pelo Grupo de Trabalho de Especialistas em Violência nas Escolas, do Ministério da Educação, aponta dez características comuns entre autores de atentados. No geral, são homens socialmente isolados, ativos em comunidades extremistas online, fascinados por armas e ressentidos com a escola e a sociedade.

  1. Tocador de vídeoTodos os perpetradores de ataques às escolas no Brasil são do gênero masculino. Um número significativo se encontra em situação de isolamento social em relação às interações interpessoais presenciais. Contudo, costumam apresentar forte engajamento e alto grau de interação em plataformas da internet, participando de comunidades extremistas.
  2. Evidenciam fascínio e propensão à violência, com demonstração de interesse desmedido por armas, sobretudo armas de fogo.
  3. Incorporam perspectivas e valores de opressão, abarcando manifestações de racismo, misoginia e tendências autoritárias, frequentemente associadas a ideologias de cunho fascista e nazista. Muitas vezes consomem e promovem conteúdos e símbolos neonazistas.
  4. Apresentam constante busca pela construção de sua própria identidade, somada à necessidade de autoafirmação. Em geral, isso se dá diante da percepção de falta de horizonte na vida.
  5. Expressam desdém e ressentimento direcionados tanto à comunidade e instituição escolar quanto à sociedade em geral.
  6. Concebem o ambiente escolar como um lugar de sofrimento e injustiça.
  7. Buscam alcançar notoriedade através da realização de atos violentos, possivelmente motivados por vingança, com o intuito de causar um elevado número de vítimas, visando obter publicidade e reconhecimento em comunidades que incitam o ódio. Manifestam um desejo desproporcional de obtenção e reconhecimento de “poder”.
  8. Praticam uma gamificação da existência, ou seja, aplicam elementos de jogos online na vida real, em esforço para virtualizar a realidade. Em consequência, perdem conexões empáticas com seus semelhantes.
  9. Participam de uma subcultura extremista, consumindo e produzindo conteúdo de natureza odiosa e violenta.
  10. Demonstram inspiração e reverência por autores de atos violentos anteriores, em especial de ataques às escolas.

‘Qualquer um pode ser agressor’: o trabalho do CyberGAECO

Apesar dessas semelhanças, o CyberGAECO evita traçar perfis fixos. A metodologia segue a doutrina americana, que identifica comportamentos online suspeitos, rejeita a negação inicial e faz análise biopsicossocial. “O agressor pode ser qualquer pessoa”, afirma Barbiero.

O CyberGAECO realiza monitoramento diário de redes sociais, da deep web e da dark web — áreas da internet que não são acessíveis por mecanismos de busca e que costumam ser utilizadas para a prática de crimes.

CyberGAECO monitora atividade virtual para prevenir ataques às escolas

Agentes da força-tarefa monitoram plataformas virtuais e identificam códigos usados por extremistas – Foto: CyberGAECO/Reprodução/ND

Os investigadores são treinados para reconhecer códigos e linguagens que funcionam como “apitos de cachorro” na internet. Para pessoas leigas, o conteúdo pode parecer inofensivo, mas contém mensagens subliminares que apenas membros da comunidade reconhecem.

O coordenador relata que, após a identificação de uma mensagem suspeita, o próximo estágio da análise é a superação da negação. “Qualquer escrito, ameaça ou postagem deve ser levado a sério. O investigador precisa superar a tendência de minimizar a situação. Nenhum caso pode ser descartado de imediato. Todo caso é um caso potencial”, afirma.

Depois, a investigação apura se há risco concreto, através do contexto psicológico e social do indivíduo. “Nós refutamos a categorização por identificadores físicos de quem seria o agressor, se é homem ou mulher, qual a idade. O que se busca é entender o fenômeno sob o ponto de vista biopsicossocial”, esclarece. “Comportamentos observados pela própria comunidade escolar, associados a condutas nas redes sociais, são indicativos de um possível risco real”, completa.

Policial militar do programa Escola Segura, em Santa Catarina

Programa Escola Segura reforça policiamento em unidades de ensino do estado desde o ataque em Blumenau, em 2023 – Foto: Ricardo Wolffenbüttel/SECOM/ND

Após uma ampla investigação e identificado o risco potencial, o CyberGAECO realiza uma intervenção e aciona as autoridades locais. Barbiero aponta que as intervenções visam dissuadir o jovem de continuar no caminho criminoso: “Na atuação da infância, não se busca a simples responsabilização, mas sim a compreensão do fenômeno e a aplicação de medidas que possam fazer com que o adolescente entenda o caráter ilícito daquela conduta que almejava praticar”.

Os adolescentes que apresentarem um risco potencial à sociedade podem ser encaminhados ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e ao CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). Os casos mais graves resultam na internação preventiva em instituições socioeducativas.

A internação provisória tem prazo máximo de 45 dias, de acordo com o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente). Após a determinação da medida socioeducativa pelo Poder Judiciário, a privação de liberdade tem prazo máximo de três anos.

VÍDEO: Coordenador do CyberGAECO detalha prevenção de ataques às escolas em SC


Diego Barbiero, coordenador do CyberGAECO, detalha como é investigação realizada pelo órgão – Vídeo: Beatriz Rohde/ND

Motivação dos ataques às escolas

Sobre as motivações por trás dos ataques às escolas, a equipe do CyberGAECO em Santa Catarina entende que existem diversas justificativas por trás de um atentado. “Alguns casos foram motivados por bullying, outros por desilusão amorosa, outros pela própria ausência de interação social na comunidade em que o agressor estava inserido”, detalha Barbiero.

Ataques às escolas podem ser motivados por diversos fatores, como o bullying

Alguns dos ataques às escolas “não têm nenhuma razão”, afirma promotor – Foto: Ricardo Wolffenbüttel/SECOM/ND

“Outros não têm nenhuma razão. Simplesmente porque o assunto foi deliberado na internet, em algum fórum de discussão, e alguém desafiou uma pessoa com baixa instabilidade emocional a fazer determinada ação, e ela fez sem nenhuma razão específica”, complementa.

Técnicas de Investigação

Rubens Waberski, especialista em cibersegurança da Akamai Technologies destaca o quão desafiante é realizar esse tipo de investigação. “O anonimato dificulta as investigações. Os cibercriminosos adotam medidas extras de proteção de identidade para agir de forma maliciosa nas redes, sem punição. Eles não apenas utilizam perfis falsos, como ativam VPNs e outras técnicas para ocultar sua identidade”, constata.

CyberGAECO apura crimes cibernéticos na deep web, que vão desde golpes financeiros a exploração sexual – Foto: Imagem criada por IA/ND

Waberski relata que, para descobrir a origem de algumas mensagens, são necessárias técnicas avançadas de perícia digital, rastreamento de IPs e uso de inteligência artificial.

Trabalho sigiloso do CyberGAECO busca evitar ‘efeito copycat’

A atuação dos agentes do CyberGAECO no submundo virtual — onde buscam possíveis ameaças à segurança pública — exige discrição. O sigilo nas investigações é fundamental para evitar o chamado “efeito copycat”, quando agressores se inspiram em ataques anteriores a escolas e passam a idolatrar seus autores. “É um trabalho árduo e silencioso, que acaba não indo ao conhecimento de muitas pessoas, mas que é feito com muita ênfase pela nossa equipe”, garante o coordenador da força-tarefa.

O responsável pelo ataque de Blumenau em 2023, por exemplo, se espelhou na chacina de Saudades em 2021, em mais um resultado do efeito copycat, aponta o relatório do Ministério da Educação. A maioria dos ataques às escolas no Brasil costumam ser perpetrados por alunos ou ex-alunos, possivelmente como reação ao bullying e outros sofrimentos no ambiente escolar. No entanto, os dois casos de Santa Catarina são os únicos em que os autores não tinham conexão com as instituições de ensino escolhidas, aponta o relatório.

Familiares de vítimas do ataque à creche de Saudades manifestam luto

Autor do ataque à creche de Blumenau, condenado a 220 anos de prisão, teria se inspirado no assassino de Saudades, condenado a 329 anos – Foto: Willian Ricardo/Reprodução/ND

Alguns episódios terminam com o suicídio. O assassino de Saudades, de 18 anos, tentou tirar a própria vida desferindo golpes da espada contra si. No entanto, ele foi sobreviveu e foi hospitalizado em estado grave. Em agosto de 2023, o Tribunal do Júri o condenou a 329 anos e quatro meses de reclusão, em regime fechado, por cinco homicídios triplamente qualificados contra três crianças e duas mulheres, além de outras 14 tentativas de homicídios qualificados.

Já o responsável pelo massacre de Blumenau se entregou voluntariamente à polícia logo após o crime. “Os policiais, naquele momento, não tinham a dimensão e nem sabiam exatamente qual crime ele estava confessando”, relatou o delegado Rodrigo Raitz na época. O autor foi condenado pelo Tribunal do Júri a 220 anos de reclusão em regime fechado, em 29 de agosto de 2024, por quatro homicídios qualificados e cinco tentativas de homicídio qualificado.

Sinais de alerta: o papel das famílias e da comunidade

Para a médica pediatra e psicóloga Catarina Costa Marques, os danos causados pela exposição excessiva à internet na saúde mental dos jovens são cada vez mais evidentes. Ela aconselha que pais e responsáveis tenham acesso às senhas e ao histórico de navegação dos filhos.

Psicóloga recomenda que pais monitorem navegação dos filhos na internet

Comunidades extremistas atraem jovens com baixa autoestima e dificuldade de estabelecer conexões no mundo real, aponta psicóloga – Foto: Canva/Divulgação/ND

“Nós, profissionais que trabalhamos com saúde mental, entendemos que não existe privacidade na internet. A partir do momento em que você dá o celular para uma criança ou para um adolescente, você tem que sim ter acesso. Isso tem que ser acordado no momento que você dá o dispositivo para o seu filho”, recomenda.

“Não é invasão de privacidade. Conforme o adolescente vai crescendo, vai mostrando responsabilidade, a gente vai dando mais liberdade. Mas isso tem que ser gradual”, reforça.

Rubens Waberski, especialista em cibersegurança da Akamai Technologies chama atenção para o cunho das mensagens às quais adolescentes são expostos diariamente nas redes sociais. “Hoje em dia, é necessário monitorar de perto não apenas as postagens dos jovens, como também o conteúdo que está sendo apresentado pelas plataformas”, adverte.

“Qualquer sinal de mensagem com discursos de ódio, intolerância e violência, teor depressivo com sugestões de automutilação e suicídio, envolvimento com atividades ilegais como drogas e armamento, são alertas para um controle mais rigoroso do uso das redes”, complementa.

O especialista recomenda que os pais, responsáveis e a comunidade escolar estejam atentos às seguintes práticas no meio digital:

  • Cyberbullying: assédio e intimidação virtual que pode afetar a saúde mental dos adolescentes;
  • Grooming: tática em que adultos com intenções maliciosas se passam por menores na internet para ganhar a confiança de crianças e adolescentes;
  • Sexting: troca de mensagens de teor sexual em que desconhecidos podem exigir fotos íntimas;
  • Desafios virais: capazes de incentivar comportamentos arriscados, automutilação ou violência contra os outros;
  • Vazamento e roubo de dados: a exposição excessiva de informações pessoais na internet deve ser evitada, principalmente quando se trata de crianças ou adolescentes;
  • Conteúdos extremistas e ataques de engenharia social: envolvem a manipulação psicológica para induzir as vítimas a realizar ações que comprometam a segurança.

Há comportamentos que também podem indicar que o jovem está envolvido com conteúdos e grupos perigosos. “Na maioria das vezes, o uso excessivo do celular e do computador e o hábito de apagar frequentemente o histórico de navegação podem ser um sinal de alerta, indicando tentativas de esconder atividades perigosas ou inadequadas”, ressalta Waberski.

Ele recomenda que os responsáveis observem se os adolescentes estão interagindo com desconhecidos na internet, aderindo a desafios virais e apresentando algum interesse súbito por tópicos sensíveis, ideologias extremistas ou violência contra minorias.

Pais devem ficar atentos a mudanças no comportamento dos filhos

Alterações no sono, apetite e comportamento podem indicar que a criança ou o adolescente está em sofrimento – Foto: Reprodução/Anthony Tran/Unsplash

Outros cuidados incluem o controle do tempo de acesso às redes sociais e dispositivos móveis, configuração da privacidade das contas, emprego de senhas fortes e instalação de softwares de segurança, como forma de garantir a navegação segura e evitar ameaças como o roubo de dados e a contaminação por vírus.

O cuidado porém, não deve se limitar ao seio familiar, mas se estender às escolas. O coordenador do CyberGAECO considera que os professores são fundamentais para previnir uma escalada de violência. “Eles conseguem identificar quando o adolescente não está tendo uma boa convivência naquele ambiente escolar e, quanto mais cedo isso for reportado, as intervenções por parte dos órgãos de assistência social e de atendimento psicológico podem ser mais positivas”, afirma.

Prevenção de cibercrimes superam fronteiras

Desde sua criação, o CyberGAECO do MPSC evitou ataques às escolas de Santa Catarina e até de outros estados. Um atentado que estava planejado para o dia 14 de abril de 2023, em Feira de Santana, na Bahia, foi frustrado com a investigação da força-tarefa catarinense.

Investigações do CyberGAECO não se restringem a Santa Catarina

Investigação do CyberGAECO identificou potencial ameaça a uma escola na Bahia e impediu ação de adolescente – Foto: Ricardo Wolffenbüttel/SECOM/ND

“Acabamos identificando um conteúdo que tinha, dentro dos critérios preestabelecidos na nossa metodologia investigativa, potencial resultado danoso. Então, foi feita a interlocução imediata com o próprio GAECO da Bahia, repassando as informações”, recorda Barbieri.

No dia previsto para o ataque, a Operação Proteção Ativa foi deflagrada pelo GAECO da Bahia e cumpriu mandado de busca e apreensão na casa do suspeito de 15 anos. Foram apreendidos dois facões, aparelho celular, computador e documentos.

“O crime cibernético não é geolocalizado como o crime comum. Essa comunicação entre as autoridades nacionais precisa ser realizada de forma muito ágil. Também é feita com autoridades de outros países do mundo, principalmente quem é signatário da Convenção de Budapeste”, nota Barbieri.

A Convenção sobre o Crime Cibernético, firmada pelo Conselho da Europa em 2001, em Budapeste, na Hungria, promove a cooperação internacional e compartilhamento de informações no combate a crimes cibernéticos. O Brasil aderiu ao tratado em 2023.

CyberGAECO combate crimes cibernéticos em Santa Catarina

“No futuro os delitos virtuais superarão os delitos normais”, prevê coordenador do CyberGAECO – Foto: Canva/Divulgação/ND

Barbieri revela que entidades da iniciativa privada, que atuam no ambiente virtual, também colaboram com as investigações, fornecendo dados dos investigados e informações solicitadas judicialmente com agilidade. “Essa integração faz com que as investigações cibernéticas sejam desenvolvidas de maneira célere, até porque a resposta a esse tipo de incidente não pode demorar, sob pena de ter um desfecho trágico”, enfatiza.

Olhando para o futuro, o coordenador prevê que a expertise desenvolvida pela equipe do CyberGAECO será essencial a todos os agentes de segurança e Justiça. “Se a progressão continuar no ritmo em que se encontra, no futuro os delitos virtuais superarão os delitos normais”, antecipa. “Então será exigida a cada delegacia de polícia a expertise no tratamento de provas digitais. Nosso sentimento é compartilhar o conhecimento e estimular que colegas se aperfeiçoem e compreendam o crime digital”, conclui Barbiero.

Além dos ataques às escolas, os agentes do CyberGAECO combatem crimes cibernético que ferem o direito à vida, à liberdade física e à liberdade econômica dos cidadãos. Golpes financeiros, fraudes na comercialização de criptomoedas, pornografia infantil e exploração sexual na internet estão entre os alvos do órgão.

Adicionar aos favoritos o Link permanente.