“Mamãe, por que os humanos fazem isso com o clima?”
A pergunta me foi feita em meio a mais uma tempestade de verão, bem típica de fevereiro. Aqui em Brasília, essas tempestades carregam junto com elas árvores, carros, e a energia – que sempre cai e demora horas para voltar. Desta vez, foram mais de seis horas. Em casa, uma mãe que precisava de Internet para trabalhar, e dois filhos com sintomas típicos de ansiedade climática.
Daí era hora de perguntar a mim mesma – que dizer a eles? “Vai ficar pior, isso aqui é apenas o teaser, a introdução do que vocês viverão pelas próximas décadas. Se derem sorte.”
Trabalho com mudanças climáticas há oito anos. Às vezes, dá saudades da ignorância, da vida pré-relatórios do IPCC, pré-COPs, pré-prognósticos apocalípticos. O ruim mesmo é a certeza de que depois disso tudo, não vai dar para desver. É um ponto de não retorno pessoal. Daqui a pouco, é o planeta que não conseguirá mais voltar.
Enquanto escrevo estas linhas, o Brasil já enfrentou mais de quatro ondas de calor apenas neste ano — e ainda estamos no início de abril. O embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, tem razão ao afirmar que é urgente repensar as formas de financiar a agenda ambiental. Essa responsabilidade vai muito além dos governos: trata-se de uma missão coletiva, global, que envolve trilhões de dólares para tornar viável um futuro sustentável.
Há uma década, o cenário era outro. Hoje, entretanto, há um consenso crescente de que uma transição energética rápida, segura e confiável representa não só uma necessidade, mas também uma oportunidade estratégica para investidores. Muitos estão prontos para apoiar financeiramente essa mudança — desde que tenham clareza e segurança de que estão apostando em projetos viáveis, baseados em evidências científicas e alinhados às metas do Acordo de Paris. Mas esse é um tema que merece um próximo texto.
Por ora, o que ecoa é o silêncio diante da inércia de tantos que ainda postergam a transição necessária e insistem em negar a ciência. E, nesse silêncio, ressoa a pergunta inquietante do meu filho de 10 anos — ainda sem resposta.
Mariana Caminha é jornalista e especialista em estratégias de comunicação voltadas para crise climática e desenvolvimento sustentável.