CV: marido da Dama do Tráfico, Tio Patinhas é condenado a 36 anos

A Justiça do Amazonas condenou, na quarta-feira (9/4), Clemilson dos Santos Farias (foto em destaque), conhecido como Tio Patinhas, a 36 anos de prisão por homicídio qualificado e participação em organização criminosa. A sentença foi proferida pelo Tribunal do Júri de Manaus e encerra um processo marcado por violência, erro trágico e o envolvimento direto de um dos principais nomes do Comando Vermelho (CV) no estado.

Clemilson foi considerado mandante da morte de Adriana Monteiro da Cruz, assassinada a tiros na frente da própria casa, em julho de 2017, no bairro Novo Aleixo. Segundo as investigações, Adriana foi morta por engano. O verdadeiro alvo seria sua irmã, Simone, conhecida como “Nega”, que à época era companheira de um traficante rival à facção liderada por Tio Patinhas.

De acordo com o Ministério Público, Adriana foi executada na frente da mãe, em uma cena que comoveu vizinhos e chocou a cidade. Dois homens chegaram a pé e dispararam contra a jovem, que estava sentada em frente à residência. Ela foi atingida no peito e morreu no hospital.

Os executores do crime, Mardson de Oliveira Serrão e Rodrigo Pereira da Silva, também morreram durante o processo, assim como o segundo mandante, Alessandro Campos da Costa, e tiveram suas punibilidades extintas.

O julgamento

Presidido pelo juiz Diego Daniel Dal Bosco, o julgamento contou com a atuação dos promotores Marcelo Bitarães e Leonardo Tupinambá. Três testemunhas foram ouvidas pela manhã e, à tarde, o réu foi interrogado. Após as sustentações orais da acusação e da defesa, o júri decidiu pela condenação de Clemilson, que continuará preso.

Conhecido como “Tio Patinhas” por sua atuação discreta e suposto controle financeiro da facção, Clemilson Farias, de 45 anos, já havia sido condenado a 31 anos de reclusão em 2022 por associação para o tráfico, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Em 2018, ele foi preso em um apartamento de luxo em Recife, após ser considerado um dos criminosos mais procurados do Amazonas.

Mesmo após uma breve soltura em 2022 — quando teve sua prisão revogada por falta de provas — voltou a ser detido dias depois, com nova ordem judicial. Durante investigações, chegou a negar qualquer envolvimento com o tráfico, alegando ter começado a trabalhar aos 10 anos e possuir um histórico de empregos humildes até se tornar dono de um micro-ônibus de lotação.

O elo com a Dama do tráfico

Clemilson é casado com Luciane Barbosa Farias, apelidada de “Dama do tráfico”, que se tornou nacionalmente conhecida após participar de reuniões com autoridades do Ministério da Justiça, em Brasília, em 2023. Formada em direito, Luciane se apresentava como defensora dos direitos de presos do sistema carcerário. No entanto, ela própria já foi condenada a 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e envolvimento com o Comando Vermelho.

As investigações apontam que Luciane utilizava um salão de beleza para lavar dinheiro da facção. Seu patrimônio, segundo dados do Imposto de Renda, saltou de R$ 30 mil para R$ 346 mil em apenas um ano. Ela e Clemilson aparecem atualmente como sócios de uma empresa de transportes.

A presença de Luciane em reuniões com membros do alto escalão do Ministério da Justiça causou forte repercussão em 2023. Apesar de não constar em agendas oficiais, ela foi recebida por secretários da pasta — incluindo Elias Vaz, da Secretaria Nacional de Assuntos Legislativos, e Rafael Velasco Brandani, da Secretaria de Políticas Penais. O ministério justificou que ela participou como acompanhante de representantes da Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim), responsável por solicitar as audiências.

 

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