São Paulo – A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal de São Paulo que vai investigar a realização de bailes funk clandestinos, os chamados pancadões, deve abrir uma nova batalha política entre direita e esquerda na capital paulista.
Enquanto a primeira condena a realização dos bailes, relacionando os eventos à perturbação do sossego e ao crime organizado, a segunda busca valorizar a busca por cultura e lazer nas periferias.
Proposta pelo ex-MBL Rubinho Nunes (União) e aprovada em plenário no último dia 15/4, a CPI tem como objetivo “investigar possíveis omissões de órgãos públicos na fiscalização da perturbação do sossego, especialmente no combate a festas clandestinas e’ pancadões’ no município”.
“Fui motivado por um grito que ecoa da periferia e não é o do som alto, mas da senhora que não consegue dormir, da mãe que reza pro tráfico não cooptar seus filhos. A CPI não é contra o som, é contra o crime que usa o som como escudo”, afirmou o vereador ao Metrópoles.
Segundo o parlamentar, o foco será nos organizadores e na relação entre as festas e o crime organizado, além dos agentes públicos “que estão prevaricando na deflagração dos pancadões, em resumo o alvo são os que faturam em cima da baderna”.
O vereador costuma postar em suas redes sociais fiscalizações que faz pessoalmente em pancadões pela cidade. Nas publicações, aparece ao lado de policiais fechando estabelecimentos que promovem o som e vende bebidas alcóolicas durante os bailes, as chamadas adegas.
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“Há mais de dois anos eu passo as madrugadas em operações junto à polícia para combater essas festas clandestinas que acontecem nas comunidades. É uma situação apocalíptica que acomete as pessoas mais pobres, que além de conviver com a miséria, ainda tem que conviver com o crime organizado fazendo bailes na porta das suas casas, achacando seus filhos e impedindo o sono do trabalhador”, afirmou Rubinho Nunes na tribuna da Câmara após a aprovação da CPI.
Embora seja desafeto do prefeito Ricardo Nunes (MDB) por ter apoiado Pablo Marçal (PRTB) nas eleições de 2024, a agenda anti-pancadões do vereador tem a simpatia do governo. O prefeito também costuma se colocar contra a realização dos bailes e delegou ao secretário de Segurança Urbana, Orlando Morando, a missão de coibir os pancadões.
Cultura periférica
As bancadas da esquerda da Câmara Municipal, por outro lado, prometem contrapor esse entendimento que “criminaliza” os bailes funk. “Quem quer que esteja na CPI pelos partidos da oposição, fará um debate justo e qualificado, como contraponto ao sensacionalismo e moralismo da extrema direita”, disse ao Metrópoles a vereadora Amanda Paschoal (PSol).
Os membros da CPI ainda não foram indicados, mas Amanda afirma que vai pleitear a vaga junto ao partido. Para ela, a extrema direita, aliada com a base do governo, vai usar a CPI como “palanque eleitoral”. “Um palco para seguirem proferindo as maiores atrocidades contra a juventude negra, as periferias e o funk”, diz.
“Quando na realidade a prefeitura deveria se debruçar em estruturar e organizar os bailes, garantindo não só a manutenção da cultura no território, mas também elaborando estratégias para garantir a segurança das juventudes periféricas e o bem estar dos moradores”, afirma a vereadora.
Polêmica das CPIs
A CPI dos Pancadões foi aprovada junto com outra comissão, proposta pela vereadora Janaína Paschoal (PP), que vai investigar o escaneamento da íris de cidadãos em troca de dinheiro por parte da empresa TFH (Tools for Humanity).
As duas CPIs foram aprovadas após uma manobra feita pela base do prefeito para não instaurar outras duas comissões que já haviam sido apreciadas em plenário, mas que têm maior potencial de dano ao governo: a CPI das enchentes no Jardim Pantanal e a CPI das fraudes nas habitações de interesse social.
Após pressão da gestão Nunes, a base aliada não indicou seus integrantes para a CPI dentro do prazo previsto pelo regimento, vencido na última quinta-feira (17/4). A oposição entrou na Justiça, que estendeu o prazo por mais 15 dias.