Cracolândia vazia em SP: operação ou migração de usuários?

São Paulo – O que deveria ser um sucesso das autoridades virou um enigma. Na manhã desta terça-feira (13), a Cracolândia, tradicionalmente ponto de consumo e tráfico de drogas em São Paulo, amanheceu deserta, deixando autoridades e moradores em choque. Nenhuma movimentação, sem usuários, sem venda, sem entorpecentes.

Embora a Prefeitura de São Paulo afirme que o esvaziamento é fruto de uma operação de segurança, o que aconteceu com os dependentes que frequentavam o local segue um mistério sem respostas.

“Estrangulando o tráfico”, mas e os usuários?

Segundo a Prefeitura, a ação para desmantelar o tráfico começou na sexta-feira (9) e envolveu o governo estadual, a Polícia Militar e a Guarda Civil Metropolitana. Entre os métodos usados, o reforço no policiamento e o uso de cães farejadores — a mesma estratégia conhecida como “estrangulamento do tráfico”, segundo Ricardo Mello Araújo (PL), vice-prefeito da cidade.

Mas, ao contrário do que as autoridades pregam, uma pergunta essencial continua no ar: onde foram parar as pessoas que dependem das drogas e estavam ali? A prefeitura não sabe. A falta de dados consolidados sobre as internações e o ceticismo dos próprios técnicos da área social indicam que o sucesso dessa operação pode ser muito mais superficial do que o esperado.

“A gente tem forçado, no bom sentido, as pessoas a se internarem porque a droga não está mais chegando,” disse Mello.

E se a solução for apenas empurrar o problema para longe dos holofotes?

O efeito invisível: mudança ou migração?

Enquanto isso, comerciantes da região notam um ar mais limpo, sem as cenas de sujeira e tumulto habituais. “É estranho. Em dias normais, era muita sujeira, barulho, briga”, comentou uma lojista. Para um funcionário de hotel, a mudança foi vista como um alívio, mas a real questão continua: isso é uma solução ou só uma migração do problema?

Ainda há quem evite comemorações. Para Orlando Morando, secretário de Segurança Urbana, o esvaziamento pode ser temporário. “Não acabou”, alertou ele, ao comentar sobre a possibilidade de a situação se transferir para outro ponto da cidade. O secretário estadual de Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP), reforçou a ideia de que o foco da operação é a repressão ao crime organizado, como o PCC. Mas será que isso resolve o verdadeiro problema social?

Políticas públicas em xeque

Especialistas no tema e fontes da própria prefeitura expressam uma opinião bem mais crítica. A ideia de que o esvaziamento é um “sucesso” de uma operação repressiva soa vazia quando se pensa no real destino das pessoas afetadas. A migração para outras áreas pode ser temporária, mas a falta de apoio social duradouro gera um ciclo vicioso. Como se viu antes, a repressão sem medidas eficazes de redução de danos tende a falhar.

A dispersão foi visível em pontos como a praça Marechal Deodoro, a rua David Bigio, no Bom Retiro, e até em áreas mais distantes como Vila Maria (zona norte) e Largo de Santo Amaro (zona sul). A política de “limpeza” tem feito um efeito, mas quem sai não recebe o acompanhamento necessário. A verdadeira resposta não está na repressão pura e simples, mas na construção de alternativas reais para esses indivíduos.

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