Fúria contra crianças no Brasil cresce 36% em 2024, 13 são vítimas de violência por hora.
21.856 jovens assassinados em 2023.
Números que machucam. Em 2023, houve recorde de 115 mil notificações de violência não letal contra crianças e adolescentes no Brasil. Nada menos que 35.396 bebês, entre 0 e 4 anos. 53.951 crianças entre 5 e 14 anos, e 26.037 adolescentes entre 15 e 19 anos. A maior parte é cometida pelos pais, padrastos, madrastas e outros familiares.
A triste realidade está no Atlas da Violência 2025, divulgado nessa segunda pelo IPEA e o Forum Brasileiro de Segurança Pública. Nove em cada 10 homicídios de crianças de 0 a 4 anos são cometidos dentro de casa, informa o Atlas. E 83,9% dos adolescentes entre 15 e 19 anos, morreram por armas de fogo.
Em 2023, 21.856 jovens brasileiros foram assassinados, uma média de 60 jovens mortos violentamente por dia. Sessenta por dia. Quando se fala em números, não se tem exatamente a dimensão da tragédia. Considerando a série histórica entre 2013 e 2023, foram 312.713 jovens vítimas da violência letal no Brasil.
A violência cresceu em 2023 em praticamente todos os estados brasileiros. Para surpresa dos analistas, o isolado e longíquo Amapá – segundo menor estado em população – lidera essa estatística. Com aumento registrado de 41% em mortes violentas em 2024, em comparação a 2023, teve 57,4 assassinatos por 100 mil habitantes. Atrás dele, a Bahia, Pernambuco, Roraima, Alagoas. O Rio de Janeiro está em 17º lugar, com aumento de 13%. São Paulo, em último, aumento de 6,4%.
São Paulo? Será? Não duvido do Atlas, mas questiono a subnotificação tão comum no País. SP de Tarcísio de Freitas tem a PM mais violenta do País. Entre janeiro e outubro de 2024, alcançou o trágico patamar de 676 mortes, resultado de operações e abordagens da Polícia Militar. O número consta da base de Dados Nacionais de Segurança Pública do Ministério da Justiça.
Em 16 de fevereiro deste ano, o jornal inglês The Sun fez extensa sobre a violência em São Paulo, e classificou a PM paulista como a mais perigosa do mundo”. Diz, sob o titulo “Ruas de sangue”, que a PM obedece ordens de Tarcisio e lembra que o governador é candidato à Presidência com “retórica violenta”.
O Brasil, em 2023, diz o Atlas, contabilizou 46 mil homicídios – mais de cinco assassinatos por hora. Num quadro geral, queda de cerca de 30% em números absolutos de homicídios – de 65 mil para 45 700. Realidade que não se espelha quando o assunto é atentado contra as mulheres.
Entre 2022 e 2023, houve crescimento de 2,5% dos casos de feminicídio. A média nacional chegou a 10 mulheres mortas por dia. Dessas, 68% eram negras.
O número de mulheres vítimas de violência não letal no Brasil também cresce. E impressiona: em 2023, o Ministério da Saúde registrou alta de 22%, 180 mil mulheres foram atendidas. Agora, pasmem: desse total, uma em cada quatro vítimas tinha entre 0 a 14 anos.
PS: Se você souber ou suspeitar de atos de violência contra uma criança ou adolescente, denuncie. Disque 100. Ou entre nos aplicativos Direitos Humanos, Conselho Tutelar, Delegacia de Policia ou Ministério Público.
TRISTEZA – O ex-presidente do Uruguai, Pepe Mujica, tinha hábitos e princípios muito parecidos aos do Papa Francisco. Simplicidade, fraternidade, tolerância. Perdemos em pouco dias dois líderes fundamentais, que nos deram exemplos imperiosos para fazer a vida valer a pena.
Em 2012, no Brasil, Mujica discursou antevendo o que nos reservava: “Estamos governando a globalização ou é a globalização que nos governa? É possível falar de solidariedade e dizer que “estamos todos juntos” em uma economia baseada na competição selvagem? Até onde vai a nossa fraternidade?”, duvidou.
E ensinou: “A política não deveria ser uma profissão da qual você ganha a vida; deveria ser uma paixão pela qual você vive. Uma paixão criativa, que não garante que erros não serão cometidos. Nossas limitações humanas nos obrigam a cometer erros. Mas devemos abordar a política como um artista faz ao criar uma obra: com a melhor honestidade que consiga e dando tudo de si.”
Pepe Mujica garantiu a liberdade que só os uruguaios tem hoje na America Latina. Legalizou a maconha, o aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Mirian Guaraciaba é jornalista