Brasília – O que para parte da imprensa brasileira e políticos da extrema-direita foi “exagero” ou “falta de decoro”, virou bandeira internacional. Brigitte Macron, primeira-dama da França, se uniu a Rosângela da Silva (Janja) na campanha contra o bullying digital e os perigos de plataformas desreguladas que atingem, principalmente, crianças e adolescentes.
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Em vídeo publicado nesta terça-feira (20), Brigitte citou a tragédia relatada por Janja — a morte de uma menina de 8 anos que inalou desodorante em um desafio de rede social — e disse que o caso não é isolado. “Estamos enfrentando um flagelo mundial”, afirmou.
Macron se une à luta de Janja por redes mais seguras
Enquanto parte da classe política brasileira torce o nariz para a atuação pública de Janja, a esposa de Emmanuel Macron tratou o tema com a seriedade que merece. Lembrou iniciativas francesas como o canal 3018, especializado em denúncias de crimes cibernéticos, e defendeu que a violência digital seja tratada como crime penal.
A mobilização deu novo fôlego à luta de Janja, que desde a fala direta ao presidente Xi Jinping, durante jantar oficial na China, tem sido alvo de ataques da imprensa conservadora e de bolsonaristas ressentidos com qualquer esforço por regulamentação digital.
A extrema-direita tenta silenciar quem denuncia o óbvio
Na segunda-feira (19), em Brasília, Janja cravou: “Não há protocolo que me faça calar se eu tiver a chance de proteger nossas crianças”. A fala veio durante a abertura da Semana Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes, após dias sendo atacada por supostamente “forçar” uma conversa com o presidente chinês.
Saiba como a França está lidando com a violência nas redes na reportagem do Le Monde (em francês).
Não há mistério. O que incomoda a extrema-direita é ver uma mulher, progressista e combativa, ocupando espaços de poder e denunciando os riscos que as big techs desreguladas representam para a infância — justamente os mesmos espaços que essa turma protege com unhas, dentes e fakenews.
Lula reage a vazamentos e denuncia traição de aliados
A tentativa de transformar um gesto corajoso em “gafe diplomática” teve outro efeito: expôs o jogo sujo de bastidores. O vazamento da conversa entre Janja e Xi Jinping, ocorrido durante jantar oficial, irritou profundamente Luiz Inácio Lula da Silva, que classificou o episódio como “deslealdade”.
“É inadmissível que pessoas escolhidas a dedo por mim quebrem a minha confiança atacando a minha mulher”, disparou o presidente durante o voo de volta ao Brasil. Embora sem citar nomes, estavam presentes no jantar ministros como Rui Costa, Carlos Fávaro, Alexandre Padilha, Simone Tebet, Mauro Vieira e Alexandre Silveira.
Por que a campanha de Janja importa — e incomoda
O apoio de Brigitte Macron escancarou o que parte do Brasil se recusa a ver: a violência digital é uma questão de saúde pública global. E sim, é papel do Estado — e de figuras públicas — agir. Quando uma criança morre por causa de um desafio idiota nas redes, não é uma fatalidade. É um sistema falhando. E quem tenta silenciar isso, faz parte do problema.