O sentido da história (por Ricardo Guedes)

Outro dia, por recomendação de um grande amigo meu, Sérgio Botrel, li o livro “A Lógica do Cisne Negro”, de Nassin Taleb, que diz que “o que você não sabe é muito mais relevante do que aquilo que você sabe”. O homem procura pela racionalidade em suas explicações, empresta a lógica à História na busca de conforto, simplifica a sequência com teorias que lhes dão a sensação do bem-estar. Taleb chega à crítica irônica de que os “especialistas são zeros à esquerda metidos a besta”.

Paulo Paiva, em seu artigo, “Brasil: liberta teu Prometeu”, diz que “Nos últimos 250 anos, o mundo experimentou um período de grande prosperidade… Receia-se que esse processo secular de expansão esteja com seus anos contatos”. Em verdade, herdamos destes últimos 250 anos de Revolução Industrial a concepção de racionalidade, devido ao avanço progressivo da tecnologia, que nos dá conforto ao pensarmos que estamos a avançar.

A simplificação da realidade é um fato nas teorias, tanto físicas como sociais. Toda teoria tem no máximo três variáveis: a dependente, a causal e a interveniente, que não dão conta da realidade em geral, somente parcialmente.

A ciência é um modelo da realidade, e não a realidade em si, como diz Carl Hempel em “Philosophy of Natural Science”. A ciência avança segundo paradigmas sucessivos, conforme Thomas Kuhn em “The Structure of Scientific Revolution”; com critérios na sequência validados pela comunidade científica, como diz Diane Crane em “The Invisible College”. Em “Principia Mathematica”, Newton questiona suas teorias, como a afirmação de que, na Lei da Gravidade, “dois corpos se atraem como se se atraíssem na razão direta de suas massas, e inversamente proporcional ao quadrado da distância”, mas não se sabe realmente o porquê se atraem; e Marx, em “Das Grundrisse” (Os Fundamentos), diz que sua teoria do Modo de Produção, que deveria explicar as transformações históricas, não consegue explicar a passagem do feudalismo para o capitalismo. Teóricos de nossa recente história, no reconhecimento de suas limitações.

Em verdade, a transição de Roma para a Idade Média, e da Idade Média para o Renascentismo, estão muito mais para Toynbee com as suas ‘Elites Criativas” na explicação do início e término das civilizações, do que para Marx em sua teoria determinista do Modo de Produção. E estas teorias não são complementares, mas opostas.

Podemos supor que a História é linear? O tempo hoje passa mais depressa do que em épocas anteriores? Nos 250 anos de Roma, de 70 AC a 180 BC, com o tanto que aconteceu, não teria a História sido tão transformativa quanto nestes nossos tempos da Revolução Industrial? A Idade média foi tão estanque, quanto se supõe, ao mesmo tempo em que as grandes transformações das cidades ocorriam na Pérsia e na China? E hoje, o que se pode prever?

O Iluminismo, quando aplicado como ideologia, como se fosse a razão, leva-nos a caminhos tortuosos.

Noah Harari, em “Sapiens: a Brief History of Humankind”, diz que o homem é um “acidente biológico”, que deve desaparecer possivelmente em “um século ou mais”. Um acaso da evolução, e de irracionalidade extrema.

A qual teoria podemos nos fincar? Parece que o imponderável na História é muito mais significativo do que a nossa vã filosofia possa imaginar.

 

Ricardo Guedes é formado em Física pela UFRJ e Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago

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