Zika, chikungunya e dengue: entenda a diferença entre as doenças

O mosquito Aedes aegypti é um velho conhecido dos brasileiros: quase todo mundo sabe identificar o pernilongo listradinho. Extremamente adaptado à vida urbana, o inseto é vetor de alguns vírus, incluindo os que causam a dengue — responsável pela epidemia em curso no país –, zika e chikungunya.

“A dengue e a zika são provocadas por vírus do gênero Flavivirus. O zika ganhou atenção global devido à sua associação com complicações neurológicas e congênitas, como a síndrome de Guillain-Barré e microcefalia, respectivamente. O vírus chikungunya, pertencente ao gênero Alphavirus, é importante por causar intensas dores articulares, que podem se prolongar por meses ou anos”, explica o infectologista Leonardo Weissmann, do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e professor da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) – Campus Guarujá.

Apesar das três doenças serem consideradas arboviroses, elas são ligeiramente diferentes uma das outras. Todas têm sintomas sistêmicos, ou seja, dor no corpo e articulações, febre e cefaleia — o que as distingue é, principalmente, a intensidade de cada um dos sinais.

A zika, por exemplo, costuma ser uma doença branda, e o paciente normalmente apresenta manchas pelo corpo, conjuntivite, erupções cutâneas, mal-estar geral.

“Já a chikungunya pode ter febre e dor no corpo, mas o principal marcador são as dores articulares extremamente intensas e que podem se tornar crônicas. Geralmente, os sintomas duram mais de uma semana, mas podem demorar meses para desaparecer”, explica o infectologista André Bon, do Hospital Brasília, da rede Dasa no DF. Ele lembra que os pacientes também apresentam dores nas pequenas e médias articulações, como dedos, punhos, tornozelos e joelhos.

A dengue normalmente cursa com febre bastante alta, dor no corpo, na cabeça e atrás dos olhos, sonolência e/ou irritabilidade, diminuição do volume de urina e da temperatura do corpo, além de desconforto respiratório. As manchas planas e vermelhas e coceira podem surgir, mas não são obrigatórias.

Na segunda etapa da infecção, que acontece entre o quinto e sétimo dias, é importante ficar atento para os sinais de desenvolvimento da dengue grave — sangramentos no corpo, dor abdominal, vômitos, tontura e desmaios. Caso qualquer um desses sintomas apareça, é importante procurar um médico imediatamente.

Imagem mostra o mosquito aedes aegypti em primeiro plano - Metrópoles
Mosquito Aedes aegypti é capaz de transmitir zika, dengue e chikungunya

Epidemia tripla de zika, chikungunya e dengue?

Como são transmitidas pelo mesmo mosquito, uma dúvida comum é se as três doenças não deveriam estar em epidemia ao mesmo tempo. Porém, o Aedes aegypti nem sempre carrega todos os vírus e nem os transmite da mesma maneira — ele é mais eficaz para passar o patógeno responsável pela dengue, por exemplo, e quanto mais pessoas com a doença, mais ela circula.

Outra explicação é a exposição da população às doenças. Bon explica que, ao contrário da dengue, que tem quatro sorotipos, a zika e a chikungunya têm apenas um. Por isso, quem já foi infectado uma vez já tem imunidade contra as doenças para o resto da vida. “Como tivemos grandes epidemias no passado, é possível que já tenhamos um contingente de pacientes imunes às condições na população relativamente alto. Por isso, os casos são poucos”, ensina.

Também fazem a diferença o clima, a densidade populacional dos mosquitos e o sucesso das intervenções de saúde pública. “Por essas razões, pode-se observar um ano com alta incidência de dengue, enquanto as infecções por zika e chikungunya permanecem menos comuns. Isso não exclui a possibilidade de surtos: esses eventos dependem das mesmas complexas interações entre vírus, vetor, ambiente e ações humanas”, afirma Weissmann.


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O vetor perfeito

Weissmann explica que o mosquito tem várias características que o tornam particularmente eficaz na transmissão de doença. A primeira delas é sua capacidade de se adaptar a ambientes urbanos, já que se reproduz em recipientes de água parada que são encontrados perto de residências.

“Além disso, a predileção do Aedes aegypti por se alimentar de sangue humano, em comparação com outros animais, facilita a disseminação desses vírus entre as pessoas. Essa espécie também se destaca pela sua capacidade de carregar múltiplos patógenos simultaneamente, o que significa que um único mosquito pode transmitir diferentes doenças durante sua vida”, conta o infectologista.

E não é só o Aedes aegypti que é capaz de carregar os vírus da dengue, zika e chikungunya: o Aedes albopictus, conhecido como mosquito-tigre, também pode transmitir as doenças. Porém, ele é menos eficaz na contaminação: o inseto não se dá bem em ambientes urbanos densamente povoados e não tende a picar humanos.

“No entanto, o Aedes albopictus ainda representa uma ameaça significativa para a transmissão dessas doenças nas áreas onde está presente, especialmente porque ele é capaz de se adaptar a uma gama mais ampla de ambientes e pode sobreviver em condições climáticas mais temperadas”, explica Weissmann.

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