A humanidade tem futuro? (por Eduardo Fernandez Silva)

Sim, mas a pergunta correta é: qual futuro? Róseo ou sombrio?  O porvir não está definido; é construído a cada dia. Cabe a cada um de nós, e ainda mais aos que dirigem governos, empresas e outras instituições, decidir e agir para direcioná-lo no rumo “certo”.

São muitas as promessas de que novidades tecnológicas nos trarão um futuro de felicidade, mas, apesar de avanços, não têm sido cumpridas. Afinal, quase 80% dos humanos sofrem com menos de USD$10,00/dia!  Que nosso futuro seja melhor que essa realidade depende, repito, de nossas decisões cotidianas.

Um dos fatos a conformar o futuro é que 93% das crianças de menos de 15 anos de idade, globalmente, respiram ar poluído bem acima dos limites recomendados pela OMS. Sabe-se, ainda, que respirar ar poluído reduz a capacidade mental. Vale dizer, essa é uma forma de (des)inteligência artificial, habitando corpos humanos que deverão competir com a cada vez mais potente inteligência artificial: quem vencerá? E qual o destino dos perdedores?

Pesquisas recentes mostram que o calor extremo impacta o cérebro também reduzindo a capacidade cognitiva. Este fato, apenas mais recentemente analisado por neurocientistas, pode ser reconhecido por quase todos que já nos sentimos lentos física e mentalmente sob forte calor. Sem, é claro, reviver ideologias racistas que atribuíam a pobreza do Sul Global à geografia.

Também são recentes descobertas que mostram o aumento da incidência de Alzheimer, autismo, esquizofrenia, desordem de déficit de atenção e hiperatividade em decorrência tanto de ondas de calor como de eventos extremos, a exemplo de furacões.

O furacão Sandy atingiu a região de Nova Iorque em 10/2012 (causando US$60 bilhões em danos!). Então, Yoko Nomura pesquisava o stress em grávidas. Dez anos após, ela pode comparar crianças que eram então fetos com outras, nascidas antes ou concebidas após o Sandy. Os resultados: crianças expostas ao furacão como fetos tinham, dez anos mais tarde, um aumento de mais de 20 vezes em ansiedade e depressão, comparadas às que não foram expostas, e grande aumento da incidência de distúrbios de atenção e de conduta. Sintomas dessas condições apareceram já aos 4/5 anos de idade.

Nesta indagação sobre nosso futuro devemos levar em conta, pois, a probabilidade de que os humanos que nascerão nos próximos anos tenderão a ser menos inteligentes, mais propensos a problemas psiquiátricos e a ter mais dificuldades motoras, de memória, executivas e de linguagem. Esses nossos filhos e netos terão, ainda, que competir com robôs portadores de sofisticada inteligência artificial. O que acontecerá com essas pessoas tornadas relativamente incapazes, inúteis e descartáveis? Como sobreviverão?

Uma alternativa é gastar menos em armas, tributar os hiper-ricos e adotar a renda mínima universal, de forma que cada pessoa receba, apenas por estar viva, um valor suficiente para sobreviver dignamente. Superando pré-conceitos contra essa ideia e implantando-a, teremos um futuro bem melhor!

 

Eduardo Fernandez Silva. Ex-Diretor da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados

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