O novo presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Igor Calvet, assumirá o cargo na próxima terça-feira (15/4). Em entrevista ao Metrópoles, ele classificou o momento como “desafiador”, ao mencionar os principais desafios do setor automobilístico no Brasil, e destacou o risco vivenciado pela produção nacional, em razão das condições favoráveis concedidas à entrada de importados no país, a exemplo dos carros chineses.
Com tarifas menores, em comparação com mercados internacionais, além dos subsídios e da ausência de custos, geralmente, enfrentados por quem produz no Brasil, os importados, na visão de Igor, estão “tomando de assalto” o mercado brasileiro. O presidente da Anfavea aponta, com isso, um cenário de concorrência desigual, com possibilidade de consequências diretas nos investimentos futuros das montadoras no país.
“Eu tenho dito duas expressões. Eu tenho dito pilhagem, que eu sou contra a pilhagem no mercado, e tomar de assalto, porque entrar no mercado brasileiro de maneira desigual, competitivamente desigual, estabelecendo preços que nós não temos certeza, tornando a competição cada vez mais difícil, é tomar de assalto o mercado brasileiro, é não ter rentabilidade, é querer conquistar o mercado às custas de quem está aqui produzindo, com custos diferentes”, diz Calvet.
Veja trecho da entrevista:
O presidente da Anfavea mencionou, inclusive, que a associação já está investigando a venda de carros importados a custo baixo no Brasil, com o intuito de identificar se há ou não a chamada prática de dumping, ou seja, venda de produtos a preços abaixo do custo de produção, com o objetivo de eliminar a concorrência e conquistar mercados.
“Ao fazer isso, você desestrutura o mercado. E ao desestruturar o mercado, você, primeiro, fecha a torneira do investimento das empresas que já estão aqui. Eu vou investir para quê? Eu vou investir meu dinheiro, meu capital, em algo que lá na frente vai me trazer um problema e não tenho retorno desse capital? Então, essa torneira começa a fechar. E no segundo momento, o que acontece? Você acaba com a concorrência. Por quê? Porque você pratica preços que são irreais e ao acabar com a concorrência, você depois vira ou um oligopólio ou um monopólio, o que é muito ruim também”, expôe ele.
Tarifas menores que outros países
O Brasil é hoje um dos 10 maiores produtores de veículos do mundo. Calvet diz, no entanto, que, ao contrário de outros mercados, como Estados Unidos, Índia e União Europeia, o país ainda não elevou as tarifas, visando o controle da chegada dos “entrantes chineses” ou, até mesmo, a imposição de condições igualitárias, conforme as taxas e custos enfrentados pela produção nacional.
“Todos esses países, no que diz respeito à concorrência com esses novos entrantes chineses, elevaram as suas tarifas. Os Estados Unidos, por exemplo, agora, 104% — 140%, dependendo do cálculo que você fizer. O Canadá estava com 6%, por exemplo, de tarifa para os veículos elétricos; a Índia, 75%. A União Europeia, depois de uma avaliação dos subsídios à China, começou a taxar em até 48%”, exemplifica Calvet.
“E o Brasil, hoje, 18%. O que quer dizer isso? É dizer que nós, dos mercados produtores, somos o mercado mais aberto. Esse é o primeiro ponto importante. E por ser mais aberto — do ponto de vista de mercado, é o sexto maior do mundo —, é claro que esse excesso de produção de algum lugar viria para o Brasil, porque nós estamos abertos”, complementa o presidente da Anfavea.
Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida por Igor Calvet ao Metrópoles: