Além de responder pelo desvio de mais de R$ 350 mil do caixa do condomínio Residencial Monte Carlo, em Águas Claras, no Distrito Federal (DF), a ex-síndica Daniele Nóbrega é apontada pelos moradores por usar parte desse dinheiro para financiar compras variadas para uma esmalteria, localizada em Ceilândia. A denúncia reforça a suspeita que o esquema envolvia uma vasta rede de beneficiários de fachada.
De acordo com relatos de moradores e documentos obtidos pelo Metrópoles, o espaço moderno e com acabamento em vidro, fica próximo à vidraçaria do pai da acusada. Em 2023, as contas do condomínio registraram gastos de cerca de R$ 15 mil em vidraçarias, sem que houvesse justificativa visível no condomínio para tais gastos.
“Quando analisamos as notas e os pagamentos, percebemos que muito material de construção, vidro, tinta e acabamentos não tinham correspondência com obras no condomínio. A conexão com a esmalteria foi inevitável”, afirmou morador.
Outro ponto que chama atenção nos documentos que apresentam a prestação de contas, são gastos categorizados como “despesas de manutenção” e “outras despesas”, mas que, quando analisados, constam como transferências para um cabeleireiro que trabalha no estabelecimento citado.
Entenda o caso
- Moradores de Águas Claras acusam ex-síndica de desviar dinheiro do condomínio;
- Irregularidades incluem uso de Pix de familiares e falsificação de cheques;
- Dinheiro teria sido usado em obras pessoais e pagamentos sem comprovação;
- Documentos indicam depósitos a parentes e recibos sem nota fiscal;
- Polícia apreendeu celulares e computadores ligados à suspeita.
Moradores do edifício Residencial Monte Carlo, em Águas Claras, acusam a ex-síndica Daniele de desviar recursos do condomínio por meio de transferências indevidas, falsificação de assinaturas em cheques e ocultação de documentos.
A mulher foi presa na semana passada (16/4), em Cocalzinho de Goiás, Entorno do DF. Ela nega as acusações (leia mais abaixo).
A desconfiança surgiu durante reunião informal entre condôminos, há cerca de um mês e meio. Após uma assembleia extraordinária, na qual a síndica propôs a cobrança de taxa extra de R$ 40 mil para supostamente realizar um “bate-fofo” (uma das etapas prévias de recuperação de fachada em prédios revestidos com pastilhas). Por ser de caráter emergencial, a obra deveria ser coberta pelo fundo de reserva do condomínio.
Inicialmente, houve certa relutância e demora por parte da síndica para providenciar a prestação de contas do condomínio no ano de 2024. Quando foi disponibilizado, mesmo que em parte, o documento apontou o uso de chaves Pix de familiares da ex-síndica, cheques com assinaturas variadas e recibos emitidos sem nota fiscal.
Segundo relatos, há indícios de pagamento a “prestadores de serviços” que não atuaram. A quantia desviada seria de cerca de R$ 200 mil, além de uma dívida de R$ 150 mil em impostos não pagos.
Um dos moradores menciona que o fundo de reserva está deficitário há pelo menos três anos, embora seja prevista arrecadação de aproximadamente cerca de R$ 38 mil por ano.
A análise das movimentações financeiras foi feita com o apoio de uma moradora com experiência em controle contábil, que organizou os dados por categorias: por exemplo, CPF – foram localizados cerca de seis recibos com assinaturas distintas e o mesmo destinatário.
Entre os valores identificados, constam depósitos para parentes da ex-síndica, consultas médicas, despesas com materiais de construção utilizados em obras particulares, como em uma esmalteria associada ao nome da suspeita, dentre outros.
Condições do condomínio e desdobramentos
Além dos desvios alegados, os moradores relatam abandono da infraestrutura predial. O prédio está sem seguro desde janeiro, e os sistemas de combate a incêndios estão com problema, como extintores vencidos e sprinklers sem funcionamento.
Daniele deixou o apartamento às pressas na semana em que os documentos começaram a circular no grupo do condomínio. A Polícia Civil do DF (PCDF) realizou busca e apreensão em endereços ligados à ex-síndica e recolheu celulares e computadores.
Novo síndico e conselho fiscal foram eleitos, e a nova gestão contratou um advogado, com intenção de recuperar valores e o controle administrativo do prédio.
O que diz a defesa
A reportagem procurou o advogado de Daniele, que negou as acusações. Em nota, ele afirma que “há uma falácia sendo construída no sentido da prática de fraudes, ardis e subterfúgios para locupletação de valores” e que a cliente sofre com um “lamentável equívoco”.
A defesa afirma que a suposta fraude não ultrapassa R$ 5 mil – valor inicialmente alegado nos processos, e menciona decisão judicial que indeferiu o pedido de prisão preventiva feito pela autoridade policial.
“O amadurecimento da persecução penal demonstrará a inocência”, diz o advogado. “Ao contrário do que foi informado por outros veículos midiáticos, nossa cliente está no Distrito Federal, em local conhecido pela Justiça, à disposição dos órgãos de persecução.”
A apuração segue em andamento. A reportagem continuará atualizando as informações com os responsáveis pela investigação.