Durante a gravidez da segunda filha, no fim de 2022, a professora Kayleigh Walker, então com 37 anos, começou a sentir dores nas costas e no pescoço muito intensas. A situação foi piorando progressivamente com o passar das semanas, até que ela não conseguia nem dormir por causa do incômodo.
O sinal, que já era uma manifestação de um câncer de mama avançado, foi ignorado pelos profissionais de saúde que a atenderam ao longo de meses.
De médicos a fisioterapeutas, os profissionais que Kayleigh buscou creditaram as dores à gravidez. Entretanto, a situação piorou tanto que ela se tornou incapaz de levantar a filha mais velha. Mesmo quando deixou o trabalho pela incapacidade de se manter de pé por tanto tempo e sentindo um caroço crescer em suas costas, os médicos preferiram não fazer exames complexos de imagem pelos riscos de um raio-X em uma gestante.
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Principais sintomas do câncer de mama
Aparecimento de nódulo, geralmente indolor, duro e irregular, nas mamas.
Edema na pele, que fica com aparência de casca de laranja.
Retração da pele.
Dor.
Inversão do mamilo.
Descamação ou ulceração do mamilo.
Secreção transparente, rosada ou avermelhada que sai do mamilo.
Linfonodos palpáveis na axila.
Sinais ignorados e sofrimento prolongado
A dor persistente, inicialmente tratada com analgésicos leves e fisioterapia, evoluiu para espasmos e imobilidade. Kayleigh deixou o trabalho e passou a depender de cadeira de rodas para se locomover em casa sem sentir tantas dores.
Segundo ela, a incapacidade de suportar a dor foi vista muitas vezes como “frescura”. Outros sintomas começaram a aparecer, mas mesmo com sinais como um caroço no braço, protuberância na nuca e sensação constante de cansaço, não houve investigação mais profunda.
Foram sete meses de dor até que Kayleigh encontrou um nódulo no seio direito. Foi só nesse momento que uma ressonância magnética foi autorizada. O resultado indicava câncer de mama metastático, já avançado e espalhado pelos ossos. O câncer, do tipo triplo-negativo, costuma afetar especialmente mulheres jovens.
“A metástase se apresenta quando o tumor que estava na mama aparece no fígado, no pulmão e em outros locais. Essas recidivas são mais comuns em subtipos mais agressivos, como os HER2 e os triplo-negativos, e eventualmente nos luminais”, diz o mastologista André Mattar, membro da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM).
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Kayleigh descobriu o câncer após ter dores nas costas extremamente intensas
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Ela fez uma cirurgia logo após o parto para colocar 11 pinos em suas costas
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“Muitas grávidas têm seus sintomas negligenciados durante a gestação”, alerta ela
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A britânica precisou se locomover de cadeira de rodas por conta da doença
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Atualmente, ela monitora o câncer para controlar os efeitos da metástase, especialmente nos ossos
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Diagnóstico tardio e cesariana de emergência
Os exames foram realizados na 30ª semana de gestação, no início de 2023. O caso dela era tão grave, porém, que duas de suas vértebras tinham se esfarelado e se deslocado, causando as dores intensas nas costas. O câncer ósseo havia avançado tanto que estava difundido por quase todo o corpo.
Como ela corria risco de paralisia permanente devido ao colapso das vértebras, foi necessário realizar uma cesariana de emergência. Por isso, Rosie, sua segunda filha, nasceu com 1,35 kg na 30ª de gestação.
Após o parto, os exames mostraram o impacto da doença. “Eu tinha os ossos de um homem de 80 anos. Fraturei o braço levantando uma chaleira para fazer uma xícara de chá enquanto esperava a cirurgia”, contou ela no Instagram.
Luta contínua e exames frequentes
Foi feita uma cirurgia que colocou 11 pinos na coluna de Kayleigh. Além disso, ela fez tratamentos de imunoterapia direcionadas para reduzir o tumor. Embora tenha conseguido conter o avanço da doença, a mulher ainda não teve remissão completa.
Desde então, a rotina da mãe inclui tomografias e ressonâncias magnéticas a cada três meses. Os resultados, embora estáveis por ora, não trazem tranquilidade: “É uma longa espera entre os exames e tento não deixar o cérebro preencher as lacunas”.
Kayleigh tem como objetivo transformar a experiência em ferramenta de conscientização. “Espero que meu caso empodere outras mulheres a insistirem quando sentirem que algo está errado com o próprio corpo”, declarou.
O desejo é que mais gestantes aprendam a reconhecer sintomas fora do comum e exijam investigações adequadas. “Não somos super-heroínas. Precisamos ser ouvidas e cuidadas”, reforça.
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Câncer de mama é uma doença caracterizada pela multiplicação desordenada de células da mama causando tumor. Apesar de acometer, principalmente, mulheres, a enfermidade também pode ser diagnosticada em homens
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Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), há vários tipos de câncer de mama. Alguns têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem lentamente. A maioria dos casos, quando tratados cedo, apresentam bom prognóstico
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Não há uma causa específica para a doença. Contudo, fatores ambientais, genéticos, hormonais e comportamentais podem aumentar o risco de desenvolvimento da enfermidade. Além disso, o risco aumenta com a idade, sendo comum em pessoas com mais de 50 anos
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Apesar de haver chances reais de cura se diagnosticado precocemente, o câncer de mama é desafiador. Muitas vezes, leva a força, os cabelos, os seios, a autoestima e, em alguns casos, a vida. Segundo o Inca, a enfermidade é responsável pelo maior número de óbitos por câncer na população feminina brasileira
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Os principais sinais da doença são o aparecimento de caroços ou nódulos endurecidos e geralmente indolores. Além desses, alteração na característica da pele ou do bico dos seios, saída espontânea de líquido de um dos mamilos, nódulos no pescoço ou na região das axilas e pele da mama vermelha ou parecida com casca de laranja são outros sintomas
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O famoso autoexame é extremamente importante na identificação precoce da doença. No entanto, para fazê-lo corretamente é importante realizar a avaliação em três momentos diferentes: em frente ao espelho, em pé e deitada
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Faça o autoexame. Em frente ao espelho, tire toda a roupa e observe os seios com os braços caídos. Em seguida, levante os braços e verifique as mamas. Por fim, coloque as mãos apoiadas na bacia, fazendo pressão para observar se existe alguma alteração na superfície dos seios
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A palpação de pé deve ser feita durante o banho com o corpo molhado e as mãos ensaboadas. Para isso, levante o braço esquerdo, colocando a mão atrás da cabeça. Em seguida, apalpe cuidadosamente a mama esquerda com a mão direita. Repita os passos no seio direito
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A palpação deve ser feita com os dedos da mão juntos e esticados, em movimentos circulares em toda a mama e de cima para baixo. Depois da palpação, deve-se também pressionar os mamilos suavemente para observar se existe a saída de qualquer líquido
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Por fim, deitada, coloque a mão esquerda na nuca. Em seguida, com a mão direita, apalpe o seio esquerdo verificando toda a região. Esses passos devem ser repetidos no seio direito para terminar a avaliação das duas mamas
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Mulheres após os 20 anos que tenham casos de câncer na família ou com mais de 40 anos sem casos de câncer na família devem realizar o autoexame da mama para prevenir e diagnosticar precocemente a doença
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O autoexame também pode ser feito por homens, que apesar da atipicidade, podem sofrer com esse tipo de câncer, apresentando sintomas semelhantes
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De acordo com especialistas, diante da suspeita da doença, é importante procurar um médico para dar início a exames oficiais, como a mamografia e análises laboratoriais, capazes de apontar a presença da enfermidade
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É importante saber que a presença de pequenos nódulos na mama não indica, necessariamente, que um câncer está se desenvolvendo. No entanto, se esse nódulo for aumentando ao longo do tempo ou se causar outros sintomas, pode indicar malignidade e, por isso, deve ser investigado por um médico
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O tratamento do câncer de mama dependerá da extensão da doença e das características do tumor. Contudo, pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e terapia biológica
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Os resultados, porém, são melhores quando a doença é diagnosticada no início. No caso de ter se espalhado para outros órgãos (metástases), o tratamento buscará prolongar a sobrevida e melhorar a qualidade de vida do paciente
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Desconhecimento sobre sintomas menos comuns
Walker admite que não sabia que o câncer de mama poderia se manifestar com dores na coluna ou no pescoço. Por isso, atualmente ela tenta divulgar os sintomas da doença metastática, que são muitas vezes negligenciados.
Geralmente, os sintomas são mais evidentes quando o câncer afeta órgãos como ossos, pulmões, fígado ou cérebro. No entanto, alguns sintomas podem ser comuns a vários órgãos, como fadiga, perda de apetite e perda de peso. Quando atinge os ossos e pulmões (metástases mais comuns), as dores e a falta de ar são os sintomas principais.
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